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Guerra cibernética

(brpress) - Governos deverão preparar-se para um novo tipo de guerra: da informação. Um fenômeno sem volta. Por Leda Lu Muniz.

Leda Lu Muniz*/Especial para brpress

(brpress) – A notícia das manchetes dos últimos dias sobre a prisão de Julian Assange, o fundador do WikiLeaks,  provocou reações no mundo todo. Está em cheque a falta de transparência de vários governos, mas principalmente do Império americano. Pelo que se pode perceber, não há mais “segredos de Estado” que não possam ser colocados no ventilador.

O australiano de 39 anos mais procurado do mundo, até mais do que Bin Laden, sacudiu as estruturas do poder em escala global. A polêmica começou com a divulgação de documentos diplomáticos e do Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde estão desnudados os bastidores das relações internacionais.

Procura-se

A alegação desta “procura global”, é de que ele tenha cometido crimes sexuais na Suécia… Na Suécia????? Desde o início do século 20, a Suécia é um país onde a liberdade sexual se caracteriza como sendo um dos pilares que a distingue como sociedade livre. E justamente Julian Assange ser condenado por crime sexual num país em que a sexualidade e a sua derivada liberdade de escolha, fazem parte da educação das crianças desde a sua gestação? 

Como aconteceu?

Anna Ardin organizou um seminário sobre os meios de comunicação e convidou Assange. Este aceitou o convite para participar em agosto passado, em Estocolmo; ela o hospedou em sua casa, inclusive lhe oferecendo uma festa no dia 14 de agosto. Sofia Wilen ficou impressionada com Assange durante o seminário (sentou-se na primeira fila) e o abordou. Saíram, foram ao cinema e depois para sua casa.

Anna e Sofia. Ambas se conheciam, hospedaram Assange em suas casas, se relacionaram com ele e foram juntas denunciar Assange por crime sexual. Peças de um quebra-cabeça que não se encaixam.

E agora?

Julian Assange ficará preso em Londres até o dia 14 de dezembro. Muitos ofereceram dinheiro para pagar sua fiança (o cineasta Ken Loach, o jornalista investigativo John Pilger, a herdeira milionária Jemina Khan), que foi negada pelo juiz, alegando que ele poderia fugir.

De acordo com o jornal  Independent, que cita fontes diplomáticas, as autoridades de Washington começaram negociações informais com as autoridades suecas sobre a possibilidade de entregar o fundador de WikiLeaks para a justiça americana.

O ministro sueco das relações Exteriores, Carl Bidt, desmentiu tais informações veementemente: ”Temos um sistema judiciário independente, que age de modo independente, conforme a Lei e que não tem nenhuma ligação com as autoridades políticas suecas ou outras autoridades”.

O advogado de Assange no Reino Unido, Mark Stephens, anunciou o risco de “forças ocultas em ação” na possibilidade da extradição de seu cliente para a Suécia.

Apoio global

Após o início da perseguição internacional a Assange, seus seguidores e colaboradores tomaram medidas para proteger o site WikiLeaks, que já foi clonado em mais de 700 websites, para impedir que o material possa desaparecer da internet.

E o próprio Assange distribuiu, por meio da internet, um arquivo codificado que contém todos os endereços diplomáticos dos Estados Unidos, assim como informações adicionais de outros governos, cujo conteúdo ficará acessível caso lhe aconteça algo.

Ataque virtual em massa

Um movimento, denominado ‘Anonymous’, lançou a operação sob o nome ‘Payback’ (devolução) citando uma campanha contínua contra “organizações inimigas da liberdade”.

A chamada do  ‘Anonymous’ para atacar as páginas de PayPal, Visa, Mastercard e outras relacionadas com o caso WikiLeaks e seu criador começou na segunda-feira (06/12). Bloquearam a página da web de Mastercard depois que a empresa anunciou terça-feira que não administraria mais os pagamentos para a organização dedicada à filtragem  de documentos diplomáticos estadunidenses.

O ataque a Mastercard é o movimento mais potente em defesa de Assange, mas não é o único. O grupo ataca há várias horas também os sistemas informáticos dos advogados suecos das duas mulheres que acusam Assange de abuso sexual, em represália pelas  medidas tomadas,  e da Promotoria da Suécia por pedir sua extradição.

Pressão

Atacaram terça-feira a página web de Schweizer Post, o banco suíço que no dia anterior fechou a conta do fundador de WikiLeaks, Julian Assange, por ter sido acusado de facilitar para ele um domicílio suíço.

“Como organização, sempre mantivemos una postura firme em relação à censura e à liberdade de expressão e enfrentamos aqueles que tentam destruí-las por qualquer método”, afirmou um membro do ‘Anonymous’ à BBC.

Um dos principais doadores de fundos para WikiLeaks, a fundação Wau Holland, anunciou medida legal contra o fechamento, sem aviso prévio, de sua conta no servidor online do Paypal, bloqueando 10 mil euros em doações. O Paypal reconheceu que recebeu pressão dos Estados Unidos para cortar suas relações com WikiLeaks  “O Departamento de Estado nos afirmou que era ilegal. Foi muito direto”, afirmou um membro da empresa.

Homem do ano

Numa pesquisa com leitores da revista Time para eleger o “Homem do Ano”, Assange recebeu cerca de 300 mil votos – cerca de 80 mil a mais que o primeiro ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e mais de 160 mil à frente da cantora Lady Gaga.

Daniel Ellsberg, o “garganta profunda” que em 1971 revelou ao New York Times as mentiras de Estado sobre o  Vietnam (“Pentagon Papers”), considera Assange o herói do nosso tempo: “Esperei durante 40 anosdisse ele – para ver alguém derrubar os segredos de Estado a ponto de mudar o rumo da história”.

Um novo ator

A constatação é clara. Muito do que aprendemos sobre Relações Internacionais desde o fim da Guerra Fria, não serve mais para o mundo tal como se apresenta hoje, pois os parâmetros mudaram radicalmente nos últimos anos.

Indubitavelmente, o valor informativo desses documentos revelam uma série de fatos que servirão para uma melhor compreensão de alguns conflitos e personalidades que afetam de modo determinante a vida de muitos em vários países.

Novos atores condicionam as Relações Internacionais, tais como o fenômeno WikiLeaks, combinado com a força dos meios de comunicação (que usaram de forma responsável tais informações) e plasmam inúmeros requisitos acerca dos métodos para conduzir as relações diplomáticas no futuro.

A multiplicidade de conexões em rede nos leva à experiência de um novo tipo de modus operandi para o qual os governos deverão estar preparados no futuro. E para proteger e defender a soberania, deverão preparar-se para um novo tipo de guerra: a guerra cibernética. A guerra da informação.

Nem mesmo os mais visionários como Marshall McLuhan (autor da ideia de Aldeia Global) ou Samuel Huntington (autor de O Choque das Civilizações) teriam previsto um fenômeno como este. Um fenômeno sem volta.

Lembro-me da entrevista para apresentação de  meu projeto de doutorado, na USP em 1999. O conteúdo tratava  da comunicação /informação como um novo ator nas Relações Internacionais. Inesquecível a expressão de desdém do Prof. Dr. que me entrevistou: “Mas o que é que tem a ver ‘comunicação’ com Relações Internacionais, mocinha?”

Será que ele ainda mantém a mesma opinião?

(*) Leda Lu Muniz trabalhou durante 15 anos na área de Relações Institucionais e Internacionais da União Europeia, é mestre em Sociologia, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais. Fale com ela pelo e-mail [email protected], pelo Blog do Leitor ou pelo [email protected].

Leia mais sobre WikiLeaks aqui.

 

 

 

 

 

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