ETA, FARC e ainda Kadafi
(Londres, brpress) - Gerenciamento do fim do terrorismo será crucial nesta nova etapa, especialmente para a Espanha, cujas eleições acontecem neste domingo (20/11). Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Em 20 de outubro passado, enquanto Kadafi era executado, o grupo basco ETA (sigla de Euskadi Ta Askatasuna, que, no idioma basco, quer dizer Pátria Basca e Liberdade) anunciava o encerramento definitivo de suas ações armadas – fato que, junto à crise econômica, pesa nas eleições deste domingo (20/11), na Espanha.
Duas semanas depois do anúncio do ETA, foi abatido o chefe-mor das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Alfonso Cano. Esses três acontecimentos têm potencial para remodelar as relações internacionais no gerenciamento do terrorismo.
O kadafismo, o ETA e as FARC surgiram na década de 1970, em três continentes diferentes. Eram movimentos “irmãos” que pregavam a “resistência armada anti-imperialista”. Porém, a Líbia foi se transformando numa espécie de Cuba africana e islâmica, mas patrocinando diversas insurgências e guerras.
Relações com Ocidente
Kadafi, ao contrário do ETA e das FARC (às quais apoiou), que foram influenciados pelo marxismo guevarista, propôs uma variante da teocracia islâmica ao recusar o leninismo e criar uma autocracia nacionalista, com menos pobreza e desigualdade entre classes e sexos naquela região. Ele e sua família manejavam bilhões de euros e andavam com Sarkozy, Berlusconi e Blair, sempre fazendo transações comerciais e auxiliando-os no combate contra Al Qaeda, Hamas, Hizbolah e Irã.
Por enquanto, não sabemos se grupos armados pró-Kadafi manterão a luta armada no país e região. Mas certo é que sua queda (seguindo à de Hussein e antecedendo à do sírio Assad) mostra o fim do nacionalismo pan-árabe, que fomentava guerrilhas em outras partes do mundo, que foram encerradas com o passar do tempo, como em Cuba, China, Vietnã e Coreia do Norte.
Ex-guerrilheiros
Assim, pela primeira vez desde a revolução soviética de 1917, não existe hoje nenhuma república que se proclame “socialista” e promova levantes armados em outros países.
Os antigos guerrilheiros agora são presidentes ou vice-presidentes em várias partes da América Latina e aceitam a via constitucional para se chegar ao poder, a diplomacia para lidar com outras nações e o capitalismo para desenvolver suas economias.
Armas pelas urnas
Como o IRA (sigla de Irish Republican Army, Exército Republicano Irlandês), o ETA decidiu trocar as armas pelas urnas, devido a três razões: o contexto internacional, a repressão estatal e o seu aliado legal, o Bildu, partido que vem se convertendo na segunda força eleitoral basca e, para seguir avançando, necessita que o ETA siga o caminho do IRA norte-irlandês.
O ex-presidente espanhol José Maria Aznar, do Partido Popular (de tendência conservadora), acusou o governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero de “implorar” pelo anúncio do fim do grupo armado para poder reverter as tendências nas pesquisas eleitorais, que apontam a direita como favorita no pleito, principalmente devido à crise econômica que a Espanha atravessa.
Mas, para o presidente da Fundação Cidadania e Valores, o fim do ETA afetaria pouco as eleições. “A notícia é importante, mas não mudaria muito as coisas, não afetaria as eleições. O ETA não comete atentados há tempos e o terrorismo deixou de ser a primeira preocupação”.
Enquanto o governo britânico, que sabia como localizar e exterminar os comandantes do IRA, preferiu negociar com eles para cooptá-los ao sistema, colocando-os no novo governo de unidade nacional norte-irlandês, na Colômbia Santos deseja matar todos os comandantes das FARC, que, aliás, nomeou na última terça (15/11) um novo número 1: Rodrigo Londoño Echeverry, conhecido como “Timochenko” ou “Timoleón Jiménez”.
EUA
Na Líbia e na Colômbia, os EUA e seus aliados estavam dispostos a eliminar toda a cúpula dos Kadafi e das FARC, castigando-os por não aceitarem a reintegração, como derrotados, dentro de suas respectivas sociedades, as quais devem ser agora liberadas, tanto econômica como politicamente.
Diferentemente disso, no País Basco e na Irlanda do Norte os países da OTAN mostram disposição para cooptar os seus insurgentes, sob a condição de que deixem as armas e se submetam às instituições contra as quais, antes, guerreavam.
(*) Isaac Bigio vive em Londres, é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics e um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.