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A bomba relógio

(brpress) - O Egito, grande aliado do Ocidente e principal garantidor da estabilidade no Oriente Médio durante mais de três décadas, entrou em crise. Já era tempo. Por Leda Lu Muniz.

Leda Lu Muniz*/Especial para brpress
 
(brpress) – O grande aliado do Ocidente e principal garantidor da estabilidade no Oriente Médio durante mais de três décadas, entrou em crise. Já era tempo. Afinal, a era dos grandes ditadores perpétuos está em vias de extinção.

O problema se coloca agora para seus aliados (incluindo os Estados Unidos), que se vêem na iminência de desenhar uma estratégia completamente nova e diferente para a região: apoiar Mubarak neste momento pode ser mais perigoso que deixá-lo cair.

As relações entre ambos basearam-se no principio de que tal regime servia como contenção da ira contra Israel . Em troca, os Estados Unidos fingiam “não perceber” o regime ditatorial imposto por Hosni Mubarak. Este sempre defendeu os interesses norte-americanos e recebia anualmente US$ 1 milhão e quinhentos mil, em ajuda militar.

O aliado em números:

– O  Egito , depois de Israel, é o país que mais recebe ajuda dos Estados Unidos.

 _ Desde 1979, o Governo do Cairo se beneficia de  1.470 milhão de euros anuais em ajuda  proveniente de Washington.

– Em 2010, quase 1.000 bilhão de euros foram destinados ao Exército, e somente  184 milhões dedicados  a programas de desenvolvimento.

– O Egito foi  o primeiro país árabe a comprar os aviões F-16, símbolo das alianças políticas do Cairo com os EUA.

Como lembra o professor Fouad Ajami (Johns Hopkins University), “O Egito teve, no século passado uma década de experiência parlamentar e foi capaz de criar bons profissionais e juízes independentes. Existem ainda no Egito, mais do que no Iraque, circunstâncias que permitem construir um sistema que sirva de exemplo na região. Porém, os Estados Unidos deverão tomar a difícil decisão de abandonar Mubarak, com todos os riscos que isso implique, mesmo que ele consiga se manter mais no poder”.

O Egito ocupa uma posição importante no tabuleiro desse grande jogo de xadrez que é o mundo árabe: detém uma cultura milenar, é um eixo sobre o qual roda toda a região; entre os seus intelectuais há vários prêmios Nobel; conta com o maior exército e a maior universidade entre os países árabes.
 
Sua força e tradição institucional serve de modelo para seus vizinhos. Apesar de ter protagonizado três guerras contra Israel, desde que o governo egípcio assinou um tratado de paz com o Estado judeu em 1979, tal acordo é mantido.
 
Sucessores: dois perfis opostos
 
Omar Suleiman – chefe do serviço secreto e nomeado vice-presidente por Mubarak nestes dias, chamado de a “eminência parda” do mundo árabe, treinado na ex-União Soviética –, participou de todos os conflitos entre árabes e israelenses. Chefe da inteligência militar e agora da civil, Suleiman confirma as especulações de que ele seria um possível sucessor de Mubarak.
 
Com a fama de “superagente secreto”, é protagonista de aparatos de segurança internacionalmente. Conta a lenda que os dossiês “mais confidenciais e picantes” estão sobre a sua escrivaninha. Grande parte de sua fama nos anos 90 deveu-se ao papel de mediação no dia seguinte da Segunda Intifada.
 
Por razão deste fato, Suleiman conquistou o respeito da comunidade internacional, tendo à frente Israel e Estados Unidos. Mas a fama maior veio contra o terrorismo radical islâmico, em que protegeu a vida de Mubarak em um ataque em Addis Abeba, em 1995. Será que consegue proteger Mubarak agora?
 
Mohamed El Baradei
 
Ex-chefe da Agencia Internacional de Energia Atômica (IAEA) e premio Nobel da Paz (2005), formado em Direito pela Universidade do Cairo, entrou para a carreira diplomática em 1964, trabalhou em Genebra e Nova York, onde fez o doutorado em Direito Internacional.
 
Em 1980 começou sua carreira na ONU, e ganhou a antipatia de muitos membros da administração Bush, quando, antes da invasão americana de 2003 no Iraque, declarou em alto e bom tom a falta de evidências da presença de armas de destruição em massa naquele país.
 
Por meio de sua postura firme, ganhou a admiração de muitos que trabalharam com ele na Agência. Contribuiu para transformar a AIEA (1997-2009) de um órgão técnico desconhecido em uma agência preparada para enfrentar e assumir posições políticas de destaque referentes a não proliferação de armas nucleares.
 
El Baradei chegou ao Cairo na última quinta-feira ( 27/01) e se colocou no olho do furacão, unindo-se à população nos protestos para a saída de Mubarak. Já na sexta-feira (28/01) foi detido brevemente pela polícia, após rezar em uma mesquita e ter participado de uma marcha pacífica com os manifestantes.
 
Pierre Goldschmidt, que trabalhou com ele como responsável pelas inspeções mundiais da AIEA entre 1999 e 2005, afirmou: “Conhecendo-o, estou convicto que está fazendo isso pelo seu país. Creio que ele pense que tem uma missão lá. Quais as consequências de sua ação é a grande pergunta. Não tenho certeza de quem nem ele mesmo saiba”.
 
El Baradei pediu a saída de Mubarak. E se ofereceu para dirigir essa transição. Afirmou que o Egito precisa de uma nova constituição que respeite mais os direitos humanos e freie o poder.
 
Efeito dominó
 
Mesmo que o mundo árabe seja muito diferente do Leste Europeu sob vários aspectos – religioso, político, geográfico, étnico –, a repercussão de uma revolução no Egito pode disparar com a mesma velocidade das peças de um dominó, a repercussão que a Queda do Muro em Berlim provocou nos países do Leste Europeu.
 
Ao olharmos ao redor desse eixo (Egito), não é difícil visualizar esse dominó : Síria, Jordânia, Líbano, territórios palestinos entre outros. Várias centenas de jovens egípcios que se manifestaram diante da Casa Branca, em Washington, carregavam cartazes dirigidos ao presidente Obama: “Os egípcios, não Mubarak, são aliados”.
 
Parece que Obama e Hillary Clinton entenderam a mensagem e, de acordo com as suas primeiras reações, parecem tender para o lado das manifestantes, numa tomada de posição observadora.

Estamos diante  da dinâmica da história. Fiquemos atentos.

(*) Leda Lu Muniz trabalhou durante 15 anos na área de Relações Institucionais e Internacionais da União Europeia, é mestre em Sociologia, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais. Fale com ela pelo e-mail [email protected] ou pelo Twitter @brpress.

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