
Puglia? Ma che?!
Um roteiro para 'subir “salto' na região no extremo leste da Itália que está literalmente na moda. Por Andrea Kirst
(brpress) – Visitar Apúlia ou Puglia é “subir no salto” da bota. Afinal, esse é o formato do mapa italiano. A região no extremo leste da Itália está literalmente na moda.
O desfile da Dolce & Gabbana, no verão 2023 europeu, só coroou Puglia como um destino chique e descolado.
Mas a região tem estado no radar dos fashionistas desde que a editora Anna Dello Russo deu seu primeiro mergulho entre os mares Adriático e Jônico.
Trulli
Segundo alguns residentes locais, o boom do turismo europeu em Puglia tomou corpo quando empresas aéreas ‘low cost’ começaram a aterrissar por ali (há quase duas décadas).
A bordo, vieram os ingleses dispostos a renovar suas abandonadas fazendas do século 16, denominadas masserias, transformadas em hospedarias de luxo, com casas “simples” de pedra com telhados típicos da região chamados trulli.
Brindisi
O voo de um pouco mais de 2 horas desde Londres sobrevoa os Alpes derretidos com o alto verão europeu.
Daí se embrenha sobre o Adriático beirando a Croácia até cruzar o oceano e chegar no pequeno mas bonito e animado aeroporto de Brindisi – que chama-se Salento, que é também o nome desta parte sul da Puglia.
A temperatura local é de 34 graus e logo descobrimos que um ônibus pode nos levar à estação de trem por 1,10 euro ao invés de 30 euros no táxi.
Lecce
Nosso primeiro destino é Lecce e escolhemos ir de trem justamente porque a viagem é de apenas 30 minutos de Brindisi, com trens partindo de 15 em 15 minutos e custa mais 3,30 euros. Alugamos um carro em Lecce para os próximos destinos e também para salvarmos 80 euros/dia, preço médio de aluguel de um carro popular.
Chegamos fácil e nosso hotel é simples e aconchegante, Na recepção, descobrimos que temos de escolher o que queremos comer no site e fazer o pedido na noite anterior e que estamos a 15 minutos de caminhada do ‘centro storico’.
Gelato
Equipada com minhas roupas mais leves e o endereço da melhor gelateria da cidade, a Natale, nos animamos a caminhar em direção à fábrica de doces e sorvete mais respeitada da cidade (comida na Itália é, sim, questão de respeito).
Natale é imperdível não só pelos gelatos, mas toda a vasta variedade de doces típicos, como o pasticciotti leccesi (um bolinho com massa podre recheado com creme de baunilha delicioso). Vale também provar a seleção de docinhos de amêndoas em vários formatos … Dos deuses.



Santa siesta
E como estamos no final de julho e o calor impera, tudo pára da 1 às 5 da tarde para a siesta – com exceção de alguns restaurantes ou as igrejas que ficam abertas ao público com ingresso pago.
A dica é ir à Piazza del Duomo e comprar o passe que dá direito a visitar as quatro mais importantes de Lecce. A visita aos museus e às igrejas é crucial pela beleza, mas também para se refrescar e descansar.
A fachada e interior da Basilica de Santa Croce são de tirar o fôlego. A construção da Chiesa di Santa Croce foi iniciada em 1353 e só foi concluída em 1695. Ricamente decorada com animais, figuras e vegetais grotescos e uma grande rosácea, a catedral é deslumbrante. Ao lado tem o prédio da prefeitura que era um antigo convento.
Barocco leccese
Lecce é exatamente o que imaginávamos. Chamada de Florença do sul, apesar dessa afirmação ser exagerada, é exatamente a sua despretensão e uma certa imperfeição que a torna interessante.
São mais de 2 mil anos de história, com o apogeu na era barroca – tudo aqui é barocco leccese! –, entre o século 15 e 16, onde os prédios de cores creme construídos em seu típico calcário dão à cidade um charme especial.
Hype fashionista
No entanto (e ainda bem), Lecce está longe de ser um dos carros-chefe do turismo italiano, como Roma, Veneza ou a Costa Amalfitana.
Mas a cidade atrai cada vez mais celebridades – Marisa Tomei e Oliver Stone estavam na área – e, sim, estava lotada de turistas do mundo todo durante nossa visita.
Cada viela se transforma em restaurante a céu aberto depois da 6 da tarde. Um vai e vem delicioso de viajantes e moradores locais, muitos dos quais em sandálias de tiras de couro e vestidos em linho,
Dior
Esse “figurino” e o lugar lembram a atmosfera do desfile da Dior na cidade, em 2020. A marca francesa transformou as ruas de Lecce em passarela para a coleção Cruise 2021.
A ênfase da coleção foi no artesanato e tecelagens locais. A designer da marca, Maria Grazia Chiuri, é italiana e fez questão de divulgar e utilizar recursos locais na época da pandemia de Covid-19.
Mangia che te fa bene
No final da tarde, a pedida é curtir o clima mediterrâneo hi-lo de uma mesa à sombra, com um Negroni ou Spritz acompanhados de azeitonas e taralli (biscoitinhos salgados em forma de anel).
Manere nos petiscos porque depois do aperitivo tem a janta!
Na primeira noite, comemos no boteco Mezzo Quinto de comida típica, barata e deliciosa. Na segunda, seguimos algumas dicas para experimentar a comida regional da Osteria degli Spiriti, que consta no guia Michelin.
O local é central e a decoração bonita, como a de uma antiga masseria. O serviço e o ambiente são descontraídos e a comida ótima. O vinho ajudou a puxar conversa com o casal na mesa ao lado.



