Vargas Llosa disseca anticolonialismo de diplomata ‘gay’
(brpress) - Nobel de Literatura biografa britânico Roger Casement em O Sonho Celta, lançado depois de sua visita ao Brasil. Por Valmir Costa.
(brpress) – O Prêmio Nobel de Literatura 2010, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, de 74 anos, lança, no próximo dia 04 de novembro, em Madri, o livro O Sonho do Celta. A obra discorre sobre o diplomata britânico supostamente gay Roger Casement (1864-1916). Antes, o primeiro escritor latino-americano a receber o Nobel desde o mexicano Octavio Paz, premiado, em 1990, Vargas Llosa participa de uma conferência no evento Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, nesta quinta (14/10), com ingressos já esgotados.
Com 500 mil cópias, o livro será distribuído em todos os países de língua espanhola pela editora Alfaguara. Roger Casement denunciou vários abusos contra os direitos humanos cometidos no Congo, durante a colonização pela Bélgica. Além disso, viajou à Amazônia peruana para denunciar a exploração dos seringueiros com a extração da borracha.
Controvérsia
Casement foi cônsul também no Rio de Janeiro, Santos (SP) e Pará. Pelo seu trabalho, recebeu o título de Sir. No entanto, em 1916, Casement foi acusado do Reino Unido, por ter se rebelado contra o Império Britânico e passou a defender a independência da Irlanda, sua terra natal, o que o levou a ser preso, condenado e executado por traição. Além de ser acusado de traidor, disseram ter encontrado em seu diário diversos casos de sexo com outros homens.
“Casement é um personagem que incomoda muito aos próprios irlandeses, porque existe uma lenda controversa sobre alegadas práticas sexuais homossexuais atribuídas a ele”, afirma Llosa. “Nunca se sabe se há uma base na realidade ou como parte de uma operação de inteligência britânica para desacreditá-lo”.
Visionário
Mas não é a suposta homossexualidade de Casement que o levou a escrever a biografia do diplomata britânico. “Eu me encantei pela vida tão diversa e aventureira de Casement, um anticolonialista e grande defensor dos direitos humanos, que se antecipou muito a seu tempo”, disse o escritor, à Agência France Presse. “Roger Casement foi um dos primeiros europeus que tinham uma consciência clara do que foi o colonialismo, denunciando seus abusos”.
Para o diretor da Alfaguara no Brasil, Roberto Feith, o escritor Mario Vargas Llosa merecia o Nobel há tempos: “Mais que merecido, é um Nobel tardio, pela amplitude, originalidade e qualidade da obra de Vargas Llosa. Além de ser um grande romancista, ele é um intelectual versátil, lúcido e erudito, que acompanha a política latino-americana com um olhar sempre original.”
Outros livros
Segundo Feith, outros três romances antigos do autor serão publicados no Brasil no ano que vem, em novas traduções (entre eles, A Festa do Bode). Outros três títulos antigos já foram comprados pela editora, que tem dez livros publicados de Vargas Llosa, com uma venda total de 179 mil exemplares desde 1996 – 105 mil deles só de As Travessuras da Menina Má, de 2006. A Objetiva, do mesmo grupo da Alfaguara, acaba de publicar Sabres & Utopias, coletânea de seus artigos e ensaios políticos.
(Valmir Costa, do MundoMais/Especial para brpress; colaborou Juliana Resende/brpress)