G8 coloca Irlanda do Norte em evidência
(Belfast, brpress) - 39o. Encontro do G8, de 17 a 18/06, tem tudo para ser histórico, como aposta do poder mundial no processo de paz na região. Por Juliana Resende.
(Belfast, brpress) – O 39o. Encontro do G8, de 17 a 18 de junho, tem tudo para ser histórico: acontece na Irlanda do Norte, como que numa chancela do poder mundial ao processo de paz que acomete a província, tido como exemplo a diversos conflitos etnoreligiosos em tempos de pós-globalização, apesar das constantes críticas e ajustes.
Os líderes do governo “power sharing” (divisão de poder) norte-irlandês, o protestante e líder do Partido Unionista (DUP) Peter Robinson e o católico e ex-comandante do IRA, Martin McGuinness, estão radiantes e muito confiantes de que o evento vai recolocar a Irlanda do Norte no mapa mundi de maneira positiva. Ambos concederam entrevista exclusiva à brpress e ao Irish Times em sua breve passagem por São Paulo, em março último.
Pacificada e pulsante
De fato, a Irlanda do Norte mudou muito desde os tempos dos Troubles, sendo destino de investimentos econômicos, sociais, educacionais e turísticos nos últimos anos – mesmo com o advento da crise européia. Apesar de ocorrências esparças atribuídas a grupos armados que não aceitam o processo de paz, as comunidades prostestantes e católicas da região estão majoritariamente pacificadas pela bonança econômica e melhora nos índices sociais. As diferenças e fortes identidades culturais ainda são barreiras da integração mas o que se vê no dia-a-dia é tolerância e civilidade. Eventuais enfrentamentos são menos importantes em todo o processo, apesar de lamentáveis.
Cidades como a capital Belfast vive dias de Berlim, culturalmente e economicamente falando, com a construção de shopping centers, centros culturais e museus milionários (Titanic). Berço do IRA, a republicana e rebelde Londonderry – só Derry para os entendidos –, segunda cidade norte-irlandesa em importância, é a capital cultural do Reino Unido 2013, dando o que falar, fazer e, claro, alguma confusão pois senão não seria a pequena, histórica e tinhosa Derry (berço também do melhor Halloween do planeta).
Currículo
Confusão, a julgar pelo contingente militar e de segurança que o governos britânico, americano, russo e norte-irlandês vão despejar no condado de Fermanagh, mais especificamente no Lago Erne, onde um resort (Lough Erne Golf Resort) que ainda guarda glórias de ter hospedado Nelson Mandela e ter sido onde nasceram as primeiras conversações que resultaram nas eleições democráticas na África do Sul pós-Apartheid, em 1994.
A Polícia da Irlanda do Norte vai erguer uma cerca imensa em torno do hotel, reunirá 2.500 policais que vão ficar em “pop-up mini hotels”, que foram usados nas Olimpíadas de Londres e alugados por cerca de £3.8 milhões (cerca de R$ 12 milhões, dinheiro do contribuinte). O lago Erne ficará interditado para pescadores e turistas, o espaço aéreo ficará fechado, sendo sobrevoado por somente três drones alugados pelas forças de segurança locais por mais £1 milhão (cerca de R$ 3 milhões). É possível que check points – revistas obrigatórias de pessoas e veículos – voltem à esta região da Irlanda do Norte, lembrando práticas que a população prefere esquecer.
Entre um prato típico – o hotel já garantiu que toda a comida servida seja proveniente de fornecedores locais –, uma partida de golfe e conjecturas sobre o confito na Síria, a expectativa é de que corra tudo em paz, apesar das manifestações anti-globalização costumeiras e as ameças de ataques terroristas de grupos islâmicos e dissidentes republicanos – o Óglaigh na hÉireann deixou recentemente um carro-bomba perto do hotel, descoberto em tempo pelas forças de segurança –, e de que os líderes dos oito países mais ricos do mundo possam relaxar na biblioteca Gordon Wilson – assim chamada em homenagem ao pacifista e ativista que perdeu a filha Marie num atendado a bomba do IRA, em Enniskillen – cidade bem conhecida perto dalí –, que matou 11 protestantes, em 1987.
(Juliana Resende/brpress)