O Artista deixa ingleses enciumados

(Londres, brpress) - Vencedor de sete Bafta, filme francês é maior motivo de ciumeira britânica – quiçá não americana, caso ganhe algum dos dez Oscar a que está indicado. Por Juliana Resende.

Londres, brpress) – Só o sorriso lindo do ator francês Jean Dujardin já vale o ingresso para o filme O Artista. Em Londres para uma entrevista memorável com Paul McCartney, quando só se falava no filme e ele ainda não havia estreado no Brasil, esta repórter desembolsou £15 (cerca de R$ 40, caro, né?) para assistir à essa obra prima em preto e branco e, assim, poder dar pitacas com propriedade sobre o maior orgulho do cinema francês e maior motivo de ciumeira britânica – quiçá não americana, caso o filme seja citado depois do bordão “And the Oscar goes to..”, neste domingo (26/02).

    Antes de O Artista arrebatar nada menos que sete Bafta, o Oscar do cinema britânico – melhor diretor (Michel Hazanavicius), ator (Jean Dujardin), roteiro original, figurino, fotografia e trilha original –, já se lia, nos jornais gratuitos e ensebados que circulam de mão em mão no metrô londrino, notas com pontas de desafetos e inveja, em que órgãos públicos de fomento à sétima arte na terra da Rainha, ligados à British Academy of Film and Television Arts, falavam sobre “a lição” que o cinema francês estava dando ao Reino Unido de como fazer algo que encantasse o mundo sem um megaorçamento ou uma ideia pra lá de original (a produção francesa simplesmente recria a Hollywood do final da década de 1920).

Encantador

    Sim, O Artista é encantador  – se tiver de escolher um filme de Oscar para ver, não titubeie e aposte neste. Mas o que está em xeque é se a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vai facilitar para a francesada como o Bafta facilitou, ajoelhando-se sem cerimônia mas com muita reclamação ao outro lado do Canal da Mancha – onde o inimigo histórico sempre espreita, geralmente com uma classe de dar bonjour a hooligan.

    O fato de ser não anglo-saxão mas versar sobre um universo forjado por esta cultura – a indústria do entretenimento – confere a O Artista um charme a mais e uma leveza que só Fred Astaire conseguia quando dançava. Nesse sentido, os artistas de O Artista dão um show de interpretação e expressão corporal num filme mudo – mas que fala muito ao declarar seu amor e ao mesmo tempo criticar as engrenagens perversas de Hollywood.

Dez vezes no Oscar

    O Artista, que já demonstrara seu potencial arrasador antes do Bafta, como o grande vencedor do Globo de Ouro, premiação americana concedida pela imprensa estrangeira baseada em Hollywood – ganhou como melhor comédia, melhor ator de comédia (Juan Dujardin) e trilha sonora –, está indicado em nada menos 10 categorias no Oscar: melhor filme, diretor, roteiro, ator principal (Jean Dujardin), atriz coadjuvante (Bérénice Bejo), trilha sonora, edição, fotografia, figurino e direção de arte. É a primeira vez que um filme francês recebe tantas indicações.

    Só a A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, o supera, com onze indicações. O Artista concorre ao Oscar de Melhor Filme com ele, mais Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg, A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, Meia-noite em Paris, de Woody Allen, A Árvore da Vida, de Terrence Malick, além de Tão Perto e Tão Forte, Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo, Os Descendentes e Histórias Cruzadas.

    Antes do Oscar, O Artista ainda pode ganhar, no sábado (25/02), alguns (ou todos) dos cinco Spirit Awards, prêmio do cinema independente, ao qual está indicado. Só faltou o filme ter sido indicado ao Oscar de Melhor Cachorro Amestrado – que já estaria no papo do Jack Russel Terrier Uggie, astro de quatro patas que contracena com Dujardin. O cão ganhou o Golden Collar Awards, por sua performance em O Artista, prêmio canino ao qual já havia sido nomeado pela “atuação” em Água Para Elefantes.

    Até nisso os ingleses – que adoram cãezinhos terriers – ficaram enciumados. Auau.

(Juliana Resende/brpress)

Assista ao trailer de O Artista: