O bom pai à casa retorna
(São Paulo, brpress) - Em A Grande Volta, dramaturgo Serge Kribus toma uma variante ao retorno do filho pródigo: é o velho pai quem se instala na casa de seu rebento. Por Lucianno Maza.
(São Paulo, brpress) – Tema recorrente desde clássicos gregos, o reencontro ou reintegração familiar já rendeu excelentes textos esmiuçando o confronto ideológico de dois membros bastante diferentes que, pelos laços de sangue, se obrigam novamente à convivência. Em A Grande Volta, em cartaz em São Paulo, o dramaturgo belga Serge Kribus toma uma variante ao retorno do filho pródigo: é o velho pai quem se instala na casa de seu rebento, dando-lhe tanto trabalho como um filho.
Com Fúlvio Stefanini e Rodrigo Lombardi, a peça se transforma num jogo entre dois atores inspirados e com um texto que prende a atenção. Trata-se de uma reflexão aguda sobre o amor e falta paternal, os sonhos, as frustrações que surgem com eles e os medos de novos inícios.
Há o choque inicial entre pai e filho, o jeito ranzinza e fragilidade infantil de um, o estresse nervoso de outro, as carências e culpas que se disferem, o olhar judaico tradicionalista do mais velho, a visão transgressora do mais jovem, um episódio que os unirá e, finalmente, a redenção da relação no final.
Personagens
Apesar desta previsibilidade, o autor constrói diálogos ferinos para suas duas boas figuras: o filho, publicitário, representa a falência masculina contemporânea dentro do mundo capitalista, está desempregado e sem perspectivas, abandonado pela esposa –a quem ainda ama –, longe de seu filho e desempregado, impotente economicamente e emocionalmente.
Ainda mais interessante, o personagem do pai viúvo, também falido, carrega o fardo do fracasso como ator e a expectativa de seu grande retorno aos palcos como protagonista de uma encenação de Rei Lear, de William Shakespeare, à qual foi chamado às pressas para substituir um colega.
Machos em crise
Num momento onde, após o desbravamento do mundo feminino e sua revolução, temos pensado tanto no homem e sua silenciosa problemática, o texto proporciona uma delicada mostra de questões do universo masculino, na tradução de Paulo Autran.
O também ator Marco Ricca dirigiu a montagem de forma direta, valorizando o texto ao máximo. Se a qualidade do texto é o primeiro passo para um bom espetáculo, o elenco é o responsável por torná-lo uma experiência teatral inesquecível para o público.
Fúlvio Stefanini faz isso entregando seu melhor, numa interpretação carismática e admirável, mostrando toda a ambiguidade do pai, da dureza sóbria do homem pouco afeito às demonstrações de afeto, até os momentos bem humorados e comoventes em que, de sua maneira, manifesta o amor pelo filho, interpretado por Rodrigo Lombardi. Este se revela um ótimo parceiro de cena, crescendo nas passagens mais angustiantes e raivosas do texto.
O único detalhe negativo é a localização da primeira parte da peça, um pouco mais afastada da plateia.
Sessões: sextas, às 21h30; sábados, às 21h; domingos , às 18h. Até 12/08.
Ingressos: R$70,00. Teatro Faap – Rua Alagoas, 903; (11) 3662-7233.
(Lucianno Maza, do Caderno Teatral / Especial para brpress)