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Ronald Biggs: o fato de poder respirar ar puro como um homem livre era precioso. Foto: DivulgaçãoRonald Biggs: o fato de poder respirar ar puro como um homem livre era precioso. Foto: Divulgação

Ronald Biggs: a última entrevista

(Londres, brpress) - Aos 82 e com a fala paralisada, o famoso ladrão de trens falou sobre a edição revista e ampliada de Odd Man Out: The Last Straw, e e vida. Por Juliana Resende.

(Londres, brpress) – O mais famoso ladrão de trens do mundo, o inglês Ronald Arthur Biggs, morto aos 84 anos na última quarta (18/12), deu para a brpress sua última entrevista publicada no Brasil (pela revista Rolling Stone), quando lançou, aos 82, a edição revista e ampliada de sua autobiografia Odd Man Out: The Last Straw (MPress, 464 págs., £19,99, somente em inglês), com pompa e cirscuntância, em Londres, na Shoreditch House, em novembro de 2011.

    Mr. Biggs compareceu ao evento, apinhado de jornalistas, mesmo com a saúde debilitada – ele não falava mais devido a enfartos e se comunicava escrevendo – um agravamento do quadro já frágil que o levou a obter alvará de soltura do governo britânico em 06 de agosto de 2009, dois dias antes de seu 80o. aniversário.

    Foi a primeira aparição pública para a imprensa de Ronnie, como o ladrão-cantor-celebridade-bon vivant (ele viveu 35 anos no Rio de Janeiro) é carinhosamente chamado, desde que saiu da prisão. E ele prometeu que seria a última.

    Desde que foi preso em 08 de agosto de 1963, com mais 15 comparsas, pelo maior roubo da história do Reino Unido, Ronnie Biggs começou a construir o mito em torno de si mesmo. Rebelde convicto, sua personalidade controversa começou a se esboçar já em 1947, quando se alistou na Royal Air Force (RAF), sendo dispensado com desonra, em 1949, por deserção.

Isso é um assalto

    Depois de ferir gravemente um empregado, os ladrões se apoderaram de 2.6 milhões de libras (cerca de R$ 7.3 milhões), um recorde para a época. Biggs foi preso e condenado a 30 anos de prisão. Ele conseguiu fugir da prisão em 1965 e, depois de mudar de aparência graças a uma cirurgia plástica, viveu na Espanha, Austrália e no Brasil.

    Falido e muito doente – mas nunca arrependido pelo roubo (o que lhe valeu o primeiro pedido de liberdade condicional negado pelo então primeiro ministro britânico Jack Straw), ele decidiu se entregar às autoridades britânicas em 2001, depois de ter permanecido foragido durante todo este tempo, legalmente impossibilitado de ser extraditado do Brasil para o Reino Unido.

    Sua viagem de volta à terra natal, num jato fretado, foi paga pelo jornal The Sun, que também teria desembolsado mais de 44 mil libras (cerca de R$ 124 mil), além das despesas relativas à viagem, em troca de exclusividade pela história.

Novas peripécias

    O novo livro trouxe atualizações da autobiografia de 1994 e ainda informações sobre seus primeiros anos da vida no crime, fatos desconhecidos do Grande Roubo do Trem, como o episódio é conhecido (assim, com maiúsculas), sua escapada fenomenal da Her Majesty’s Prison Service, e sua fuga permanente, durante todos estes anos.

     Em Odd Man Out: The Last Straw, Biggs narra também os dias recentes na prisão, as doenças, uma tentativa de sucídio, sua soltura e os dias depois de passar cerca de oito anos encarcerado.

    Além de Ronnie Biggs, estiveram presentes no lançamento seu filho brasileiro Michael Biggs, o co-autor Chris Pickard e “amigos” – que incluem ex-integrantes do grupo punk Sex Pistols e o cineasta Julian Temple, cujo filme The Great Rock ‘n’ Roll Swindle tem vocais de Biggs.

    Confira abaixo a entrevista exclusiva que ele condeceu à brpress, por email, após o lançamento.

