Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Mário Bortolotto em cena de de Música para Ninar Dinossauros.DivulgaçãoMário Bortolotto em cena de de Música para Ninar Dinossauros.Divulgação

Geração desiludida

(Curitiba, brpress*) - É o mote de Música Para Ninar Dinossauros, que estreou no Festival de Curitiba; presente no evento, autor Mário Bortolotto conversa com Lucianno Maza sobre dramaturgia e o valor da vida.

(Curitiba, brpress*) – Música Para Ninar Dinossauros fez sua estreia nacional na Mostra Oficial do Festival de Curitiba, neste final de semana. Trata-se do aguardado retorno do autor, diretor e ator Mário Bortolotto à dramaturgia, depois de ter sido baleado numa tentativa de assalto em São Paulo, onde a peça estreia em abril (leia entrevista abaixo).

    O texto mostra um trio de amigos, já passando dos quarenta anos, que recorrem a prostitutas para lhes fazer companhia em noites que parecem não ter fim. E revela, em paralelo, a vida destes homens algum tempo atrás quando, jovens, já tinham seus destinos desesperançados traçados, e a relação com garotas de programa estabelecida.

    É mais do mesmo Bortolotto, mas com algumas surpresas. Os personagens da dramaturgia do autor vivem à margem de uma sociedade cujos códigos e valores rejeitam. São seres excluídos, e excludentes, estrangeiros em um mundo cada vez mais formatado, e no qual eles não se encaixam, não vêem sentido.

    Vivendo ao som do blues e do rock’n’roll, misturado com cocaína, uísque ou cerveja, eles procuram belas mulheres para chamar de suas, embora aquelas a quem amam os abandonaram.

Envelhecendo

    A grande diferença deste para outros textos do profícuo dramaturgo é que seus personagens envelheceram. Se antes Bortolotto colocava em cena uma juventude vazia ou deslocada, agora ele mostra essas mesmas pessoas dez, quinze anos depois, com suas escolhas consolidadas e suas angústias já assimiladas num peculiar estilo de vida – ou falta dele.

    Poeta urbano, o autor extrai do banal momentos bem humorados, que levam o público às gargalhadas, e outros, de profunda melancolia, legitimam uma certa idealização para a cena, onde sua iconografia, de influências como o movimento beatnik, surge forte e determinante para aquele ambiente.

Boas atuações

    A direção do dramaturgo é bastante simples esteticamente, sem maiores preocupações formais ou de acabamento. Trabalhando com pouco, ele usa os recursos mais básicos, que sirvam a contar sua história, valorizando o texto e abrindo espaço para as boas atuações sobressaírem.

    Graças a este conjunto, uma das cenas mais bonitas e representativas da peça é quando uma das jovens prostitutas canta uma música, acompanhada por outra ao piano, desconstruindo o esteriótipo esperado.

     Mas o principal destaque é o elenco masculino mais velho, encabeçado pelo autor e diretor, que sabe exatamente o quê e como quer que seu personagem – o mais interessante dos três – se materialize, de forma genuína.

Cartunista

    O cartunista Lourenço Mutarelli surpreende com uma interpretação um tanto agitada, com a qual o público parece ter grande empatia. Paulo de Tharso, além da bela voz cantando, conduz sua figura na medida certa, sensível e sem afetações.

    Os jovens atores, Francisco Eldo Mendes, Carlos Carah e Marcelo Selingardi demonstram empenho, mas carecem, ainda, de maior amadurecimento de seus personagens. Estão presos à forma, e soando um pouco como caricaturas dos atores mais velhos – em especial o primeiro. Com a continuidade dos ensaios, é provável que eles fiquem mais confortáveis e independentes em suas criações.

    Das atrizes, destacam-se Helena Cerello, em especial, e Carolina Manica, enquanto Paula Flaiban tem ótimos momentos cantando. Completam o elenco feminino Daniela Dezan, Wanessa Rudmer e Fernanda Sanches.

ENTREVISTA – O dinossauro Mário Bortolotto

(Curitiba, brpress) – O londrinense Mário Bortolotto é um dos dramaturgos brasileiros de maior personalidade (dentro de cena, e fora dela), famoso pelo universo underground de seus textos. Com 47 anos, é também um dos autores que mais produzem em São Paulo, onde vive desde a década de 90. São mais de sessenta peças, além de romances, contos, poesias e letras de música. É na música, aliás, onde mais se diverte: é vocalista da banda de rock Saco de Ratos.

