Quando vamos acordar?
(brpress) - Deputada italiana, ainda em licença-maternidade, trabalha levando o bebê ao Parlamento ciente da urgência dos projetos de lei para Europa. Igualzinho no Brasil, não? Por Leda Lu Muniz.
Leda Lu Muniz*/Especial para brpress
(brpress) – Em quase todos os jornais e agências de notícias, uma foto chamou a atenção do mundo para o Parlamento Europeu. A deputada italiana do PDL, Licia Ronzulli, ainda em licença-maternidade, e com sua filha Vittoria, nascida em 10 de agosto passado, amarrada ao peito por uma espécie de “bolsa canguru”, compareceu e participou de toda a sessão do Parlamento em Strasburgo, para poder votar todos os projetos de Lei que determinam a vida da Europa neste final de 2010 e início de 2011.
O Parlamento Europeu é composto por 736 deputados representando os 27 países da União Europeia e agrupados de forma transnacional por partidos políticos ou coligações partidárias.
Maternidade
Pois bem. na Itália (país de origem da deputada e que ela representa no Parlamento), a mãe tem por direito a licença-maternidade de três meses, após o nascimento da criança.Os recém-nascidos após esse período acompanham as mães no trabalho (com o direito a duas horas de intervalo durante o horário de trabalho para a amamentação) ou ficam com avós ou em creches. As mães européias normalmente não dispõem de babás, já que esse tipo de serviço custa muito caro em todo o Velho Mundo.
Esta é a lei relativa a maternidade para uma trabalhadora comum. E uma deputada é considerada na Europa uma trabalhadora como qualquer outra, portanto com direito a tais benefícios como todas as outras mulheres. Do que se pode ver, a deputada abriu mão desses direitos.
Motivos
Qual motivo levou a euro deputada a comparecer a uma sessão do parlamento, abrindo mão de sua licença-maternidade, provavelmente levando seu bebê por não dispor de alguém que cuidasse deste, já que está fora de sua cidade e país? (Vale lembrar que o Parlamento fica em Strasburgo, escolhido por ser um local neutro e geograficamente central).
Responsabilidade? Por representar um partido e um país que depositaram confiança nela através do voto?
Cidadania? Por ser consciente de que as votações são abertas e públicas (não secretas, como no Brasil) e que seus eleitores estão “de olho” para cobrar as suas ações prometidas em campanha?
Exemplo? Para servir de exemplo para as mulheres e cidadãs a participarem e não abrirem mão de seu poder de voto?
Consciência? Por ter consciência que seu salário é pago pelo cidadão, e que, portanto, este mesmo cidadão espera que ela cumpra o papel para o qual foi eleita, acima de qualquer benefício ou direito individual?
Vergonhosa comparação
Em tempos de eleições, em que os candidatos no Brasil, “pregam” tanto sobre cidadania, ética e ações em favor do bem comum, cabe notar algumas diferenças básicas cruciais a respeito desses conceitos.
A ausência dos parlamentares nas sessões do senado e da câmara são tão habituais para os brasileiros, que já ninguém se lembra mais que esses “funcionários do povo” e “pagos pelo povo” deveriam trabalhar como todos os brasileiros de bem deste país.
Serve de piada a frase de que a semana em Brasília acaba na quarta-feira (quando não há feriado e “ponte” para emendar).
Para os cidadãos mais interessados, checar a lista de presença não causaria nenhuma surpresa. Fica mais fácil contar quem está presente do que os ausentes.
As palavras Consciência, Responsabilidade, Cidadania, Exemplo tornaram-se rótulos para marqueteiros na ânsia de vender melhor o seu “candidato-produto”.
Política como missão
Alguns grandes homens e mulheres ao longo da história provaram com a própria vida que a política é uma missão. Com nuances pacifistas mais ou menos acentuadas, alguns marcaram de forma indelével o curso da humanidade, mostrando toda a própria habilidade em pensar no bem comum, na construção da paz.
Mas não é necessário relembrar os heróis. Basta ter gravada na mente a imagem de uma simples deputada, trabalhando, com um bebê no colo.
(*) Leda Lu Muniz trabalhou durante 15 anos na área de Relações Institucionais e Internacionais da União Europeia, é mestre em Sociologia, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais. Fale com ela pelo e-mail [email protected], pelo Blog do Leitor ou pelo Twitter @brpress.