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Ricardo Alexandre: o rock errou. Foto: curtierecomendo.com.brRicardo Alexandre: o rock errou. Foto: curtierecomendo.com.br

Ricardo Alexandre põe mercado musical em xeque

(brpress) - Em Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar, jornalista narra última ascensão e queda do rock. Por Pedro de Luna.

(brpress) – Duzentas páginas depois, ao concluir o recém-lançado livro Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar – 50 Causos e Memórias do Rock Brasileiro (1993-2008)[Arquipélago Editorial, R$ 34,90], Ricardo Alexandre abre o coração e sem confirmar para quem torce: para o rock, para o mercado fonográfico ou para ambos. O jornalista, que ajudou a fomentar a cena independente nos anos 90, diz ter apenas uma certeza na vida: que só ouve música por amor.

    Será que André Midani também pensa assim?  O famoso executivo de gravadoras tem mais de 80 anos. Ricardo Alexandre quase 40. Enquanto, no passado, Midani foi uma espécie de midas no mercado musical nacional, Ricardo trabalhou a partir de 1993 como jornalista e crítico musical. Se graças ao primeiro o Brasil se desenvolveu como indústria fonográfica chegando a ser um dos mais importantes do mundo, o segundo teve seus dias de luta – e  por que não, alguma glória – para dar espaço ao rock independente num dos principais e mais conservadores jornais do país, O Estado de São Paulo.

Sem sustentabilidade

    Midani e seus sucessores projetaram uma cena repleta de glamour, com cachês milionários e centenas de toalhas brancas  nos camarins, impulsionada por gravadoras multinacionais (as majors) que, nos anos 90, viria a sufocar tudo o que não fosse parido das suas próprias entranhas.  Indústria fonográfica esta que viria a se enforcar tempos depois em seu próprio cordão umbilical.

    Portanto, nada mais lógico que ler o livro Musicas, Ídolos e Poder (Nova Fronteira), de André Midani,  seguido de Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar (Arquipélago Editorial), de autores oriundos de duas gerações tão distintas, com 40 anos de diferença, mas cujos caminhos se encontram e desembocam no beco sem saída em que o rock está hoje.

Águas passadas

    Em seu novo livro, que sucede Dias de Luta – O Rock e o Brasil dos anos 80 (Editora Arquipélago, R$ 39.90) , sobre a geração 80 do rock nacional, Ricardo Alexandre fala sobre os anos 90 se expondo com sinceridade e reconhecendo, por exemplo, que não deu a atenção merecida à cena independente do Rio de Janeiro e deixou tantas outras coisas importantes passarem batidas.

    Se hoje Midani vive com conforto de frente para o mar carioca, colhendo os louros do sistema, Alexandre se desiludiu com a capital e com o capital – cujo sistema, além do palco, também desabou – e voltou a morar na sua pacata Jundiaí (SP), onde costuma sair para pescar com os filhos.

O som da grana

    Entre momentos de “tiração de onda” e relatos de quem estava nos bastidores, a divertida experiência de sobreviver escrevendo sobre discos e shows também revela um certo desapontamento ao descobrir que os interesses financeiros de executivos e produtores se sobrepunham a qualquer romantismo. Descobriu a América? Talvez, essa seja uma boa analogia para um garoto roqueiro que só queria ser repórter musical.

    E tanto Alexandre quanto Midani concordam em suas páginas que o negócio do disco morreu por culpa dos tecnocratas, que substituíram os líderes criativos, justamente por não se preocupar em formar o artista e seu público, e sim com lucros rápidos. Pessoas oriundas de departamentos de marketing de grandes empresas, satisfeitas com uma única canção de sucesso que pudesse rentabilizar de várias formas.

    A história de Alexandre continua de onde a do Midani parou. No ano de 1992, a venda de CDs começava a ultrapassar a de  vinis no Brasil. Enquanto Midani  estava em Nova York, fabricando artistas para o mercado latino, o jundiaiense entrevistava “diretores de marketing que conheciam muito de Peter Drucker (considerado o pai da administração moderna)  e pouco de Pete Townshend (o guitarrista narigudo do The Who)”.

    Se numa época os discos tinham capa grande para encantar, a do CD passou apenas a informar. Copacabana chegou a ter 40 lojas de discos. E as que sobraram, Brasil afora, se tornaram rock shops, vendendo mais camisetas e acessórios, já que o CD migrou para o hipermercado. “Não havia mais lugar para os românticos”, escreve Alexandre.

Revista Bizz

    Outra parte interessante de Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar é a que conta sobre a empreitada frustrada de reativar a revista Bizz, da editora Abril – hoje em mais uma tentativa de ser ressuscitada online –, que havia sido influente em anos anteriores.

    No capítulo dedicado à publicação, o jornalista se desdobra em homem de negócios para tentar criar produtos novos que pudessem ser patrocinados por empresas. O tempo dos simplesmente apaixonados por música se apagava ali.

Autosabotagem

    Em outra passagem, Ricardo se derrete por Rodolfo, ex-vocalista dos Raimundos, a quem chama de “maior letrista da história do rock nacional” (porra, isso é um tremendo exagero, pois Paulo Coelho, por exemplo, também era gênio)  e alguém que “realmente havia aberto mão de algo em nome do que acreditava”.

    Ao se converter a evangélico e largar uma carreira bem sucedida na indústria, Rodolfo “havia chegado no ponto de autosabotagem do rock, aquele em que você se transforma no inimigo que você passou anos tentando derrubar”.

    O autor também se mostra decepcionado ao lembrar que nos anos 90, “todos quisemos subir a escada pulando degraus, como se fosse fundamental aproveitar os ventos passageiros do mercado para se dar bem”.

    De fato, na década de 1990 as grandes bandas de rock do país vendiam centenas de milhares de cópias dos seus discos e ganhavam rios de dinheiro com shows. Hoje em dia, vivemos o tempo dos editais e patrocínios públicos, onde “começaram a surgir personagens no underground de obscura formação cultural, mas aguçada articulação política”.

Fora de tom

    Sem dar nomes, refere-se a casos como o do circuito Fora do Eixo, de jovens militantes que se apropriaram do discurso cultural para reivindicar gordas verbas das máquinas públicas em benefício próprio.

    Ao perceber que já se vão 14 anos desde as últimas músicas com guitarra a se tornarem de fato populares (Anna Júlia, do Los Hermanos, e Mulher de Fases, dos Raimundos), Ricardo chama o que veio depois de “sacaroses sertanejas” (Restart e NX Zero) e considera Pitty a última roqueira do tal “mercado”.

Função social

    Na apresentação do livro, o também jornalista André Forastieri diz que as bandas e as canções de hoje não tem importância social e nunca terão por que “são só música –  tudo o que o rock jamais pode se resignar a ser”.

    Ao afirmar que “o adolescente que abraça o rock em 2013 é conservador por excelência”, “idolatra defuntos e dinossauros” e frequenta megafestivais “aonde você paga para ser bombardeado por megamarketing”, Forastieri se põe como o pessimista admirando um Ricardo Alexandre otimista,  que continua torcendo pelo rock nacional.

(Pedro de Luna/Especial para brpress)

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