Gallipoli
Lecce fica a meia hora da praia, ao leste. Mas (agora sim) preferimos alugar um carro e seguir para a Gallipoli, que será nossa base para as praias da região.
A cidade está localizada à beira do Mar Jônico, na costa oeste da Península de Salento, e é dividida em duas partes: a moderna e a antiga.
A cidade antiga se tornou uma ilha em 1484, quando passou para as mãos dos venezianos. Eles decidiram cortar a faixa de terra que ligava a península de Gallipoli ao continente como estratégia para aumentar as chances de defender a ilha de invasores.
Raízes gregas
Mas nós invadimos a praia da Gallipoli antiga por meio de uma ponte que somente carros pequenos e de moradores têm acesso (além dos tuk-tuks e lambretas).
O fluxo de turistas é constante – na sua maioria italianos, com muitas famílias e adolescentes. Gallipoli lembra a Grécia e os moradores falam um dialeto bem diferente, que tem raizes gregas.
LGBT+ e Santa Cristina
A cidade antiga também é famosa por atrair turistas da comunidade LGBT+ pela abundância de clubes e praias paradisíacas.
Você pode caminhar de um lado para outro da península/ilha em meia hora e ir até as rivieras para assistir aos mais belos pores do sol.
As ruelas, quando não são uma sequência de restaurantes e lojas, têm moradores do lado de fora das casas conversando e grupos de nonas, provavelmente fofocando.
Já na Gallipoli moderna, tivemos a sorte de ter todo o fim de semana de Festa de Santa Cristina. O evento acontece na avenida principal, lotada de barracas com comida típica, entretenimento e as incríveis iluminações coloridas, típicas da Puglia.
Gallipoli é pitoresca, cheia de gente e souvenires em cada esquina. Perfeita para experimentar férias mágicas.
Ostuni via praias
As praias em Gallipoli que visitamos foram Punta della Suina, G Beach e o Lido le Canne. Todas lotadas nesta época do ano (e dizem que ainda mais em agosto).
Bem diferentes em estilo e preços, mas têm em comum o mar azul incrível. Peça dicas no hotel, que geralmente oferecem algum desconto em serviços praieiros e/ou alimentação.
Oliveiras
Cortarmos a península por rodovias cercadas de oliveiras, videiras e vinculas de vinhos típicos chamados Primitivos, rumo a Ostuni, La Città Bianca em italiano.
O branco domina as paredes e a arquitetura da cidade, construída no topo de uma colina e ainda fortificada por antigas muralhas.
As vielas na parte histórica de Ostuni só são transitáveis por pedestres e tuk-tuks. O labirinto branco esconde bares, pizzarias e restaurantes efervescentes (muitos armadilhas para turistas).
Evite a cidade antiga se você quiser uma experiência gastronômica melhor. Duas dicas para se comer bem: Paragon 700, no largo Michele Ayroldi Carissimo, 14, e Al Solito Posto, na Via Cesare Braico, 37.

Invasão britânica
No mais, aproveite a deslumbrante vista do mar Adriático e as masserias pugliese – estas que atraem tantos estrangeiros.
Ostuni é a quinta cidade da Itália com maior porcentagem de residentes britânicos e a primeira em venda de casas e vilas.
A partir de 2010, Ostuni e suas cidades mais próximas receberam tantos ingleses, que alguns jornais locais e nacionais cunharam um novo e debochado termo para chamar a região: “Salentoshire”.
A palavra, fundindo Salento ao sufixo ‘shire’ (que caracteriza nomes de cidades inglesas como Yorkshire), foi derivada de outra que já era utilizada para descrever a invasão inglesa na Toscana: “Chiantishire”.
(Andrea Kirst, especial para brpress)
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