
Irlanda diz sim à legalização do aborto
Vice-cônsul em SP comenta fim da ilegalidade com 66,40% dos votos, em referendo histórico. Por Juliana Resende
(São Paulo, brpress) – Enquanto o Brasil segue refém de suas próprias escolhas (ou falta delas), a Irlanda acordou mais livre nesta segunda-feira, depois que o “sim” pelo fim da ilegalidade do aborto venceu com 66,40% dos votos.
,Foi mais um histórico referendo, realizado na última sexta-feira (25/05) – 35 anos depois de a emenda que tornava a lei que proibia o aborto ainda mais rigorosa venceu com 66,90% dos votos.
Mobilização
O referendo pela legalização do aborto mobilizou opiniões, campanhas e companhias aéreas, trazendo emigrantes ao país para votar, em proporções maiores que o referendo para o casamento gay, em 2015.
Só era possível votar pessoalmente, mas funcionários do governo irlandês em missões diplomáticas em outros países puderam votar nas embaixadas. É o caso da vice-cônsul da Irlanda em São Paulo, Jill Henneberry, de 29 anos, há nove meses no Brasil.
Sim em tränsito
“Votei sim”, entusiasma-se. “Mas confesso que senti por não poder estar lá in loco e viver a atmosfera e a energia que tomaram conta do país”.
O Irish Times resume o resultado: “A ilusão de uma Irlanda conservadora e dogmaticamente católica foi pelos ares”.
Jill concorda com o que diz o maior jornal do país, apesar do tom exagerado da manchete. Sua felicidade, no momento da entrevista exclusiva à brpress, só não era mais evidente devido à preocupação se conseguiria voar para Dublin, onde nasceu.
É que que voos em quase todos os aeroportos brasileiros estão sendo cancelados por falta da combustível devido à greve dos caminhoneiros.
“Estamos vivendo num mundo em que é perigosa a regressão dos direitos das mulheres. É sempre importante avançarmos, ganhando terreno nestas questões”, ressalta a vice-cônsul.
Mudanças radicais
Não são poucas as mudanças vividas nos últimos 10 anos na República da Irlanda. Há cerca de um ano, o Taoiseach (termo em gaélico para primeiro ministro) Leo Varadkar, de 39 anos, tornou-se o primeiro premiê abertamente gay do país e o segundo da União Europeia (a primeira foi a islandesa Jóhanna Sigurðardóttir, de 2009 a 2013).
Varadkar assumiu sua homossexualidade durante a campanha pelo direito ao casamento gay, que também recebeu o sim da maioria dos irlandeses, há três anos.
Oba-oba?
Há quem diga que foi feito muito oba-oba com a legalização do casamento LGBT na Irlanda e mesmo depois, com a ascensão de Varadkabr ao cargo mais importante do executivo do país.
“É bom lembrar que ele foi eleito indiretamente e é conservador em direitos reprodutivos”, afirmou o belga Koen Slootmaekers, coautor do livro The EU Enlargement and Gay Politics (‘A Expansão da União Europeia e a Política para Gays’, em tradução literal) a esta repórter, ao ouvi-lo para reportagem sobre a ascensão de políticos LGBT na Europa, publicada pela Folha de S. Paulo.
(Juliana Resende/brpress)
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Atualizada em 08/04/2025