Católicos e anglicanos
(Londres, brpress) - Reaproximação, incentivada após visita do Papa à Grã Bretanha, fica difícil quando Canterbury ordena sacerdotes mulheres e que podem se casar – inclusive homossexuais. Por Isaac Bigio.
(Londres, brpress) – A cada Natal, os líderes das principais igrejas ocidentais enviam suas mensagens. Um deles é o Papa e outra é a Rainha britânica, que se reuniram pela primeira vez, este ano, em Londres.
Para os católicos, é normal saber que seu líder é um padre solteiro, eleito por um conselho de cardeais, mas pode ser que não lhes pareça aceitável o fato de que os anglicanos sejam liderados por alguém que nunca foi um sacerdote, que chega ao cargo e o entrega ao morrer por herança – e que pode ser uma mulher.
Henrique versus Vaticano
Esta última característica é, no entanto, o motivo que fez com que a Igreja da Inglaterra se separasse da de Roma. Enquanto o Vaticano pretendia estar acima de todos os reis europeus, Henrique VIII quis inverter esta situação, fazendo com que os padres de seu país se subordinassem à coroa.
O trono da Inglaterra continua sendo o mais poderoso nos dias atuais. Elizabeth II é a soberana de 16 Estados (incluindo os gigantes Canadá e Austrália) os quais, somados, formam um território maior que o da Rússia, o país mais extenso do mundo.
Luxo
As igrejas anglicana e católica ainda mantêm muitas semelhanças nas formas de seus templos e na maneira de vestir de seus padres. No entanto, o luxo e o poder da primeira estão muito abaixo dos da segunda e, inclusive, da própria monarquia britânica.
O principal sacerdote do anglicanismo é o arcebispo de Canterbury, que lidera uma Igreja dividida e subordinada à Rainha. A reaproximação entre católicos e anglicanos, incentivada por ambos os cleros após a visita recente do Papa à Grã Bretanha, tem como impedimento o fato de que Canterbury ordena sacerdotes dos sexos masculino e feminino e que podem se casar (inclusive com pessoas de seu próprio sexo).
Os anglicanos se encontram divididos em três alas: a oficial liberal; a hostil aos matrimônios gays, que Roma tenta cultivar, e a ala influenciada pelos evangélicos.
Apesar de a Inglaterra se proclamar como a potência mundial que ostenta a mais antiga democracia ininterrupta do mundo e de ser um dos pilares da luta global contra o fundamentalismo religioso islâmico, ela é a única do Grupo dos 8 grandes países cuja Câmara Alta nunca foi eleita e cuja bandeira se baseia em crucifixos.
No Reino Unido não existe a separação entre Estado e religião, tal como existe nas repúblicas seculares. Quem é o chefe do Estado também comanda a Igreja oficial. O herdeiro que deixar de ser anglicano perde os direitos e jamais poderá aspirar ao trono.
A esposa e os três filhos do primeiro ministro anterior Tony Blair, bem como do atual vice-primeiro ministro Nick Clegg são católicos. Mas Blair somente se atreveu a converter-se ao catolicismo depois de ter deixado de ser, por 10 anos, chefe do governo britânico.
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio vive em Londres, onde lecionou na London School of Economics, e também assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress.