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Procura-se uma dentucinha

(brpress) - Estão acabando com o charme das dentucinhas. Toda sala de aula tinha sua dentucinha, toda repartição, toda rua, todo clube, todo cabaré, toda casa de tolerância que se prezasse... Por Xico Sá.

Xico Sá*/Especial para brpress

(brpress) – Encontro minha priminha Gorete, a mais sexy da família, um colosso, jeitinho de Lídia Brondi – quem se lembra da gloriosa atriz de O Beijo no Asfalto?

Festa de casamento, aquela fuzarca no reino dos Sás. Meio Ceará e meio Pernambuco na igreja da zona leste de São Paulo. Miro Gorete ao longe com os meus dez graus de miopia e astigmatismo. Passa a noiva, feliz, rumo ao altar, a música arranca lágrimas. Emocionado, pronuncio baixinho: Gorete, Gorete, Gorete…!

Logo depois que o vigário solta o “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza…”, cumprimento a prima, ainda trêmula com o “sim” dos pombinhos.

Que lástima, que infelicidade, que decepção!

Gorete havia “consertado” o melhor da sua anatomia original de fábrica. Não me segurava, desgostoso. Um pesadelo. Naquele momento escorria aos meus pés anos de desejo.

A dentucinha que eu tanto amara dentucinha não mais era. Pensem em uma dor profunda, amigos? Doeu nos ossos.

A festa acabou para mim, o jeito foi beber além da conta e dar aqueles típicos vexames que só acontecem em farras de casamento.

Por essas e por outras reviravoltas dos tempos modernos, é que aproveito para retomar agora mesmo a campanha pela preservação das dentuncinhas.

Estão acabando com essa velha e boa graça do mundo. Não se vê mais uma por aí. Você pode ficar horas de plantão na avenida Paulista, na praça do Ferreira (Fortaleza), na Conde da Boa Vista (Recife), na Afonso Pena (BH), no calçadão de Copacabana… Passa boi, passa boiada, mas nada de uma dentucinha para atiçar os olhos e a testosterona.

Em voga nas últimas gerações, a ortodontia aprumou os dentes de todas elas. Maldição dos infernos.

Essa moda de tudo quanto é arame e aparelho nos dentes não passa mais nunca. E agora não é mais artigo de luxo para crianças e adolescentes de classe média. Empesteou de vez o país, em todos os segmentos.

Tem criatura que mal possui dentes e já pendura lá os ferrinhos. E sai todo mundo falando mole, “baba, baby, falofa”, cuspindo no próximo.

Propaganda eleitoral gratuita urgente: estão acabando com o charme das dentucinhas. Toda sala de aula tinha sua dentucinha, toda repartição, toda rua, todo clube, todo cabaré, toda casa de tolerância que se prezasse… 

Esses milagres da ortodentia limaram uma espécie mais do que graciosa. Exceto a reposição hormonal, ventilador em cápsula capaz de atenuar a quentura senegalesa da menopausa, esses avanços da modernidade não caem bem para as moças.

Já já eliminam de vez o charme das estrias, e todas as mulheres ficam iguais, bundas iguais, peitos do mesmo tamanho, lábios de branquinhas com recheios artificiais para imitar a lindeza da mestiçagem… 

Falar em estria ­­– agora que já aprendi finalmente a diferenciá-la de celulite –, como se constitui num tesão, numa fissura à parte, aquelas listrinhas. Talvez eu tenha herdado esse gosto da pornochanchada nacional, do tempo em que as mulheres gostosas eram demasiadamente humanas e fartas. Como Sônia Braga a ser encoxada no lotação, a ceder gostoso no capinzal dos arrabaldes.

Mas o que está em jogo agora, companheiros, é o fim das dentucinhas. Uma lástima, uma tragédia da anatomia brasuca. Vocês lembram como eram especiais os beijos das dentucinhas? E os dengos orais das dentucinhas? Triste correção. Isso é o que chamávamos antigamente de um crime vulgar e irreparável.

Procura-se, urgentemente, uma dentucinha. Onde você estiver, apareça, sorria, o mundo precisa de você.

& MODINHAS DE FÊMEA

Noite dessas, ouvi de uma moça um desafio: se você acertar o nome desse esmalte eu fico com você. Tentei, tentei e nada. Era algo como “amor ao crepúsculo”.

É, o batismo agora não é pela cor, mas pelo sentido. Tem cada um: Amante, Deixa Beijar, Fofo, Dengo etc etc. Estou decorando, eu chego lá!

(*) O jornalista e escritor Xico Sá, é autor dos livros Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Ed. Record), Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias (Ed. do Bispo), entre outros livros. Fale com ele pelo e-mail:  xicosa@brpress ou pelo Blog do Leitor .

Xico Sá

O jornalista e escritor Xico Sá, é autor dos livros Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Ed. Record), Catecismo de Devoções, Intimidades & Pornografias (Ed. do Bispo), entre outros. Suas crônicas foram licenciadas pela brpress ao Diário do Nordeste, Diário de Pernambuco, O Tempo e Yahoo Brasil.

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