Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

George Michael se apresenta no Rock in Rio 2. Foto: DivulgaçãoGeorge Michael se apresenta no Rock in Rio 2. Foto: Divulgação

O privilégio de ver George Michael no auge

(brpress) - Criticado como “pastiche pop”, ele fez um show histórico no Rock In Rio 2 cantando sozinho, naquele palco imenso, sem pirotecnia, para quase 80 mil pessoas. Por Juliana Resende.

(brpress) – Era 1991 e acontecia a segunda edição do Rock in Rio, no Maracanã (e não naquele brejo chamado Cidade do Rock, em Jacarepaguá). Os headliners do festival eram Guns n’Roses, INXS e Faith No More. Havia ainda Happy Mondays, A-Ha e George Michael  (1963-2016) – solo, sem o Wham!, duo nascido como filho kitsch do chique new romantic britânico, que havia sepultado o movimento punk e florescia entre os últimos suspiros da new wave. 

Sim, foi o primeiro e único show no Brasil do cantor e compositor inglês morto subitamente por insuficiência cardíaca neste Natal, aos 53 anos.  Entre a imprensa musical – esta que vos escreve incluída, trabalhando então como repórter para o Jornal da Tarde (SP) e para a revista oficial do Rock in Rio –, ninguém dava nada por George Michael. Achávamos que seria um dos piores shows do festival e ainda criticávamos “atrações pop pastiches”, que em nada honravam o Rock no Rio e roubavam lugar de bandas mais alinhadas já com o brit pop e o grunge. 

Não era uma das primeiras apresentações solo de George Michael divorciado do parceiro do Wham!, Andrew Ridgeley, desde a segunda metade dos anos 80 – um divórcio amigável e consentido, em parte arquitetado pela gravadora da dupla, que já vislumbrava o potencial de Georgios Kyriacos Panayiotou (nome verdadeiro do músico), vale dizer. Mas era certamente o maior público para o qual ele cantara até então: uma multidão ruidosa e sem muitas referências musicais. 

Porém, quando George Michael subiu ao palco e soltou a voz além dos sucessos da época, como a balada Careless Whispers (1984), e mesmo a despudorada I Want Your Sex (1987), do álbum Faith, que vendeu nada menos que 10 milhões de cópias, o cala-boca geral começou. Foi engraçado ver as reações e as caras dos coleguinhas, hipnotizados pela presença magnética do cantor – sozinho, naquele palco imenso, uivando para quase 80 mil pessoas. Ah, aquele verão…  

Brinco e blazer

Michael tinha uma voz linda, era afinado sem ser brega, sabia cantar quase tão bem quanto Freddie Mercury e esbanjava um mix de elegância e simpatia que o fizeram fisgar, nos camarins do festival, a grande paixão de sua vida: o brasileiro Anselmo Feleppa, que veio a falecer de Aids alguns anos depois, com George sempre ao seu lado, declarando publicamente sua paixão num tempo em que ser soropositivo significava a morte.

Naquela noite memorável, George Michael brilhava em sua melhor fase, mostrando a que vinha: trazer um pouco de classe e glamour com um pop sofisticado, num festival com um line-up esquisofrênico (teve até Judas Priest e Information Society). No palco, nenhuma pirotecnia. Apenas, ela, a banda, uma calça jeans rasgada, blazer preto estruturado, um crucifixo de strass numa só orelha e a participação do ex-parceiro Andrew Ridgeley.

Não demorou para que caísse a ficha do privilégio que acontecia diante de nossos olhos e ouvidos: George Michael fazia o show de lançamento do melhor disco de sua carreira: Listen Without Prejudice Vol. 1 (1990), continuação do libelo gay que era Faith, que deu uma das mais libertárias e dançantes músicas dos anos 90: Freedom 90 (obrigatória ainda hoje em qualquer pista ou festa).

Comprando brigas 

George Michael assumia-se como um artista contestador, colocando sua sensibilidade à flor da pele e já esboçando a crise de identidade que o acompanharia dali em diante. Ele queria transformar-se em um cantor mais denso e ainda assim manter as boas vendas. O álbum, mesmo recebendo ótimas críticas, teve a divulgação prejudicada pelo conflito dele com a gravadora Sony, que ele acusou de querer mantê-lo em “estado de escravidão profissional”. 

George Michael perdeu o processo contra a Sony em 1993, mesmo ano em que ele faria outro show histórico: acompanhando o Queen num tributo a Freddie Mercury, que também foi levado pela Aids em 1991. George, que já tinha comprado brigas com Margaret Thatcher, George W. Bush, Tony Blair e o magnata da imprensa Rupert Murdoch, foi preso por atentado ao pudor dentro de um banheiro público de um parque em Bervelly Hills, onde ele se engraçou com um policial à paisana, numa aparente armadilha, em 1998.

Anos de crise viriam mas não o impediram de lançar o disco Patience (2004), que fez pouco sucesso. Recluso e lutando contra consequências de abuso de drogas, que o levaram a outras duas condenações no Reino Unido, doenças decorrentes da dependência e depressão, George Michael se internou numa clínica de reabilitação em 2015 e prometia um novo disco para 2017.  

Com a notícia de sua morte fechando um ano que começou com a partida de David Bowie e levou Prince e Leonard Cohen, muitas pessoas comentaram o quão envelhecido George Michael – que tinha pinta de galã – estava. A imagem que fica, no entanto, é daquele homem bonito e talentoso que deu nobreza ao pop num estádio fervilhando com um calor de 40 graus. 

(Juliana Resende/brpress)

Assista ao vídeo de Freedom 90, estrelado pelas topmodels mais famosas da época como Linda Evangelista, Naomi Campbell, Cindy Crawford, Christy Turlington e Tatjana Patitz:

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate