Havel e Kim: dois opostos
(Londres, brpress) - Ambos faleceram em dezembro. tinham idades similares (o primeiro 75 anos e o segundo 6 anos a menos), mas encarnavam processos antagônicos. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Em 18 de dezembro, faleceu o primeiro presidente da república pós-socialista tcheca, Václav Havel, e no dia seguinte se anunciou a morte de Kim Jong-il, líder da república socialista da Coreia. Ambos tinham idades similares (o primeiro 75 anos e o segundo 6 anos a menos), mas encarnavam processos antagônicos.
Anticomunista
Havel foi um dos principais intelectuais dissidentes anticomunistas da Europa do Leste e o homem que encarnou a “revolução de veludo” de 1989, que produziu a substituição do partido comunista tcheco por um regime liberal e privatizante. O fim da economia estatizada e planificada também levou à divisão entre tchecos e eslovacos. Havel aceitou este divórcio pacífico e foi um dos líderes orientais que mais lutou para que seu pais e região entrassem para a União Europeia.
No início dos anos 90, tive a oportunidade de ver Havel numa praça de Praga, capital que estava coalhada de bandeiras dos EUA – algo impensável na América Latina, onde o liberalismo não era um movimento popular de massas e, mais que isso, gerava protestos sindicais. Vargas Llosa, que compartilhava com Havel similar vocação literária e orientação política, havia então perdido as eleições presidenciais peruanas.
Passadas duas décadas, todas as vinte e tantas repúblicas euro-orientais são pró-mercado e a grande maioria tem regimes anticomunistas, pró-OTAN e pró-UE, assim como desejava Havel.
Stalinista
Kim, ao contrário, encarnava o principal reduto do stalinismo no planeta. Enquanto que Alemanha, Vietnã e Iêmen se reunificaram e todos hoje são pró-mercado, a Coréia manteve sua divisão, obtida com milhões de vitimas. Enquanto o sul emula o capitalismo japonês, o norte tem maiores restrições ao capital que Cuba, China ou Vietnã.
A Coreia do Norte possui uma área pouco maior que a do Sul (mas esta tem o dobro da população e uma renda per capita 20 vezes maior), mas seu regime autárquico e autocrático se vangloria de ter uma sociedade menos desigual e com melhor distribuição de renda.
A Coreia do Norte possui armas nucleares e o quarto exército, em tamanho, do mundo (o qual comemora ter infligido várias derrotas aos EUA). A China e a Rússia a protegem, ainda que a Coreia do Norte não tenha se rendido às reformas pró-ocidentais como o fizeram seus dois colossais vizinhos.
Este também é o único Estado não-monárquico onde o poder, vitalício, vem passando de pai para filho, algo que se repetirá agora com o terceiro filho de Kim Jong-il, Kim Jong-un, que tem menos de 30 anos de idade.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.