    Em 2009, Bortolotto foi baleado numa tentativa de assalto no bar do Espaço dos Parlapatões, no emblemático centro nevrálgico do teatro alternativo paulistano, a Praça Roosevelt, onde ele é uma das figuras mais conhecidas e queridas. O ato de violência provocou uma comovente união da classe artística e uma verdadeira corrente por sua recuperação, que, enfim, aconteceu.

Peça e poemas

    Ainda em processo de melhora, o dramaturgo esteve no Festival de Curitiba para a estreia de sua nova peça, Música Para Ninar Dinossauros, e para lançar o livro de poemas Um Bom Lugar Para Morrer (Atrito Arte Editorial; R$ 20,00). Este repórter – também dramaturgo e editor do site Caderno Teatral, que está em Curitiba a convite do festival –, conversou com Bortolotto durante o lançamento.

    Confira a seguir, trechos da entrevista.

O que Música Para Ninar Dinossauros traz de novo para sua obra?

Mário Bortlotto  – Não tem nada muito novo não. Na verdade eu sou o cara que lança o mesmo LP todo ano. Não tenho muita preocupação com isso. Acho que a dramaturgia vai ficando mais apurada… Mas também falo as mesmas coisas há mais de 20 anos. Mas acho que tem uma dose de melancolia a mais nesta peça do que tinha nas outras – o que é natural, já que escrevi num momento em que eu estava muito triste, muito melancólico… E tô assim ainda! Acho que acaba refletindo na dramaturgia, não tem como evitar.

Esse momento triste do qual você fala é decorrente do que aconteceu na Praça Roosevelt?

MB – É. Fiquei muito triste com aquilo. E o que reflete no novo texto é essa dose brutal de melancolia. Um desencanto com as pessoas, com a vida mesmo. Uma bobagem: você está bebendo com seus amigos num bar, e, de repente, vem um cara e dá três tiros em você. A vida não vale porra nenhuma. Tem uma hora que meu personagem fala assim: “Envelhecer é perceber que você não tem a menor importância. Que a vida mesmo é importante no sentido que você está aqui, que estou falando contigo, vou encontrar meus amigos mais tarde, tomar uma cerveja com eles… A vida é muito efêmera, muito barata.

Muda alguma coisa na sua dramaturgia ter uma banda de rock?

MB – Na dramaturgia não sei se muda alguma coisa, mas na minha vida é fundamental. Eu sempre tive banda de rock, desde pivete. Eu acho que agora, com a Saco de Ratos, encontrei minha turma mesmo, de rock’n’roll, e isso tem sido muito bacana pra mim – é a minha diversão. É onde eu mais me divirto. Porque teatro, pra mim, é trabalho. É lógico que na hora que estou me apresentando estou me divertindo também, mas é um trabalho árduo. Então, pra mim, é muito mais gostoso fazer rock’n’roll do que qualquer outra coisa.

A música é muito importante em seu texto. Ela vem antes e te inspira de algum modo, ou depois que você escreve é que pensa na música? Como se dá a escolha de suas trilhas sonoras?

MB – Música Para Ninar Dinossauros e minha dramaturgia toda sempre parte da música. Eu ouço uma música e ela me dá ideias, sugestões de diálogo… É o mote da maioria das minhas peças. E agora meio que escancarei isso chamando minha peça de Música Para Ninar Dinossauros. Nossa Vida Não Vale Um Chevrolet (que rendeu um prêmio Shell ao autor e uma adaptação cinematográfica) veio de um jingle que escutei na televisão, um comercial da Chevrolet.

Aponte uma música para ninar dinossauros…

MB – Eu acho que, talvez, seja Jump, do Van Halen, que é o rock que marcou os anos 80. Ainda era um rock’n’roll, mas um rock já caindo pro pop, ainda tinha um frescor de rock’n’roll, uma vitalidade rocker, mas já tinha uma coisa meio pop na música. Diferente de Black Sabbath, Led Zeppelln, Deep Purple, que era o rockão mesmo, forte, pesado. Então Jump é uma música que gosto muito, mas já tem ali uma frescura do pop se instaurando, tomando conta, ia virar essa praga que virou depois, do rock ficar meio fresco.

Leia o blog de Mário Bortolotto: http://atirenodramaturgo.zip.net

Ouça a banda Saco de Ratos: http://www.myspace.com/sacoderatos

(Lucianno Maza, do Caderno Teatral/Especial para brpress)

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate