‘Socialistas’ que mais tempo governam no mundo
(Londres, brpress) - Partido dos Trabalhadores, fundado em 1887, converteu-se na principal formação política do país; terrorista seria da oposição. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – O trabalhismo norueguês, que foi o alvo dos ataques da fatídica sexta-feira (22/07), é o único partido que hoje governa algum país do globo que tenha sido um dos fundadores da Internacional Comunista de Lênin e Trotsky, em 1919. Nenhum outro partido socialista eleito hoje, em qualquer rincão do planeta, superou, como este, os 60 anos no poder (ainda que com interrupções) .
O ‘Arbeidespartei’ (Partido dos Trabalhadores) foi fundado em 1887 e, quatro décadas depois, converteu-se na principal formação política da Noruega. Após distanciar-se da Internacional Comunista, em 1923, voltou-se para a social-democracia.
Em 1928, durante duas semanas, teve um primeiro-ministro e, de 1935 a 1965, quase monopolizou o governo, salvo durante a ocupação nazista de 1940-45, quando continuou encabeçando o governo no exílio, em Londres, e ainda um mês em 1963. De 1971 a 2001, os “vermelhos” vêm administrando a Noruega, salvo em alguns períodos que somam dez anos.
Nos últimos 76 anos, os trabalhistas governaram 60 anos, e somente foram depostos eleitoralmente por seus opositores conservadores, de centro e democrata-cristãos, por intervalos que, juntos, duraram 16 anos.
Mais que Chávez
Nove líderes trabalhistas foram primeiros-ministros. Três deles superaram uma década no cargo, sendo Einar Gerhardsen o que mais tempo governou a Noruega, pois teve vários períodos que somam 17 anos e 17 dias no poder – algo que supera o mandato de Hugo Chávez (que preside ininterruptamente a Venezuela há 12 anos e meio).
A Noruega compartilha, com a Dinamarca e com a Suécia, uma língua ininteligível, um mesmo passado viking e um modelo político. Estes três países formam parte da região europeia que manteve todas as suas monarquias e que, ao mesmo tempo, esteve dominada pela social-democracia que moldou seu generoso estado de bem-estar social: a Escandinávia.
Oposição
No início dos anos 70, fundaram-se na Dinamarca e na Noruega os Partidos Progressistas como antítese do trabalhismo, pleiteando eliminar impostos, desestatizar escolas, hospitais, empresas e serviços sociais, bem como restringir a imigração.
Estes partidos coincidiram com o desenvolvimento de uma nova extrema direita europeia, a mesma que, ainda que se identificasse com as propostas anti-imigrantes e anti-muçulmanas dos neo-fascistas, não organizava atos de confronto nem tinha uma agenda estatizante.
‘Progressismo’
Nas últimas eleições norueguesas, o “progressismo” ficou em segundo lugar, com 24,1%, enquanto o trabalhismo vencedor teve 32,9% dos votos. Anders Behring Breivik, o responsável pela matança de quase 100 de seus compatriotas civis, passou a maior parte de sua vida adulta no “progressismo”.
Ainda que muitos se vejam tentados a interpretar a carnificina como a ação de um “louco”, o certo é que este fato também mostra que existe uma tendência dentro da direita xenofóbica legal para um novo tipo de terrorismo – como o que se deu em Oklahoma (EUA), em 1995.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Tradução de Angélica Campos/brpress. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Twitter @brpress.