Nação Zumbi faz carnaval em dezembro

(Recife, brpress) - Na abertura da Feira Música Brasil, a banda seminal do mangue beat arrastou uma multidão ao Marco Zero para gravar seu novo DVD repleto de participações especiais, incluindo o Paralama Herbert Vianna. Por Jarmeson de Lima.

(Recife, brpress) – O Marco Zero do Recife, durante o Carnaval, abriga mais de 60 mil pessoas. Não era carnaval, nem eram mais de 60 mil pessoas, mas foi quase lá. Afinal, quantas bandas se dão ao luxo de arrastar em plena quarta-feira de dezembro uma multidão de milhares de pessoas para ver seu show? Independentemente da resposta, a Nação Zumbi é uma delas.

Comemorando os 15 anos do disco Da Lama ao Caos – obra seminal do movimento mangue beat, encabeçado por Chico Science (1966-1997) –, a Nação Zumbi promoveu um verdadeiro carnaval fora de época no Recife Antigo. Imerso em uma atmosfera incomum se comparada à rotina, o bairro, cujas ruas estreitas não comportam um movimento tão grande de carros, ônibus e pessoas ao mesmo tempo, parou por conta do show da Nação Zumbi, que neste dia gravava seu novo DVD.

E se para alguns era uma noite apenas dedicada a este justo momento, para outros esta era a abertura da Feira Música Brasil, a mais importante feira de negócios da área cultural no país.

Groove e Brown

No final das contas, era um dia de festa, sem dúvida, e que começou prestando tributo ao melhor do groove brasileiro, com a Banda Black Rio. Apesar de não ser a formação original, o grupo, que veio repaginado para a apresentação inaugural da FMB, mostrou talento. Samba, funk e soul dos anos 70 com uma pitada mais moderna deram o tom da noite de shows.

O groove e o embalo dançante começaram a empolgar o público, mas só com a chegada do convidado especial, Mano Brown, do Racionais MCs, foi que a coisa esquentou. Como uma banda de apoio que recriava as bases de hip hop de clássicos do Racionais, a Banda Black Rio levantou o público do local ao executar o hit Diário de Um Detento, cantado por Mano Brown e acompanhado pela multidão.

Móveis e Nação

Tocar após esta breve catarse musical seria um desafio e tanto para qualquer outra banda, se a atração seguinte não fosse o Móveis Coloniais de Acaju. O grupo de Brasília praticamente se sentiu em casa. Esta foi a terceira apresentação desta big band em solo pernambucano neste ano e, sem dúvida, foi a mais empolgante. Embalados pelo lançamento do disco C_mpl_te, reconhecido como um dos melhores do ano.

Mas foi só às 23h30 que o grande público que estava no Recife Antigo viu o tão aguardado momento em que a Nação Zumbi subia no palco. O show era de homenagem aos 15 anos do disco Da Lama ao Caos, um dos mais importantes da década de 90, ainda com a presença do mítico Science, e citado por vários críticos musicais como uma revolução musical no cenário brasileiro.

Antunes e 04

Foram mais de duas horas de show, mesclando músicas dos discos mais recentes com os clássicos revisitados de seu disco de estreia. Uma lista e tanto de convidados fez parte do show. Siba e a Fuloresta começaram as homenagens tocando Nascedouro, do disco Fome de Tudo.

Logo em seguida, surge Fred 04, da Mundo Livre S/A, companheiro mangueboy de sempre, dividindo os vocais com a música Rios, Pontes e Overdrives. Arnaldo Antunes, cantor com quem a Nação Zumbi sempre teve uma boa afinidade estética, participou do show em Antene-se.

O ponto alto da noite veio com a dobradinha da Nação Zumbi com o Paralamas do Sucesso. Duas gerações musicais em cima do palco celebrando a cultura manguebeat. Manguetown, música de Chico Science, que o Paralamas regravou em seu Acústico, levou todo mundo a pular e se emocionar ao ver os dois grupos tocando juntos.

Pouco tempo depois, foi a hora dos malungos recifenses reforçarem o poder de fogo de Selvagem, do Paralamas, que emendou os versos de A Polícia Apresenta suas Armas com Polícia para Quem Precisa. Por sinal, mesmo com toda essa multidão, não houve nenhum incidente violento registrado na noite.

(Jarmeson de Lima / Especial para brpress)