

Rubem Fonseca, mestre dos simplesmente humanos
(brpress) - Ex-policial, escritor contava suas histórias com realismo quase jornalístico, desenvolvendo uma estética literária cinematográfica onde a violência é uma condição humana, sem qualquer glamourização nem idealismo.
(brpress) – Brutalista. É como o crítico literário Alfredo Bosi define a literatura de Rubem Fonseca, morto nesta quarta (15/04), aos 94 anos de ataque cardíaco. O motivo da alcunha é a brutalidade com que o escritor, ex-policial, contava suas histórias com realismo quase jornalístico, desenvolvendo uma estética literária cinematográfica estrelando tipos simplesmente humanos. Histórias sem final feliz ou idealismo. Somente o mundo ou submundo nu e cru. Na obra de Fonseca, a violência é uma condição humana, sem qualquer glamourização nem apologia.
Um dos mais celebrados de seus livros, Feliz Ano Novo (1975) foi best seller e seguidamente censurado pela ditadura militar que o escritor então apoiara. Liberado somente dez anos depois, conta a história de dois garotos que invadem uma mansão no réveillon e praticam toda forma de crimes, inclusive sexual.
“O que mais choca no livro e que incomodou muita gente é que quando o dono da casa diz aos invasores ‘pode levar tudo’, eles ficam ainda mais violentos”, diz o jornalista Reinaldo Azevedo, que foi aluno de Alfredo Bosi. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Agosto e Mandrake
O romance histórico Agosto (1990) é o livro mais conhecido porque virou minissérie da Globo (1993). Rubem Fonseca é o ídolo dos roteiristas pois sua linguagem é naturalmente cinematográfica, principalmente quando mergulha no mundo do crime. Afinal, o escritor foi delegado de polícia.
Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um personagem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral, além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi transformado em série pela HBO , com roteiros de José Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o ator Marcos Palmeira no papel-título.
Em 2003, venceu o Prémio Camões, o mais prestigiado galardão literário para a língua portuguesa. Rubem Fonseca escreveu até 2018. Que os ‘fonsequianos’ preecham o vácuo que será deixado por este grande criativo.
Comentários: