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Alain Delon: galã caído na real é homenageado em Locarno. Foto: Divulgação/image.netAlain Delon: galã caído na real é homenageado em Locarno. Foto: Divulgação/image.net

Alain Delon na sinceridade

(Locarno, brpress) - Depois de homenageado no Festival de Locarno, ator deu entrevistas e fez declarações sinceras. Rui Martins conversou com o mito.

(Locarno, brpress) – “Não sou um apaixonado pelo cinema de hoje e, acredito, que não sou o único a dizer isso”, dispara o mítico ator Alain Delon. “Tive a chance de ter vivido um outro cinema, dos anos 60 aos 80, diferente do que se pratica hoje – um cinema que fazia sonhar…”.

    A seguir leia os melhores trechos da entrevista:

Algum filme recente que gostaria de ter feito ?
Alain Delon – Há um filme que vi recentemente que gostaria de ter feito o papel principal: Intocáveis (Intouchables, 2011).

De onde veio sua vontade de fazer cinema?
Alain Delon – Um dia, no escritório do que seria o diretor do meu primeiro filme, vi o filme de Sacha Guitry e ali senti que queria fazer o cinema. Eu não entendia nada de cinema, tinha acabado de terminar o exército. E quando ouvi ele dizer que ser ator de cinema era a mais bela profissão do mundo, pelo que ela dá aos outros, decidi encarar: “É isso que vou fazer”, me disse a mim mesmo.

Embora tenha trabalhado em Asterix, nunca fez comédia. Por quê?
Alain Delon –  Porque não é meu estilo, não é meu jeito e nem meu gênero. O exemplo que dou sempre é o de um trem que entra na estação e numa janela está Belmondo e na outra Delon. Quando Belmondo passa todo mundo ri, quando Delon passa ninguém ri. Então, deixei a comédia para Belmondo.

O sr. acredita que se tivesse investido mais na comédia Belmondo teria tido mais concorrência?
Alain Delon –  Quando as pessoas vêem a cara de Belmondo não podem deixar de rir, mas comigo é o silêncio. Eu nunca tive o senso da comédia. No filme Asterix, o diretor viu que não conseguia me fazer rir e me deu, então, o papel de Julio César. Fazia tempo que eu não fazia um filme, então aceitei.

Tem medo da velhice ?
Alain Delon -Não, não tenho medo da idade. Tenho medo da doença. Em respeito ao público que me viu, me fez e que me amou e seguiu, durante todos esses anos, decidi que nunca me mostrarei enfraquecido, desfigurado. Seu eu viesse assim aqui, vocês não gostariam e não seria digno. O dia que isso acontecer, vocês não me verão mais.

Como é o homem Delon politicamente ?
Alain Delon – A coisa que notei na vida é que os únicos seres que não pegam aposentadoria são os políticos e os atores.
Serei bem breve. Não sou apaixonado pela politica, mas é verdade que era amigo do ex-presidente da França. Sempre fui um homem de direita e não sou um militante socialista.

Quais eram suas relações com Visconti?
Alain Delon –  Primeiro devo dizer que não fiz filmes só com Visconti. Minha relação com Visconti, no início, era atentiva, respeitosa e submissa porque Visconti era um mestre, mais um diretor de ópera que de cinema. Mas para se colocar as coisas no seu lugar, fiz um filme antes de Visconti, em 1959, Plein Soleil, de René Clement, e foi vendo esse filme que Visconti decidiu que eu seria Rocco. Para mim essa fase foi importante.

E sua carreira na Itália? Também considera importante?
Alain Delon – Fiz cinema na Itália com Antonioni e outros. Essa fase foi muito mais imporante. E como eu era um jovem, foi só bem mais tarde que descobri a chance e o privilégio que tive, E é também por isso que digo não se tratar do mesmo cinema de hoje.

O sr. se considera um ator difícil de ser dirigido?
Alain Delon – Ao contrário do que dizem, não sou o ator difícil com os grandes diretores – sou difícil com os imbecis. Com os grandes vou de olhos fechados, mas com aqueles que não sabem sequer onde colocar a câmera, sou terrível.

Quais são os diretores que mais admira?
Alain Delon – Com os diretores citados e com Melville, tudo tinha seu lugar marcado, fosse o chapéu, o laço, o cachecol, os sapatos, tudo estava previsto. Esses diretores, como Clement, têm tres qualidades essenciais ao diretor – primeiro dirigem como o ator deve ficar, sentado com as pernas cruzadas ou não; a seguir , diz o que o ator vai fazer, quando entra em cena; e, por fim, vai atrás da câmera.

Não há nenhum diretor da atualidade que o senhor admire?
Alain Delon – A maioria dos atuais diretores têm só uma ou duas dessas qualidades – nunca as três. Antes, os realizadores também escreviam. Agora, raramente. E o que fazem é mais pelo dinheiro. O diretor é como o chefe de orquestra. Naquela época poderia nomear facilmente dez. Hoje, teria dificuldade.

Tem uma preferência pela tragédia ?
Alain Delon – É algo mais próximo de minha vida, como diria Pascal Jardin, são as lágrimas da minha infância, pois minha vida foi bastante trágica até o começo do cinema. Depois, foi transportada  para o cinema. Minha infância foi difícil, mas isso é da minha conta. Em seguida, entrei bem cedo para o exército, com 17 anos, e fui aos 18 para a Indochina. E de regresso fiz coisas totalmente diferentes e provavelmente não estaria vivo hoje. E de duma maneira miraculosa e rara, o cinema veio de buscar.

E por que acha que teve uma chance no cinema?
Alain Delon – Pelo meu físico, basicamente, mas que não correspondia ao que eu pensava ou tinha no meu interior. Talvez por isso esta minha relação com a tragédia. Mas eu sou um caso raro: não fui ao cinema; foi o cinema que veio me buscar.

Faz-lhe falta hoje o cinema ?
Alain Delon – Não, porque nele tudo conheci e tudo vivi. Só pode faltar para quem não fez tudo com esses diretores com os quais trabalhei. Hoje, prefiro viver mais das minhas lembranças com eles do que fazer outra coisa.

Por que não fez cinema nos EUA ?
Alain Delon – Fiz dois filmes nos EUA e me disseram para eu ficar lá que me tornara um grande star. Mas eu não queria ficar nos EUA e não gostava de viver lá, embora gostasse do cinema americano. A França e Paris me faziam uma falta enorme e eu lhes disse: “Quando quiserem fazer algum filme comigo me chamem”. E retornei à França e fiz minha carreira na Itália e depois na França. Meu filho Anthony nasceu nos EUA.

Como foi trabalhar com Burt Lancaster?
Alain Delon – Foi como trabalhar com Jean Gabin, dois mestres. Lancaster era um dos meus ídolos. Outro grande foi John Garfield. Certa vez, disse a Marlon Brando que gostaria de fazer um filme com ele, nem que fosse para ser numa cena de camareiro. Mas não tivemos a chance de fazer isso.

(Rui Martins/Especial para brpress)

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