Feiras de itens roubados proliferam com saques na guerra da Síria
(brpress*) - É o ‘tafeesh’ – palavra síria para ‘mobiliar’ – que virou gíria para a cultura da pilhagem de áreas ‘conquistadas’.
(brpress*) – Tapete persa a US$ 5 e tudo não destruído pelas bombas e roubado pelo exército e milicianos à venda em feiras na Síria. É o ‘tafeesh’ – palavra síria para ‘mobiliar’ – que virou gíria para a cultura da pilhagem e saque de áreas ‘conquistadas’ em batalhas como a de Daara, tema de entrevista de refugiada à brpress. Os itens são geralmente revendidos aos próprios donos, quando não são contrabandeados. Máquinas e fiação viram ferro velho.
Segundo reportagem do LA Times, o Estado Islâmico – que, apesar de enfraquecido, matou mais de 200 pessoas em Sweida, em ataques neste final de semana , segundo a National Public Radio (NPR), dos EUA – é mais “burocrático”: primeiro expulsa cristãos e muçulmanos xiitas de suas casas, depois retiram o que sobrou para vender, então colocam placa escrito ‘Propriedade do EI” e depois também vendem ou alugam os imóveis.
‘Oficial’
O governo de Bashar Al Assad nada faz para impedir os sistemáticos saques e feiras dos itens roubados. Cidadãos que têm suas casas e comércios pilhados temem represália. Mas há grupos no Facebook para expor e combater os ‘tafeeshs’. A reportagem do LA Times é escrita pelo correspondente em Beirute, mas tem como fonte um informante infiltrado em território sírio, cuja identidade não é revelada por questões de segurança.
Rida Basha, repórter do canal de notícias libanês pró-governo Al Mayadeen, foi impedido de trabalhar como jornalista na Síria depois de cobrir um ‘tafeesh’ e escrever uma reportagem amplamente divulgada no início de 2017. No artigo, ele relata que um grupo paramilitar chamado Liwa al-Quds, assim como os Desert Falcons, a maior milícia privada da Síria, impediram que remessas de medicamentos entrassem em Aleppo até que pudessem vender drogas e objetos que haviam saqueado de armazéns rebeldes.
Ambas as facções, segundo Basha, trabalhavam sob a chancela da 4ª Divisão de elite do exército sírio, chefiada pelo irmão mais novo de Assad, Maher. A unidade há muito tempo é suspeita de envolvimento em extorsões em pontos de controle, bem como em ‘tafeeshs’ – informação que é de conhecimento de muitos sírios e das tropas russas leais a Assad.
Roleta russa
A prática tem causado desentendimentos entre Assad e seu maior aliado, a Rússia. Em maio, um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou soldados russos prendendo militares sírios tentando sair de Babbila, subúrbio de Damasco, com dois caminhões lotados de itens roubados. A população local aplaudiu quando os russos renderam os sírios e os ordenaram que deitassem no chão.
A reportagem do LA Times ouviu o especialista em facções da guerra síria Aymenn Tamimi, que definiu o ‘tafeesh’ como uma “continuação da corrupção sistêmica já existente antes”. Há ainda um componente do conflito étnico que também contribui para acirrar a guerra síria. Em cidades de maioria xiita, que apóia o governo de Assad, as feiras são conhecidos também como como souq al-Sunnah (mercados sunitas), numa referência aos rebeldes. Alguns entendem que o ‘tafeesh’ é uma “recompensa” ao exército sírio, mal pago.
(*) Com informações do LA Tims e National Public Radio (NPR).
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