Reality show chega ao Complexo do Alemão
(brpress) - Canal por assinatura Multishow estreia, nesta segunda (07/02), Papo de Polícia e Gabriel Bonis conversa com policial que comanda atração.
Chaves morou no Complexo do Alemão por sete dias, para conversar com moradores e “dar voz às várias histórias desses locais, que dificilmente são mostradas”, como diz em entrevista à brpress.
Visão diferenciada
A ideia para o programa surgiu após as operações da polícia na região. “No AfroReggae, temos um olhar abrangente do social. E, então, a gente começou a pensar no que dava para fazer, qual tinha sido o papel da cobertura da imprensa e onde poderíamos entrar”, explica Beto Chaves. O policial também coordena o projeto Papo de Responsa, em parceria com o próprio AfroReggae.
Inclusive o coordenador-executivo do grupo, José Júnior, ajudou a desenvolver o reality, juntamente com Rafael Dragaud, diretor do Conexões Urbanas e Allan Turnowski, Chefe da Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro.
“Nós sabíamos que haveria uma riqueza muito grande para gente, seria interessante focar o olhar”, explica Chaves. “Porque quando toda a imprensa faz a cobertura, é óbvio que começa a olhar o lado operacional, das apreensões e prisões”. O foco de Papo de Polícia é as histórias das pessoas que vivem no lugar, no contexto da operação.
Aprofundamento
Para Beto Chaves, de certa forma, não há culpados pela forma como a situação foi abordada, mas faltou aprofundamento. “Os jornalistas acabam sendo pontuais, fazem a cobertura e vão embora”, diz. “Uma vez que moro lá, me coloco a disposição de ficar na comunidade, de perceber, ouvir, sentir o cheiro e pisar no chão dessas histórias. Aí a gente percebe um mundo totalmente novo”, afirma.
Outro mote do reality é mostrar como a comunidade percebeu a ação da polícia na região, que sentiu a ausência do Estado durante décadas. “Existe um receio natural, no entanto, a operação em si foi bem aceita e existiu um tom de esperança. Mas também uma insegurança sobre a manutenção daquele estado [de mais tranquilidade]”, diz Chaves.
Anônimo
Durante o tempo que esteve no Complexo do Alemão como civil, Beto Chaves optou por não se identificar imediatamente como policial aos moradores, para evitar um afastamento e receio, que define como “natural e imposto”. Como policial, ele já havia participado de várias operações na região – inclusive a da “tomada”. Todas as vezes ele estava armado.
No programa a “arma” é o relacionamento. “O que a gente tinha certeza absoluta era que precisávamos estabelecer relações humanas. Caso eu dissesse que era policial em um primeiro momento, ou me apresentasse como tal uniformizado, por exemplo, é obvio que as pessoas iriam reproduzir um estereótipo. Algo ligado à corrupção, fraude, violência, crime e morte”, explica.
Chaves faz questão de deixar claro que em 99% dos casos contou quem era, após estabelecer uma ligação mais forte e não sofreu resistências. “A partir do momento que a relação humana está criada, as pessoas me olham como Beto”, garante.
Para comprovar que o mais importante era estabelecer diálogos, Chaves utiliza como exemplo um churrasco no último dia do programa. “90% das pessoas com quem falamos foram, porque era o churrasco do Beto – não do policial, do jornalista ou do médico”.
“Isso é a prova de que somos capazes de derrubar essas barreiras. Todos estavam integrados e quebramos a barreira do preconceito”, acredita Beto Chaves.
(Gabriel Bonis/ Especial para a brpress)