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Lydiah Amunga, da ONG Vision Sisters, chefia banheiro público em Kibera. Foto: Julienne Gage/IRPLydiah Amunga, da ONG Vision Sisters, chefia banheiro público em Kibera. Foto: Julienne Gage/IRP

Proteção no banheiro público de Kibera

Projeto na maior favela da África subsaariana dignifica vida e permite higiene segura para mulheres e crianças. Por Juliana Resende e Julienne Gage

(Nairóbi, brpress) – Enquanto se discute a legitimidade do resultado das eleições no Quênia, que deu vitória apertada e questionada a Uhuru Kenyatta*, na maior favela da África subsaaariana, Kibera, localizada na capital queniana, Nairóbi, o clima ainda é tenso. Houve ocorrências de apedrejamento esta semana, mas foi em 2007 que Kibera virou palco de violência generalizada, por causa de resultados de eleições considerados roubados. Foi pensando neste passado sombrio e no que as eleições de 2013 poderiam reservar aos milhares de quenianos que vivem em Kibera, que a Vision Sisters construiu e opera o único banheiro público da precária favela.

“Mulheres e crianças foram os que mais sofreram”, lembra Hamza Ahmed, integrante da ONG Vision Sisters, formada por mulheres católicas e muçulmanas locais. “E não queremos isso novamente”.

Patrocinado pele ONG Maji na Ufanisi (“Água e Desenvolvimento”), o projeto de banheiro público atende a cerca de 30 pessoas diariamente, cobrando 10 schillings para adultos e 5 schillings para crianças (o equivakente a 0.5 a 0.10 cents de dólar americano). “Mas não negamos acesso a quem aparece desesperado”, garante Hamza Ahmed.

Seguro

“Nosso objetivo não é fazer dinheiro, é pelo menos manter o ambiente limpo e pagar água, luz e os que ajudam no dia-a-dia”, explica Ahmed. Além de ser um lugar com água encanada, onde é possível fazer as necessidades fisiológicas – geralmente feitas em um saco e jogadas para longe, daí o nome de “flying toillets”, o que empesteia Kibera –, o banheiro público é um refúgio onde mulheres e meninas, frequentemente vítimas de abuso sexual, podem fazer sua higiene de maneira segura na precária favela.

“Sempre tem vigilância quando alguém está usando”, ressalta outra integrante da Vision Sisters, Lydiah Amunga, atarefada distribuindo papel higiênico.

Hanza Ahmed concorreu, nestas eleições, a uma cadeira na Makina County Assembly Ward, pelo Unity Party of Kenya, mas não foi eleita. “As pessoas batem em minha porta pedindo dinheiro. Acho que posso ajudá-las mais efetivamente com uma estrutura política”, diz ela, atribuindo o fracasso ao fato de ter 71 anos, ter feio somente o primário e ser de minoria étnica, descendente de sudaneses.

Água é luxo

   O projeto também melhora o dia-a-dia e as relações na comunidade. Muitos usam as instalações para lavar roupas e encher galões de água potável – artigo de extremo luxo em Kibera, onde não há luz elétrica muito menos saneamento básico.

O chão de terra batido da imensa favela é, basicamente, um lamaçal de lixo, esgoto e todos os tipos de detritos orgânicos e não-orgânicos. Kibera é um bolsão de doenças, sendo malária e Aids as mais letais, que andam de mãos dadas com a pobreza extrema.

Violência sexual

No Quênia, 50% da população vive com menos de US$ 1 por dia. Viver abaixo da linha de pobreza é, de fato, o maior problema do país. Mas a violência sexual contra mulheres também é uma questão preocupante, que não raro é relacionada à contaminação por HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, além de gravidez indesejada.

No Quênia, estima-se que entre 25% e 40% dos soropositivos sejam mulheres entre 20 e 30 anos. Vulneráveis, elas agora têm nas dependências do banheiro das Vision Sisters um local de apoio e orientação, já que lá também está sendo construída o que Janet Mangera, outra integrante da Vision Sisters, chama de “rede para vítimas da violência”.

Hamza Ahmed explica que os encontros realizados no salão anexo aos toaletes estão abertos a todos, mas recebem mesmo mais mulheres que foram estupradas. “Aconselhamos a elas irem à polícia, ao hospital e discutimos casos de pessoas que fizeram o mesmo”, completa. “É encorajador”, acredita Mangera. “Elas agora sabem como buscar seus direitos e recursos. E essa mobilização faz os que pensam em cometer estupros pensarem duas vezes antes”.

Juliana Resende, brpress, e Julienne Gage, especial para brpress, viajaram ao Quênia a convite do International Reporting Project (IRP)

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Assista ao vídeo (em inglês) desta história originalmente veiculado no PRI the World:

(*) Kenyatta é acusado de crime contra a humanidade por incitar assassinatos e intimidações nos levantes de violência étnica que deixaram, há cinco anos, pelo menos 1.200 mortos e milhares de feridos, desabrigados e deslocados que ainda vivem em campos de refugiados. O presidente será julgado em abril pelo Tribunal Penal Internacional.

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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