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Paul McCartney: “Eu digo que nãoPaul McCartney: “Eu digo que não

Eternamente Paul

(Londres, brpress) - Aos 70, corpinho – e, principalmente, espírito – de 34 –, Paul McCartney está numa fase apaixonada pela vida. E pela música. Por Juliana Resende.

(Londres, brpress) – Aos 71, corpinho – e, principalmente, espírito – de 34 –, Paul McCartney está numa fase realmente apaixonada pela vida. E pela música. Por isso, não perguntamos se seu penúltimo disco, Kisses on the Botton (Universal), poderia ser o último. “A única certeza que temos é de que esse papo soa como lorota de algum produtor inescrupuloso”, debocha o ex-Beatle. Paul está lançando um novo álbum, New.

    Mas foi em fevereiro de 2012, que tivemos a honra de entrevistá-lo: esta que vos escreve foi a única jornalista brasileira presente na coletiva com jornalistas de todo mundo  (a convite da revista Época). O álbum Kisses on the Botton – com apenas duas músicas inéditas, My Valentine, com participação de Eric Clapton, e Only Our Hearts, com Stevie Wonder, e regravações de standards dos anos 50 em estilo jazzy-retrô – foi o motivo do histórico encontro, numa tarde londrina chuvosa de janeiro, no discreto e charmoso The Hempel Hotel.

    “Toda vez que saio em turnê, alguém me questiona sobre parar”, continua Paul, com um ar enfadonho que, por um minuto, camufla sua simpatia e vivacidade. “Eu digo que não, não pretendo me aposentar, e não sei quando ou se vou parar algum dia”, diz, questionando como pode sequer cogitar pendurar as chuteiras com tamanha dose extra de energia recebida do público? “Vejam os shows recentes que fiz na América do Sul – uma incrível quantidade de gente, com um astral muito eletrizante”, exemplifica, sorrindo para o lado da mesa onde estão representados México, Colômbia e o Brasil.

Romântico

    Embora Kisses on the Botton tenha sido resultado desta energética inspiração, muito do disco teve a ver com o clima romântico daquele momento (Paul se casou pela terceira vez em outubro de 2011), traduzido pelas canções escolhidas pelo ex-Beatle e pelos produtores, o veterano Tommy LiPuma e a cantora, pianista e compositora Diana Krall, que cedeu sua banda para as gravações, feitas parte nos lendários estúdios da Capitol Records, em Los Angeles, parte em Londres e Nova York.

    Resgate pessoal e sentimental de canções que fizeram e fazem parte da história de vida de Paul McCartney, ele revela que o disco foi gravado no mesmo esquema que os Beatles gravavam, “sem nada muito fechado até chegar ao microfone”. Ele ressalta o trabalho de Diana Krall como fundamental na seleção das músicas: “Ela dedilhava um arranjo no piano e já sabíamos o que entrava e o que saía e nossa conexão foi muito boa, incluindo os feras da banda dela, como o guitarrista John Pizzarelli”.

    Paul rasga elogios aos músicos e atribui ao virtuosismo deles a qualidade sonora do disco.

Memórias

    Além de as canções serem parte da memória de Paul – da infância, com seu pai tocando ao piano “e a família toda cantanto junto”, ou já nos Beatles, “com John e coisas que ele ouvia porque a mãe gostava” –, ele revela que eram também referências para os Fab Four. “Algumas estavam sempre no background de coisas que escrevíamos. Há um pouco delas em músicas dos Beatles como Honey Pie, Here There Everywhere e Close Your Eyes. São nossas influências. As estruturas de nossas composições, minhas e de John, eram comparadas às estruturas  destas canções – faziamos uma introdução diferente, com pegada rock n’roll”, ensina.

    Paul vai lembrando do passado e dando um depoimento memorável: “Quando conheci John e começamos a tocar juntos, foram essas músicas que fizeram com que nos interessássemos um pelo outro primeiramente”, conta. “Foram estas músicas que traçaram uma direção em comum para as novas canções que compusemos”. 

Inspirações

    Kisses on the Bottom trouxe canções de Sam Cooke (Home – When Shadows Falls), Ella Fitzgerald (It’s Only a Paper Moon), Danny Kaye (The Inch Worms), com direito a coral infantil, e abre com I’m Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter, sucesso de 1935, na voz do cantor e pianista Fats Waller – “sou um grande fã dele e adoro a maneira como ele se leva pouco a sério, apesar de ser um grande músico”, diz Paul. É de um dos versos desta faixa que o ex-Beatle tirou o divertido título do disco, “Beijos no Traseiro” (em tradução livre), mas que, de acordo com a letra da canção, que fala sobre escrever uma carta de amor a si mesmo, com ”a lot of kisses on the bottom” (“muitos beijos no rodapé”), ganha outro sentido.

    “Eu amo estas canções”, diz Paul, ao revelar que sempre quis fazer um álbum como este, mas sempre alguém fazia antes. Robbie Williams, Rod Stewart e até Ringo fez um disco parecido, Sentimental Journey. O diferencial, segundo ele, é o fato de as  canções escolhidas não serem tão conhecidas – nem pelo próprio ex-Beatle. “Por exemplo, More I Cannot Wish You, do musical Guys and Dolls”.

    Paul revela ainda que o modo suave como canta no disco vem de um antigo ídolo, Fred Astaire: “Gostava de imitar a sonoridade de sua voz – que muitos consideravam pequena –, mas confesso que me inspirei muito nessa suavidade em Kisses on the Bottom. Essa técnica acabou dando o tom do album”, diz, citando também Harold Arlen, George Gershwin e Cole Porter como influências. “É como o filme O Artista. Mostra bem esta era que adoro, com estilo, música e arte inteligentes”, comenta, fazendo uma analogia da estética dos anos 20 até a dos anos 50, mais adequada ao repertório de Kisses on the Bottom.

    Musicalmente tudo bem, mas, em termos de concepção visual do álbum, a palavra “adequada” soa “óbvia” para Paul. “Muitos diretores de arte queriam que a capa imitasse discos de Dean Martin, Sinatra, etc. Mas achamos de que também deveríamos nos diferenciar”, diz Macca, no plural, porque as filhas Stella e Mary McCartney tomaram a frente em relação à “cara” do projeto. A estilista emprestou o diretor visual de sua grief homônima, Jonathan Schofield, para trabalhar no conceito do álbum, e Mary, conceituada fotéografa de moda, clicou o pai para a capa e todas as fotos promocionais de Kisses on the Bottom (com Paul em meio às flores que contribuem para dar o clima romântico e leve do álbum).

Britânia

    Trata-se, portanto, de um trabalho em família, em prol de uma lenda viva da instituição que é o pop britânico – um dos maiores patrimônios da Terra da Rainha como instrumento do imperialismo cultural, que ultrapassou todas as fronteiras e eventuais barreiras à bordo da Beatlemania. Mas quem esperava rock de Paul decepcionou-se desta vez – ou rendeu-se a apreciar o pendor jazzístico do ex-Beatle puxado pela mão de Diana Krall, num desvio para a América.

(Juliana Resende/brpress)

Leia em Época o que Paul McCartney falou sobre o álbum Kisses on the Bottom e sobre a carreira. 

Leia em Marie Claire sobre Paul McCartney e as mulheres de sua vida. 

Leia em GQ sobre as parcerias de  Paul McCartney e suas lembranças dos Beatles

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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