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Matt Damon vive ex-vidente em Além da VidaMatt Damon vive ex-vidente em Além da Vida

Eastwood em busca de respostas

(brpress) - Em Além da Vida, diretor trata da morte com envolvente e emocionante drama sobre destinos que se cruzam. Por Gabriel Bonis.

(brpress) – Três vidas em locais diferentes do mundo entrelaçadas por dois aspectos em comum: a morte e a busca por respostas sobre o “fim” inexorável para todas as criaturas. Esse é o fio condutor de Além da Vida (Hereafter, 2010), drama do diretor e ator quatro vezes vencedor do Oscar, Clint Eastwood, que estreia nesta sexta (07/01).

     O filme trata do encontro da espiritualidade após momentos marcantes da vida, como a perda de alguém querido, em um drama sobrenatural envolvente e emocionante (em excesso em certos momentos).

    Pela janela

    George (Matt Damon) é um ex-vidente solitário e atormentado por poder ouvir e ter visões dos mortos. Famoso, estabelecido e até com um livro sobre sua vida, desiste de tudo para ter a oportunidade de se sentir normal. O personagem guarda algumas semelhanças com Dave Boyle, papel que rendeu um Oscar a Tim Robbins, em Sobre Meninos e Lobos. Ambos são, de certa forma fechados em seus mundos, solitários e sempre olhando pela janela.

    A trama ainda traz Marie (Cécile De France), famosa jornalista francesa que passa por uma experiência de quase-morte, quando um tsunami atinge o local onde estava na Ásia – uma menção real ao fenómeno que afetou países como Tailândia, Indonésia, Índia e Sri Lanka, deixando cerca de 200 mil mortos, em 2004. 

    Há também os gêmeos Marcus e Jason, protetores da mãe viciada em heroína. Os dois são separados pela morte de Jason em um atropelamento, que culmina no envio de Marcus para um lar adotivo e na busca do jovem por maneiras de entrar em contato com o irmão falecido.

Emocional  

    A história enfoca a busca dos personagens pelo que está além da vida e, no caso do apático George (Matt Damon está muito bem), na fuga da habilidade que possui e o afasta de uma vida normal.
No fundo, a sobrenaturalidade do tema funciona como um gatilho emocional para o público, que não consegue ficar alheio à incessante busca de Marcus para se comunicar com o irmão, passando por diversos charlatões.

    Observa-se uma sutil e levemente cômica crítica ao assunto e até certo ceticismo, pois o personagem principal vivido por Damon é o único vidente real e ignora seu “dom”. Sobra também uma alfinetada para as visões do Islã e Cristianismo sobre a morte, pois a espiritualidade retratada não é religiosa, e sim pessoal, tentando desmistificar essa relação.
 
Tsunami

    Além da Vida envolve mesmo sem momentos de forte clímax, exceto na sequência do tsunami, otimamente reconstruída com efeitos especiais, e no acidente de Jason. O filme se segura por completo nos dramas pessoais dos personagens, conduzidos paralelamente sem nenhuma relação que não a morte.

    No entanto, o longa se apega a abordagens tradicionais sobre o assunto, como as visões relatadas por pessoas em situações de quase-morte e espíritos protegendo vidas de seus entes – Marcus é salvo pelo irmão antes de pegar um dos trens no metrô de Londres que explodiram nos atentados de 2005.

Sem conclusões

    Clint acerta ao mostrar como temáticas relacionadas à espiritualidade são vistas de maneira preconceituosa pela sociedade. Personifica em George, crente que sua habilidade é uma maldição, e na jornalista Marie, que perde a credibilidade, emprego e influência ao defender suas crenças, o peso de se discutir tais assuntos abertamente. 

    O encontro destas histórias em um mesmo lugar pode parecer impossível, mas é construído de forma a defender que a vida depende do destino e também para justificar e sanar necessidades dos personagens. A solidão dos protagonistas se dissipa quando suas vidas se entrelaçam e encontram parte do que procuravam.

    No final, Além da Vida é uma história de indivíduos em busca de alguém que compreenda seus medos e crenças, alguém capaz de se libertar de todos os preconceitos. É uma história de recomeço a partir da morte, mesmo sem trazer respostas para as perguntas que discute.

(Gabriel Bonis/Especial para brpress)

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