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Andy Morgan é co-roteirista do documentário Terão de Nos Matar Primeiro e autor do livro MusicAndy Morgan é co-roteirista do documentário Terão de Nos Matar Primeiro e autor do livro Music

O Bataclan, o Mali e o front musical

(Bristol, brpress) - Para roteirista de Terão de Nos Matar Primeiro, ataque à casa declara guerra à música. Andy Morgan lembra do show do grupo tuareg Tinariwen no mesmo local.

(Bristol, brpress) – Na mitologia do showbiz francês, o Bataclan é um desses locais de ‘chegada’. Uma vez que você já tocou lá, você sabe que, em termos de showbiz, o navio atracou. Você entra nesse estágio e já pode se considerar um candidato a popstar. Você está no mapa e as pessoas estão falando de você. Você alcançou algo: senão o topo (talvez, ainda há um caminho a percorrer), mas, pelo menos, (bem) além dos barzinhos.

Em muitos aspectos, o Bataclan é o tamanho perfeito de local: não muito grande ou muito pequeno. Um camarote conveniente. Bons ângulos de visão do palco. A pista de dança resistente, é apta para moshs. As instalações sólidas; e os equipamentos utilitários. Todos os sistemas conectados para lidar com superanimados fãs de rock. O Bataclan me lembra do velho Town and Country Club, em Londres. É um lugar excitante para se estar.

E assim foi em 2007, quando o grupo tuareg Tinariwen (da região do Saara, ao norte do Mali, país africano) fez seu primeiro show no Bataclan. Seu terceiro álbum, Aman Iman, tinha acabado de sair e havia todo um hype internacional em torno dele – assim como da banda. A vida era frenética e emocionante. Havia jornalistas, fotógrafos, equipes de TV e uma verdadeira entourage atrás deles. O ônibus da banda estava estacionado do lado de fora da entrada do local. A partir de meados da tarde do dia do show em diante, havia fãs cercando-o.

Amor

Quando Ibrahim [Ag Alhabib, o fundador do Tinariwen] saiu do ônibus para ir passar o som, fãs aglomeraram em torno dele. A maioria deles eram do norte africano. Eles só queria fazer o que os fãs geralmente querem fazer: dizer oi, ganhar um abraço, fazer uma pergunta, tirar uma selfie. Mas foi estranho para Ibrahim e para o resto de nós. Nós não tínhamos realmente nunca tido de lidar com esses tipos de manifestações de amor antes.

Mas aquilo era o Bataclan e o Tinariwen havia chegado lá. E porque eu não tinha estado com a banda quando eles arrasaram em um festival no sul de Marrocos apenas alguns meses antes, eu ainda não tinha percebido o impacto que estavam tendo no norte de África. Presenciei este fenômeno pela primeira lá fora do Bataclan e, em seguida, dentro da casa, com a banda no palco.

Mais tarde, durante o show, percebi que havia bandeiras berberes (conjunto de povos do Norte de África que falam línguas berberes, da família de línguas afro-asiáticas, entre Marrocos e Argélia,  fazendo parte deste grupo os tuaregues) acenando na plateia. Isso também era novo. Era uma manifestação surpreendente e positiva do orgulho cultural do norte da África.

Robert Plant, vocalista do Led Zeppelin (uma das bandas que influenciaram o Tinariwen) havia concordado em fazer uma participação no show. Eu me lembro que ele cantou Whole Lotta Love com uma levada Tamashek (“Povos do Desertos”, em livre tradução), com Yadou detonando o famoso riff deste clássico do rock em seu baixo. Justin Adams também estava no palco. Foi uma noite que eu não vou esquecer.

Ataques

Sexta-feira passada (13/11), mais uma vez, a emoção era palpável no Bataclan. “Eagles of Death Metal hoje à noite – mais um show esgotado!”, proclamava a casa em sua página do Facebook. As pessoas vieram de longe. Estava tudo caminhando para ser uma grande noite – até os primeiros tiros atravessarem os riffs das guitarras. Seria um tipo de “death metal”? dissonante, sem ritmo…

Homens de preto, vestindo máscaras tipo ninja, de uma idade similar à maioria dos que estavam na plateia, tinham chegado para pôr fim a toda alegria e emoção, aquela sensação familiar a qualquer um que foi a um show esgotado. É um sentimento pra cima, de imensa boa sorte, de fazer parte de uma minoria privilegiada, no lugar certo, na hora certa. Mas, em seguida, aqueles caras acertaram esse sentindo na cabeça, assassinando-o.

A declaração do grupo terrorista ISIS, que assumiu aquele e outros atentados em Paris, chamou o que estava acontecendo no “Centro de Conferências Bataclan” de (sic) “uma festa de prostituição depravada”. Como essas palavras soam familiares, com seu significado puritano, calvinista, ecoando para matar a alegria por vastas extensões da nossa história. O cristianismo lutou nessas mesmas batalhas há muitos séculos. Elas ainda estavam sendo travadas na década de 1950. Nós pensamos que tinham sido vencidas.

Batalha

Mas não – essa batalha ainda está sendo travada. E qualquer um que suba num palco seja em Paris, Londres, Madrid, Melbourne, Mumbai ou Osaka está agora na linha de frente dessa batalha. A música em si é o front.  Toda a comunidade global de músicos, promotores de shows, gestores, roadies, engenheiros de som, seguranças, vendedores de merchandising, empregados de bares, assessores de imprensa, relações públicas, jornalistas musicais – estamos todos na linha de frente.

Tome coragem. Nós temos que ganhar. A alternativa é muito triste para ser considerada: a vida sem alegria, alívio, união. A vida sem música.

(*) Andy Morgan é co-roteirista do documentário Terão de Nos Matar Primeiro (They Will Have to Kill Us First, 2015) e autor do livro Music, Culture & Conflict in Mali.

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