Bixiga é fruto de oficinas e sonho
(São Paulo, brpress) - Trunfo do espetáculo– montado com cifras modestas e num grande espírito colaborativo – é ser um musical brasileiro, em meio aos importados. Por Juliana Resende.
(São Paulo, brpress) – Música brasileira orquestrada. Onde ouvir um choro com violinos, um frevo-canção ou até mesmo um xote com um molho de tarantela? No musical Bixiga, que estreou na última sexta (13/08), celebrando os 30 anos do Teatro Sérgio Cardoso. A divertida montagem é 100% made in Brasil e deriva de oficinas ministradas no próprio teatro, aproveitando mão-de-obra cenotécnica.
Em formato de teatro de revista, o musical, com direção geral de Mario Masetti e direção musical do maestro João Maurício Galindo, da Orquestra Jazz Sinfônica – que toca ao vivo a música no espetáculo –, Bixiga é uma ode ao tradicional bairro paulistano, contando sua história, por meio de personagens típicos e músicas, compostas por feras como Nelson Ayres, Ruriá Duprat, Rodrigo Morte e Miguel Briamonte, o “homem dos musicais” (ele assina canções e adaptações de nove entre dez musicais já montados em SP, depois do boom do gênero no Brasil).
Aliás, o trunfo de Bixiga – montado com cifras modestas e num grande espírito colaborativo – é ser um musical brasileiro, fato até então inédito em meio à chuva de montagens importadas que a capital paulista oferece. “O bonito é que estamos compondo música como no século 19”, romantiza Galindo, contando sobre o processo de criação das canções do espetáculo. “É quase uma ópera popular”, festeja o maestro, que se diz “um entusiasta” de projetos como este.
Como Galindo, o diretor Masetti, veterano de montagens nacionais, como Vaporandubas Populares (1975), também está orgulhoso de oferecer ao público e aos atores-cantores-bailarinos um musical popular com Bixiga (os ingressos variam de R$ 10,00 a R$ 20,00): “Não podemos ser somente importadores de espetáculos com a quantidade de talentos disponível no Brasil”.
Em formato de teatro de revista, Bixiga se constrói na miscigenação do bairro paulistano, com italianos, nordestinos e negros entre tapas e beijos, tarantela e caruru, bracholas e vatapá. Personagens antológicos do Bixiga também aparecem em cenas-homenagens, como Dona Iaiá, a Louca, o cineasta Roberto Santos (que se recusou a descer de uma árvore que acabou não sendo cortada) e o “babo” da cantina Capuano, com a folclórica recusa de abrir o estabelecimento depois de fechado para ninguém menos que Juscelino Kubitschek.
Divertimento simples, musicalmente interessante e para todas as idades, Bixiga fica em cartaz por três meses e fomenta um sonho da equipe que realizou o espetáculo: transformar os formandos das oficinas e os atores em companhia estável, especializada em musicais brasileiros. Uma ótima ideia.
(Juliana Resende/brpress)