Cenário complicado
(Londres, brpress) - Maior parte da mídia ocidental vem festejando o que percebe como vitória de seus aliados, mas realidade é muito mais complexa. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Neste momento, a maior parte da mídia ocidental vem festejando o que percebe como uma vitória de seus aliados libios, frente a “42 anos de tirania de Kadafi”. No entanto, a realidade é muito mais complexa.
Informes contraditórios
O fato de que as forças líbias pró-Otan tenham conseguido entrar em vários pontos de Trípoli e declarem controlar a maior parte da capital, isso não assegura uma vitória.
Vários dos iniciais otimismos da oposição vêm sendo amenizados por alguns veículos da mídia ocidental. A BBC anuncia que não é certo que “rebeldes” controlem 90% da capital (como se chegou a afirmar), que há várias zonas onde não conseguem entrar e são repelidos à bala, e que alguns “insurgentes” falam em abandonar estas zonas, onde não se sentem seguros.
Um dos filhos de Kadafi, que tinha sido anunciado como preso, reapareceu e está livre, assim como o ditador e a maior parte de seus ministros, familiares e homens de confiança.
O governo nacional de transição, que a maior parte das potências européias e norte-americanas reconhecem como o legítimo da Líbia, ainda permanece em Bengazi e não foi transferido para Trípoli.
Efeito Iraque?
É uma incógnita o que se passou com vários batalhões de elite do regime, que, supunha-se, protegeriam Trípoli. Não há informações sobre massivas deserções e não se pode descartar que o próprio Kadafi tenha desejado que seus inimigos cheguem à cidade onde está para emboscá-los, assim como aconteceu em Bagdá, em 2003.
No entanto, o cenário líbio é diferente do iraquiano. Primeiro porque não há presença de tropas estrangeiras e Trípoli não tem tantas linhas de comunicação com o resto de seu país.
Refugiando-se nas ruas, janelas e esconderijos da capital, muitos oficiais do exército pró-ditador podem se fazer passar pelos bombardeios da Otan e produzir baixas nas tropas inexperientes e confiantes em sua própria vitória.
Por outro lado, Kadafi mantém suas forças na cidade onde nasceu (Sirte) e outras da zona central da Líbia – que é a base da tribo (como Sabha). Comenta-se ainda que forças em seu poder poderiam chegar a Trípoli, vindo de Zlitan.
Transição
De outro lado, não se sabe o que pode acontecer caso Kadafi seja derrotado. A Otan quer que o país seja administrado pelo governo nacional transitório, liderado por altos funcionários que serviram a Kadafi até meio ano atrás, que conclamam os insurgentes a não se vingarem dos oficiais da ditadura.
Contudo, a coalizão é muito instável e heterogênea. Há três semanas, esta começou a investigar a raiz do assassinato do general Yonis, ex-número dois de Kadafi, que comandava as tropas rebeldes.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e PolíticaEconômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latinapela London School of Economics. É um dos analistas políticoslatino-americanos mais publicados do mundo. Tradução de AngélicaCampos/brpress. Fale com ele pelo [email protected] ou pelo Twitter @brpress.