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Amor sem barraco não é amor

(brpress) - "Acabamos numa boa", me diz a amiga W., uma das tantas moças de fino trato que me elegeram confidente. Sim, sei, conta outra para ver se acredito. Por Xico Sá.

Xico Sá*/Especial para brpress

(brpress) – “Acabamos numa boa”, me diz a amiga W., uma das tantas moças de fino trato que me elegeram confidente. Tudo bem, sou todo ouvidos, escuto imperturbável e sereno como uma caricatura do doutor Sigmund Freud baforando o seu charuto. 

Ela prossegue: “Sem drama mesmo, sabe?”. 

Sim, sei, conta outra para ver se acredito. 

Nunca achei que fosse possível terminar de uma forma tão tranqüila e sem mágoas, continua W. sem parar de falar, compulsiva, com sua narrativa sob suspeita.

Ah, conta outra, amiga, desconfio no meu inoxidável silêncio de ouvidor-geral dos corações aflitos.

A mulher com W maiúsculo, como naquela canção do Mundo Livre S/A, narra ainda: Acabar assim é ótimo, agora temos toda a tranqüilidade para cuidar das coisas práticas sem aquela loucura no juízo?.

Na minha silenciosa caixola de confidente, agora toca baixinho outro refrão: Que mentira, que lorota boa. Essa é do Luiz Gonzaga, um clássico , não sei pensar sem fundo musical, mania antiga, caro(a) leitor(a).

Ela fala mais que o homem da cobra, um Pentecostes de conversa, sempre com a mesma tese: acabamos numa boa, numa “nice”.

Conta outra, minha querida, pensa que eu nasci ontem e de sete meses?

Ah, toda vida que alguém me conta que pingou o ponto final em um relacionamento sem as dores de sempre, ligo o botão de todas as dúvidas e suspeitas. 

 O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

 Nem no Crato, Brumadinho, Mimoso ou Estocolmo, na Suécia. 

 Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” com o dedinho no gelo sem uma quebradeira monstruosa. 

 Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava. 

 O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim. O mais relaxado dos latinos se acaba no bolero de Bienvenido Granda, com suas angústias e perfumes de gardênias. O mais zen dos brasileiros acaba com os mananciais da água que passarinho não bebe. E tome Roberto, Waldick ou Chico Buarque, no caso dos mais finos. 

 O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo. 

 O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro traste que aparece pela frente.

 Acabar numa boa é como nada tivesse havido. Conta outra que só acredito no amor dos corações em permanente barraco. 

& MODINHAS DE FÊMEA

Elas se embelezaram e se enfeitaram para esperar seus maridos! Q coisa linda. Mirem-se no exemplo das mulheres dos mineiros chilenos. Sim, também rolou aquele caso da amante que esperava um deles na beira do poço profundo. 

 Acontece. A legítima esposa soube da pulada de cerca e resistiu a fazer as honras na saída do seu homem do buraco. Em um período de 69 dias acontece de tudo. Viver, muitas vezes, é ficar preso dentro de uma mina do destino. 

(*) A coluna Modos de Macho & Modinhas de Fêmea, do jornalista Xico Sá, é fornecida com exclusividade pela brpress. Fale com ele pelo e-mail: [email protected] , pelo Blog do Leitor ou pelo Twitter @brpress.

Xico Sá

O jornalista e escritor Xico Sá, é autor dos livros Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Ed. Record), Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias (Ed. do Bispo), entre outros. Suas crônicas foram licenciadas pela brpress ao Diário do Nordeste, Diário de Pernambuco, O Tempo e Yahoo Brasil.

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