Morte a crédito
(brpress) - Uma moça tão linda e negociando jazigos como uma “commoditie”. Papo mais excitante, não? Por Xico Sá.
Xico Sá/Especial para brpress
(brpress) – O pombo-correio – ou será o corvo postal de Edgar Allan Poe? – insiste em deixar na minha casa o diabo de um envelope mal-assombrado. Sempre a mesma mensagem, mala direta do outro mundo, marketing da velha corcunda da foice: “Venda de jazigos. Promoção por tempo limitado. Invista na sua tranqüilidade.”
Basta pegar o envelope que já começo a sentir dores estranhas e palpitações, ainda mais quando a correspondência chega junto com o aviso de atraso no pagamento do plano de saúde. “Deixar tudo para a última hora sempre significa pagar mais”, alardeia o folder do terror. “O Cemitério do Morumby fica em uma das áreas mais nobres da cidade, com excelente localização e fácil acesso, integrado de forma harmoniosa ao lado de prédios e construções sofisticadas”.
Ah, bom, que alívio, que maravilha ser engavetado em uma das áreas “mais nobres” de SP! Nascer lá no Cariri e ser sepultado em terreno de luxo, cercado de VIPs, é mesmo uma saga e tanto! Luxo e riqueza em um ambiente cinco estrelas. Com direito a um lindo epitáfio tirado do Dicionário de Citações, do Paulo Ronái, ou de Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, de outro Paulo, o amigo Coelho.
Mas de tanto insistirem com a mala direta do além, decidi procurar aquele “investimento diferenciado”, como dizia o folheto. Saí em busca dos corretores de plantão no “stand de venda”. Planos facilitadíssimos. Até dez vezes para pagar. Jazigos a partir de R$ 9.500,00, fora as gavetas, fora a taxa de manutenção anual.
“Ótima localização, bairro chique”, dizia uma vendedora. Só faltou dizer que me daria o céu, meu bem, como na canção do Rei e no ótimo livro de Ivana Arruda Leite.
“Um investimento que só valoriza”, insistia, como estivesse vendendo um terreno na frente para o mar. Logo eu, que nunca investi nem mesmo no “over-nigth” –lembram? – no tempo da inflaçãozona a 120 por hora.
Uma prosa pra lá macabra. Uma moça tão linda e negociando com uma “commoditie” dessas, pensei. Vai chegar em casa e dizer ao namorado: “Benhê, vendi doze túmulos hoje, veja que maravilha!” Papo mais excitante, não?
Mas para que eu fechasse o negócio ( naquele momento já havia me conformado com o destino), fiz uma última pergunta:
“Escuta, meu amor, esse plano funerário tem alguma carência?” A musa gótica sorriu da minha inocente indagação e respondeu:
“Imagina, querido, você pode usar o jazigo assim que fechar o contrato. A partir de amanhã cedo…”
Cliente morto não paga. Me vi ali, tristão no ataúde. Lembrei de uma velha reportagem, em parceria com o fotógrafo Fred Jordão, assombrações do Recife Velho, quando me fiz de morto, dentro de um caixão e tudo, para denunciar a máfia dos “papa-defuntos” e das funerárias.
Depois que a querida Funérea explicou a questão da carência, retornei para casa na dúvida se fechava ou não o negócio. Debaixo da porta, mais uma mala direta do além. Lembrava da corretora e seu olhar mortal de Tanatos. Tão bela e tão sem Eros.
Ah, só compraria se ela me garantisse um velório igual ao do Bertrand, o sujeito do filme O Homem que Amava as Mulheres, de François Truffaut. Que lindas aquelas viúvas velando o coração de um cão vadio!
& MODINHAS DE FÊMEA
Agora é para valer. Já está pronta, testada e aprovada a pílula contra a disfunção erétil da mulher.
Fabricado nos EUA, o tal do Viagra das moças deve ser posto à venda no começo do próximo ano. Depois do milagre farmacêutico, se a fêmea continuar fingindo o orgasmo é por pura safadeza mesmo. Adeus, queridas frígidas!
(*) A coluna Modos de Macho & Modinhas de Fêmea, do jornalista Xico Sá, é fornecida com exclusividade pela brpress. Fale com ele pelo e-mail: [email protected] ou pelo Blog do Leitor.