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Rock-Brasília, anos 90

(Brasília, brpress) - Diretor Patrick Grosnier enfoca nascer da cena independente, com mambembismo, hard core e boas histórias, no documentário Geração Baré-Cola. Por Pedro de Luna.

(Brasília, brpress) – Na virada dos anos 80 para os anos 90, os roqueiros de Brasília viviam uma situação inusitada. Os músicos consideravam os grupos de sucesso como playboys. Em meio à onda da lambada, não tinham infraestrutura.

    É nesse contexto que o diretor Patrick Grosnier, ao lado da produtora Andrea Gloria, realizou o documentário Geração Baré-Cola – Usuários de Rock. A repor tagem da brpress assistiu ao filme  numa sessão para convidados.

    Intercalando depoimentos nos dias de hoje com imagens da época, o filme foi produzido com recursos próprios e do Fundo de Apoio a Cultura (FAC) – um pouco melhor que a situação dos músicos retratados, que tocavam  com instrumentos baratos, pedais e amplificadores improvisados,  sem shows, carro e equipamentos.

    Baré-Cola deve entrar em circuito comercial em 2014. “Ainda estamos fechando com patrocinadores e distribuidoras. O processo é lento mesmo e nos causa muita ansiedade”, desabafa Patrick Grosnier.
 
It’s a long way to the top….
   
    Para se ter uma ideia do longo percurso que um filme independente percorre, o projeto começou em fevereiro de 2011 e a última entrevista foi realizada em dezembro daquele ano.
   
    “Em agosto de 2012, já estava tudo montado e editado. Tivemos de esperar o edital do FAC do final de 2012 para ter como finalizar em película. Poderíamos ter optado por jogar o filme na web e abrir mão de todo o trabalho, mas tivemos paciência, pois achamos que vale muito a pena ser trabalhado para um lançamento e distribuição profissional”, conta o diretor.

    Para ele, a maior dificuldade vem agora. “Nossa vontade é que as pessoas assistam ao filme e  reconheçam seu valor histórico. Fomos excluídos do Festival de Cinema de Brasília no ano passado e não fomos classificados nem para a Mostra Brasília (uma mostra paralela dos filmes feitos em Brasília). Os curadores não se atentaram para a importância do filme para a verdadeira cultura musical brasiliense que é o rock”, acredita Grosnier.

… if you wanna rock n’ roll

    O diretor continua seu desabafo: “Acho que preferem forró, pagode e axé que vem de outros estados! Em Brasília é sempre difícil que as pessoas que trabalham com cultura aceitem o que é genuinamente brasiliense. Sempre foi assim e o rock sempre foi marginalizado! Depois que algumas bandas se destacam nacionalmente é que passam a ser mais aceitas aqui dentro”.

    “Baré” era a moeda de troca da época. Um refrigerante extremamente doce, em garrafa de cerveja, que custava menos que os de marca. Em clima de redemocratização, o rock de Brasília ganhava novos ares e sotaques. Para ter uma ideia, entre 1992 e 1993 chegaram a ser catalogadas 450 bandas somente na capital.

    Para se apresentar ao vivo, os grupos recorriam a shows nas cidades satélites de Sobradinho, Gama, Ceilândia, além do Teatro Galpão, o Teatro Garagem e o Circo Gran Circular.

Beba gelado

    Certa vez, a banda de hardcore Os Cabeloduro (tudo junto mesmo) tocou num galpão de bebidas, recebendo seu cachê em álcool – sim, em bebida alcoólica –, o que, diga-se, não foi nada mal para quem já gravou músicas  como Pinga com Limão, de óbvia temática etílica.

    A Universidade de Brasília era o grande ponto de encontro, mesmo para os que não estudavam lá. “Nos anos 90, o rock ficou mais democrático e acessível para mais pessoas. As turmas das cidades satélites se misturaram com as turmas do Plano Piloto”, explica Patrick.

Fita de ouro

    Naqueles tempos sem internet, gravar e distribuir eram processos caríssimos. Os rappers do Câmbio Negro, por exemplo, abriam as fitas cassete e cortavam os rolos apenas com a parte da gravação, e colocavam a sobra em outras caixinhas, fazendo o milagre da multiplicação das fitas demo.

    “Vendia-se demo à beça, tipo produção industrial”, lembra Rodolfo, ex-vocalista dos Raimundos. “O Little Quail vendeu 2.500 fitas e eu fazia cada uma artesanalmente lá em casa”, relembra Gabriel Thomaz, que ao lado de Felipe CDC, era considerado um dos desbravadores, já que viajava para o sudeste com a mochila lotada de demos das bandas candangas.

    Como bem lembrou Rodolfo, “primeiro saiu nosso EP e K7, depois é que a gravadora fez em CD”. E olha que estamos falando de 1994, apenas 20 anos atrás. Muito a vontade, o ex-vocalista relembrou vários casos interessantes, inclusive do dia em que a roda de pogo “pegou” seu pai no meio de um show.

    Os demais integrantes dos Raimundos também dão seus depoimentos, além de cederem imagens de época que enriquecem o filme.

Nova geração

    Também vale destacar que foi naquele período que surgiram profissionais de sucesso, como o falecido Tom Capone (1966-2004) que estreou como produtor em 94, e o diretor e roteirista José Eduardo Belmonte, que, na época, dirigiu clipes de bandas como Oz e Low Dream, entre outras.

    Mas, sem dúvida, a cereja do bolo em Geração Baré-Cola são os shows da época. Muitas vezes de colete, calça bag e camisa social pra dentro, os músicos de Brasília iam do rock clássico ao metal, passando pelo hardcore. 

    Restless, Flammea, Detrito Federal, Dungeon, Vernon Walters, Little Quail, Pravda, DFC, Os Cachorros das Cachorras, Kratz, Sunburst, P.U.S., Os Cabeloduro com o baixista pelado e o strip tease de uma prostituta na apresentação d´Os Wallaces, em 95, são algumas destas pérolas. Há ainda uma homenagem a Feijão (1967-1996), o “tiozão” de toda esta galera.

Independência

    Ainda que as opiniões do público possam variar, Geração Baré-Cola tem o mérito de registrar um cenário que vive longe dos holofotes. “O nosso filme é o primeiro que fala destas bandas de Brasília dos anos 90”, diz Patrick.

    O diretor de Baré-Cola  foi encorajado por dois outros longas: A Vida Até Parece Uma Festa, de Branco Melo, sobre os Titãs, e Guidable, de Fernando Rick, sobre o Ratos de Porão.  “Adorei os dois! Entendi que, apesar da falta de qualidade de uma fita VHS, as imagens podem ser consideradas documentais e históricas. O defeito vira efeito. Viva o VHS!”.

    Animado, o diretor pretende lançar o filme em Brasília com muitas bandas tocando depois da exibição. “Vamos mostrar que o rock ainda tem seu lugar garantido na cultura local e nacional”.

    Depois de três longa-metragens sobre o rock brasiliense dos anos 80  – Faroeste Caboclo, Somos Tão Jovens e Rock Brasília – Era de Ouro – , é hora de olharmos para a década seguinte, quando a cena independente começa a se estruturar para valer, com músicos de classe média e baixa, tendo o rock como religião.

(Pedro de Luna/Especial para brpress)

Assista ao trailer de Baré-Cola:

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