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Sarah Obama avisa que seu trabalho data muito antes da eleição de Barack. Julienne Gage/IRP/BR PressSarah Obama avisa que seu trabalho data muito antes da eleição de Barack. Julienne Gage/IRP/BR Press

No jardim de ‘Mama’ Obama

(Kogelo, brpress) - Visitamos a avó postiça de Barack Obama, que tornou-se uma entidade no Quênia, país do avô paterno do presidente dos EUA, que ele visita pela primeira vez agora. Por Juliana Resende.

(Kogelo, brpress) – Avó postiça de Barack Obama, Sarah Onyango Obama tornou-se uma atração turística no Quênia, país do avô paterno do presidente reeleito dos EUA, Barack Obama Sr., onde ele se casou, pela terceira vez, com esta mulher, hoje com 90 anos. Numa visita ao Quênia promovida pelo Internetional Reporting Project há três anos (este texto foi originalmente escrito em 11/07/2012), jornalistas internacionais – esta repórter, única jornalista brasileira entre eles – visitaram ‘Mama’ Sarah, que acabou dando uma entrevista coletiva informal.

Matriarca conservadora, respeitada e poderosa, ‘Mama’ Sarah tem agenda cheia e visita só com hora marcada. “Tive malária há dois dias”, dispara ela, para apressar os forasteiros, afinal precisa descansar. Paparicada e ao mesmo tempo vigiada pelo governo queniano – soldados fazem a segurança de sua propriedade e uma intérprete-secretária-censora acompanha ‘Mama’ Sarah em seus encontros e reuniões, especialmente com a imprensa estrangeira –, ela só fala em luo (dialeto local).

Presença forte

Acomodada debaixo de uma aprasível sombra de uma das várias árvores de sua propriedade, Sarah Obama tem uma presença forte, o porte de uma imperatriz africana, num cruzamento de impressionante vitalidade entre Rainha Elizabeth, Nelson Mandela, preta velha e mãe-de-santo. É, sem dúvida, a mulher mais requisitada senão influente do Quênia.

Sua nobreza pode ser intimidadora e, com autoridade natural de sua Alteza, responde a perguntas olhando intensa e seriamente para tudo – menos diretamente ao interlocutor sob total dependência do filtro da tradutora- censora (que depois revelou ser originalmente policial).

Entidade

    “Mama” Sarah, como é chamada por seu trabalho com orfãos (maioria de pais com Aids) em Kogelo, vila nos arredores de Kisumu, a terceria maior cidade do Quênia, é quase que uma “entidade”. Manda e desmanda, fica exaltada quando seus coelhos tentam escapar da propriedade – sem luxo, mas extremamente bem cuidada, em comparação às péssimas condições gerais de moradia no país (sem luz elétrica, água encanada e esgoto) – e deixa claro que não quer ser filmada (fotografada, só no final da “coletiva”).

    Sarah Obama ajuda atualmente 60 órfãos na escola primária e 25 na secundária. “Não faço isso porque tenho dinheiro, mas porque tenho ajuda”, diz ela, olhar fuzilante. Entre os doadores da fundação, que não tem website nem contato para potenciais doadores se comunicarem com os “encarregados” (a tradutora-censora sugere que deixemos cartões para que eles entrem com contato conosco fornecendo as direções), estão Japão (cobertores), China (sapatos) e o próprio governo do Quênia (comida).

Orgânica

    O projeto social de Sarah Obama também inclui oficinas de cultivo de hortas e criação de animais  (seu jardim está cheio deles). Aliás, esta é uma das razões apontadas por ela pela boa saúde e disposição: “Miss Obama planta sua própria salada e come ovos de suas galinhas”, diz a intérprete. Galinhas, de fato, correm soltas pelo quintal afora, assim como um peru e coelhinhos graciosos que insistem em fazer aquilo ironicamente enquanto ‘Mama’ Obama se declara contra o planejamento familiar e médotos contraceptivos – muçulmana devota que é, mesmo num país mergulhado na pobreza extrema.

    “Sou a favor de dar poder às mulheres e educação para que possam cuidar de si mesmas”, afirma Sarah Obama. Sorrisos de aprovação se propagam pela audiência, hipnotizada pela postura eletrizante da matriarca e pelo encantamento do lugar, realmente muito agradável. Isso até ela declarar, sem qualquer cerimônia, que é a favor de que mulheres apanhem de seus maridos. Se ela própria apanhava de vovô Obama ninguém teve coragem de perguntar. Mama teve oito filhos (dois morreram) e dez netos. Casou-se aos 19 anos e nunca foi à escola. Vive com três órfãos e o modesto séquito de empregados.

Barack

   Sarah não gosta de falar de Obama. Prefere os projetos de Mama – pouco explicados em detalhes. Na verdade, ela, o presidente e sua mulher, Michelle, que já visitou vovó duas vezes (a penúltima em 2006, quando ainda era senador, e agora, em 2015, a bordo de sua primeira e aguardada visita como presidente dos EUA), se falam pouco (há a barreira da língua). Sarah evita o excesso de intimidade forçada. “Meu trabalho data muito antes da eleição de Barack”, afirma. Mas o hype em torno do parentesco cresceu depois da posse do neto na Casa Branca – celebrada pela embaixada dos EUA no Quênia, tendo tido Mama como convidade de honra.

    A anciã, mesmo jurando não receber qualquer ajuda direta de Obama, embora admita a boa publicidade, fala com respeito do neto indireto: “As pessoas pedem para que eu mande mensagens para ele, mas não o incomodo – é muito ocupado e tem muito a fazer”. Por exemplo? “Ajudar a encontrar a cura para doenças e zelar para paz mundial”.

Aliás, paz, para Miss Obama, é o que está mais faltando para os quenianos, mesmo reconhecendo que a corrupção é uma praga que “tira a oportunidade das pessoas” e afirmando, nostálgica, que preferia viver sob a administração colonial, apesar de declarar apoio ao então Primeiro Ministro, Odinga, à presidência do Quênia em 2013.

O candidato de Mama acabou perdendo para Uhuru Kenyatta – que foi reeleito mesmo sendo acusado pelo Tribunal Penal Internacional de  ser o principal mandante dos episódios de extrema violência política que marcaram o cenário pré e pós-eleitoral queniano em 2007-2008 (as acusações foram depois retiradas). Não se sabe se Barack visitará Sarah (por motivos de segurança), mas certamente ele terá de encarar Kenyatta.

(Juliana Resende/brpress)

Leia mais sobre a luta do Quênia contra o terrorismo aqui, contra a Aids aqui e contra a pobreza aqui.

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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