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Como inventar um final feliz

(brpress) - Neste fim de ano lembrei muito de Ilia, encanto de moça, musa do mar Mediterrâneo que não gostava das tragédias, preferia sempre um epílogo de felicidade para tais histórias. Que 2010 seja um ano narrado pela generosa prostituta grega. Por Xico Sá.

Xico Sá*/Especial para brpress

(brpress) – Neste fim de ano lembrei muito de Ilia, encanto de moça, musa do mar Mediterrâneo, grega que não gostava das tragédias, preferia sempre um outro final para tais histórias. Daí, contava o mais triste das desgraças caseiras, como Édipo-Rei, por exemplo, sempre com epílogo de felicidade. Ninguém matava ninguém, muito menos filho e pai, a mãe só entrava no meio e, no “the end”, todos espocavam champanhe no litoral.

Conheci Ilia em Nunca aos Domingos, filme de 1960, mais velho do que este gagá que vos fala, dirigido por um bravo Jules Dassin, homem perseguido nos EUA por causa das suas ideias generosamente comunistas.

Ilia é uma bela e caridosa prostituta. Quando gosta mesmo de um cara, não cobra nada. Em um bar na beira do cais, brinca de transformar o trágico em leveza. Os marinheiros e demais convivas riem abestalhados com tamanha graça da fofa.

Ela ama a vida, desde que nunca ouça o que chama “a voz de domingo”, a conversa fiada do homem apaixonado que lhe pede em casamento. Ela quer apenas se divertir. E pronto.

Mas eis que chega Homero, um norte-americano abestalhadíssimo que vai para a Grécia estudar as razões da derrocada do macho daquele país. A pretensão é entender porque um povo tão sábio, cujos professores foram Sócrates e Aristóteles, entre outros bambas da filosofia e da arte, está entregue à farra e à esbórnia.

Ele tenta, de todas as maneiras, tirar Ilia daquela vida. Só o conhecimento salva, pensava o besta. A loira (a atriz Melina Mercouri) até que cai um pouco no conto do mala. Pequeno drama.

Mas o lindo é que continua convicta na sua forma de narrar qualquer história que um dia tenha sido trágica. O final, para a galega, terá sempre que ser feliz e litorâneo. E tudo acaba na beira-mar, diz a gênia. Da mesmo forma como acabou 2009, com fogos e festas espalhados pela costa, apesar dos rastros iniciais da crise, apesar de alguns desgostos, sabotagens e pés-na-bunda.

E que 2010 seja um ano narrado pela generosa prostituta grega, que até admite as dores do mundo, as inevitáveis nódoas da rotina, mas que a tragédia não vingue nunca com toda a sua ira possível.

& Modinhas de fêmea

Passa o bofe, supostamente um bom partido. As amigas julgam as suas qualidades, quase lhe atribuindo uma nota, como nós homens sempre fizemos com as gazelas.

Alguém pergunta na mesa, beira-rio e beira-mar de Pernambuco, euforia de Réveillon à vista, o que acha do tipinho macho que desfila.

Dina, uma das mais empolgadas, conclui: “Eu não tenho tipo, eu tenho é pressa”. Isso é que é fome de viver.

Fica valendo o mantra para o novo calendário que chega.

(*) O jornalista e escritor Xico Sá, é autor dos livros Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Ed. Record), Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias (Ed. do Bispo), entre outros livros. Fale com ele pelo e-mail: [email protected] ou pelo Blog do Leitor, no site www.brpress.net .

Xico Sá

O jornalista e escritor Xico Sá, é autor dos livros Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Ed. Record), Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias (Ed. do Bispo), entre outros. Suas crônicas foram licenciadas pela brpress ao Diário do Nordeste, Diário de Pernambuco, O Tempo e Yahoo Brasil.

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