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Incerteza política

(Londres, brpress) - Situação incerta refletiu na queda das bolsas nesta tumultuada sexta-feira (07/05) e mostra que quem pode determinar se Brown fica no poder ou se será substituído por Cameron é Clegg. Por Isaac Bigio.

Isaac Bigio*/Especial para brpress

(Londres, brpress) – As eleições britânicas realizadas na última quinta-feira (06/05) resultaram num Parlamento “enforcado” – o chamado “hung Parliament”, anunciado nas primeira horas desta sexta-feira (07/05), depois de uma exaustiva contagem nacional que resulta no parlamentarismo representativo proporcional que rege o sistema político do Reino Unido. Como nenhum partido conseguiu a maioria do parlamento, não há um novo primeiro ministro eleito. O trabalhista Gordon Brown continua no cargo, mas o Labour não governa sozinho o país.

Os conservadores conseguiram 36% dos votos e 306 dos 650 MPs (membros do Parlamento), o que implica que obtiveram 47% do Parlamento. Os trabalhistas tiveram 29% dos votos e 258 MPs (quase 40% do Parlamento). Os liberais tiveram 23% dos votos e 57 MPs (quase 9% do Parlamento). Os conservadores apenas poderiam chegar ao governo se o primeiro ministro Gordon Brown renunciasse e, para ocupar o número 10, em Downing Street, deveriam buscar um acordo com os liberais democratas, seja convidando-os para compor o Gabinete, seja pedindo que, pelo menos por um tempo, não lhes fizessem oposição.

Foi justamente o que Brown – que não mudou de endereço, como parecia praticamento certo, pelo menos por enquanto  – fez. Num pronunciamento nesta tarde, convidou Nick Clegg, o candidato liberal democrata – e o fator X destas eleições –, e até o conservador David Camaron, a compor uma aliança. Cameron sugeriu o mesmo a Clegg em seu pronunciamento. Caso os conservadores e os liberais componham uma coalizão, há perigo à vista aos trabalhistas. Estes, por sua vez, apenas poderiam conservar-se no poder formando uma ampla coalizão anti-conservadora. Para isso, é fundamental que formem um bloco “progressista” com os liberais.

No entanto, só isso não seria suficiente, pois uma união dos “libs”  com os trabalhistas soma apenas 312 MPs (14 a menos que a maioria absoluta, que é de 326). Os MPs que lhes faltassem deveriam ser buscados em partidos menores que estão entre o centro e a esquerda: 6 do Partido Nacionalista Escocês (SNP); 3 do Partido de Gales (Plaid Cymru), 3 do Partido Trabalhista e Social-Democrata da Irlanda do Norte (SDLP), 1 dos Verdes e 1 da Alliance Party (partido-irmão dos liberais, na Irlanda do Norte).

Derrota histórica

Hoje são 9 MPs Unionistas na Irlanda do Norte – com o destaque para a derrota histórica do primeiro ministro norte-irlandês, Peter Robinson (DUP), que, envolvido em denúncias de corrupção, perdeu seu assento no Parlamento. Esta corrente é parte da direita, mas o Partido Democrata Unionista, aliado dos conservadores, não conseguiu eleger nenhum parlamentar, e os que foram eleitos não têm peso para garantir uma maioria absoluta para os conservadores ou vontade de integrar-se a um gabinete “Tory” (conservador).

O fato é que o sistema político britânico está em crise, no momento em que a crise econômica se agrava. A incerteza refletiu na queda das bolsas em Londres nesta tumultuada sexta-feira. Outro fato é que, neste momento, quem tem a capacidade de determinar se Brown fica no poder ou se será substituído por Cameron é Clegg, que terá de pagar um preço alto para definir a situação.

Neste cenário, três situações podem ser prováveis:

1. O novo governo poderia não durar muito (repetindo a situação do parlamento anterior, sem maioria, como em 1994, e que não consiga chegar a um ano;

2. O Reino Unido entraria num período de coalizões entre partidos (pouco usual em sua história);

3. O país caminharia para mudanças constitucionais e para novas formas de representação parlamentar.

(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio lecionou na London School of Economics e assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Resende/brpress.

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

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