Por que o sr. se empenhou em atualizar o livro Odd Man Out: The Last Straw? Foi sua ideia incluir novos fatos de sua vida após ter voltado ao Reino Unido?
Ronald Biggs – A primeira edição de minha autobiografia foi lançada em 1994, portanto, tinha mais 17 anos de histórias para contar. Também queria corrigir e atualizar, além de acrescentar informações ao livro.

Quais são as mais importantes, incríveis e desconhecidas histórias incluídas na nova edição?
Ronald Biggs – É difícil para mim saber o que as pessoas vão achar incrível; para mim, é simplesmente a minha vida – embora minha vida não tenha sido nunca simples, normal e, espero, nunca entediante. Mas há muita coisa desconhecida no novo livro, algumas tristes e barra-pesada, já que os novos capítulos falam da minha doença, da morte de amigos, da minha tentativa de suicído, do meu retorno ao Reino Unido e do tempo que passei na prisão. Há muita coisa nova para ler, prometo a vocês.

O sr. tem algum arrependimento na vida – por ter feito ou deixado de fazer alguma coisa? Caso pudesse, faria algo de maneira diferente?
Ronald Biggs – Aqueles que não me conhecem têm dito que não tenho arrependimentos, mas isso não é verdade. Sempre me arrependi pelo sofrimento que causei com minhas ações, e, especialmente, à minha própria família e amigos. Mas não me arrependo de ter tomado parte no Grande Roubo do Trem, já que o episódio abriu todo um novo mundo para mim. Sem isso, e sem ter escapado da prisão, nunca teria passado anos na Austrália e no Brasil. Amei esse tempo. Caso pudesse fazer algo de forma diferente, tentaria manter minha família original unida [em 1960, casou-se com Charmian Brent, tendo com ela três filhos e a família se desfez quando ele fugiu para o Brasil] – mas se fosse o caso, não teria tido Mike [o filho brasileiro de Biggs com a dançarina Raimunda de Castro, Michael Biggs].

O sr. tem saudades do Brasil? Nunca pensou em voltar?
Ronald Biggs – Tenho saudades do Brasil todos os dias. Tenho saudades do Brasil, tenho saudades do Rio, tenho saudade de meus amigos brasileiros e tenho saudades de ver o Flamengo batendo o Botafogo! (Sou Flamengo e Mike é Botafogo). Tristemente, minha saúde nunca me permitiu que eu voltasse ao Brasil, mas mantenho contato por meio do Mike e amigos sobre o que está rolando. Além do mais, ainda posso ouvir minha música brasileira a qualquer momento. Mike me levou para assistir à animação Rio e para ver o Brasil jogar no estádio do Arsenal. São chances de “matar saudades”.

E como está sua saúde agora? Como está lidando com as consequências dos enfartes?
Ronald Biggs – Minha saúde realmente é precária e tenho de viver um dia após o outro. Nunca me recuperarei das sequelas deixadas pelos enfartos; então, sei que tenho pouco tempo.

Ainda há coisas que o sr. deseja fazer e/ou realizar, ou mesmo algo que queira ver transformado em realidade?
Ronald Biggs – Imponho a mim mesmo pequenas metas, mas meu maior desejo é ver Charmian de novo e, esperançosamente, meus outros filhos. Se pudesse ainda conhecer meus netos australianos, isso seria um grande bônus.

Quais são seus planos após o lançamento do livro?
Ronald Biggs – Recolher-me para minha cama! Depois de todo o agito e excitação antes e durante o lançamento, teria de reservar tempo para minha recuperação. Não tenho planos de fazer nada além disso.

Conte-nos o que faz para aproveitar seu tempo como um homem livre.
Ronald Biggs – Gostei de preencher meu tempo escrevendo o livro. Mas também aproveito para ver filmes a que queria assistir e para ler livros que nunca consegui acabar.  Também tive a oportunidade de encontrar velhos amigos, até alguns que fiz no Brasil. Porém, acima de tudo, aprecio o tempo que posso passar com Mike e sua família, e ainda ter a chance de brincar com minhas netas brasileiras. É algo que nunca pensei que aconteceria.
Minha respiração pode não estar boa, mas o fato de poder respirar ar puro como um homem livre é extremamente precioso para mim.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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