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Xingu: luz no Brasil escondido  

(São Paulo, brpress) - Saga humanista dos irmãos Villas-Bôas transforma aventura épica em combustível para questão atual do Xingu. Por Juliana Resende.

(São Paulo, brpress) – É com o filme Xingu que o cineasta Cao Hamburger acredita estar contribuindo para fomentar, na sociedade brasileira, a discussão sobre o modelo de desenvolvimento que o país deseja para si e seus habitantes. “Se você acha que o Brasil não tem heróis, vá assistir a Xingu”, conclama o diretor. “Esses [os irmãos indigenistas Villas-Bôas, responsáveis diretos pela criação do Parque Nacional do Xingu] são os verdadeiros heróis”, acredita Cao.

    Em entrevista coletiva à imprensa, no lançamento do filme em São Paulo, Cao, elenco, produtores, patrocinador e até o diretor Fernando Meirelles, representando a O2 Flmes, que  assina a produção do longa, jogaram ainda mais luz não só na saga humanista e desbravadora dos irmãos Villas-Bôas, no centro-oeste do Brasil, mas na equação preservação X progresso, que ainda domina, maquivelicamente, o projeto desenvolvimentista do país, 50 anos após a criação do Xingu, a maior reserva indígena do mundo.

    O filme, cujo enredo é a luta, a dedicação e os riscos que os irmãos Villas-Bôas enfrentaram para contatar, conhecer e proteger os índios brasileiros (até então “virgens” no contato com os brancos) da integração indiscriminada com a “civilização”. O trunfo de Xingu é contar uma história épica com um tema atual. “Surpresa”: a política governamental da época – “progresso a qualquer custo” –, não difere muito da democracia social no Brasil de hoje.

‘Abraço de morte’

    Foi essa ambiguidade – à sombra da polêmica gerada pela usina de Belo Monte – , que levou Cao Hamburger ao Xingu pela primeira vez. “Foram várias viagens, mas a primeira vez que mergulhei naquele universo mágico, naquele oásis (os arredores do Xingu estão muito desmatados, por conta das queimadas nas fazendas), fiquei fascinado e abracei a causa. Esperamos que o filme lance luz à questões ambientais e à urgência que a sobrevivência do Xingu pede”, diz o diretor.

    Ao abraçar a causa, Cao e equipe puderam ver com os próprios olhos o “abraço da morte”, ao qual os irmãos Villas-Bôas se referiam com relação à inevitável aproximação dos brancos ao território indígena. Meirelles lembra que a “Transamazônica (cuja construção começou quando os Villas-Bôas começavam a conseguir a demarcação do Xingu) é a Belo Monte de hoje”.  No filme, essa analogia é proposital numa cena da inauguração da estrada em Altamira (PA) – o mesmo município que vai abrigar Belo Monte e mais 17 usinas.

    “O que vai ser do Rio Xingu? Ele é o ‘mercado do índio'”, indaga o cacique Kuikuro (povo com a maior população no Alto Xingu), Tabata. “Quero perguntar isso à presidente Dilma e nós queremos uma resposta”, diz o índio, que atua em Xingu e já participou de outras produções audiovisuais sobre o parque, como o seriado da Manchete, nos anos 80. Tabata é testemunha ocular de que o rio não está para peixe – e tende a secar com a instalação de usinas na região.

Expedição

    Além das óbvias conclusões ambientais, Xingu proporcionou aos seus “navegantes” uma verdadeira experiência de expedição – “aprendemos a andar na mata, a fazer oca, a caçar. Foi um encontro riquíssimo e cheio de causos”, conta o ator Caio Blat, que vive Leonardo Villas-Bôas, o mais novo dos três irmãos, Cláudio (João Miguel, sensacional no papel) e Orlando (Felipe Camargo, reativando sua carreira em grande estilo).
   
    “Conversamos muito com índios, diretamente”, ressalta Cao. Falando neles, os atores profissionais se impressionaram com a capacidade do elenco indígena de interpretar. Eles foram selecionados e preparados pelo diretor de casting Chico Accioly – num processo semelhante ao de Cidade de Deus. Os índios não só se mostraram exigentes no set, como botaram a trinca de atores profissionais no limite de seus “laboratórios”.

     Felipe Camargo conta que “os índios nos colocaram numa mata e, de repente, do nada, ou melhor, da mata, surgiram uns 20 guerreiros cercando a gente. Foi o exercício de preparação mais forte que fiz na vida. Fiquei com muito medo”, admite. Para Camargo e Miguel, “de tanto fazerem os rituais e uma encenação física para tudo, os índios têm um preparo natural para entrar em cena a qualquer momento”.

Metáfora

    Para João Miguel, Xingu criou uma sintonia muito grande entre a produção e o elenco profissional, a partir do contato com índios de diversas etnias. “Vivemos uma metáfora da história dos irmãos no set”. Há,  de fato, um sentimento ‘xinguano’ que brota em cada espectador do filme. Xingu foi aplaudido no Festival de Berlim, onde ganhou prêmio de Melhor Filme eleito pelo público. Mas, sendo brasileiro, é impossível ficar impávido ao desenrolar da aventura.

    “Interessa-me é o que nós podemos aprender com essa cultura. O Brasil tem um tesouro e faz questão de esconder em vez de incoroporar esse conhecimento no seu processo de desenvolvimento”, enfatiza Cao.

    O filme – inspirado livremente no livro A Marcha Para o Oeste, de Cláudio e Orlando Villas-Bôas, que a Cia. das Letras lança oportunamente –, assegura que não há só veneno nem só antídoto para o Xingu. Há uma riqueza cultural imensa, diversidade de informação, necessidade de discussão e de políticas que possam incorporar as demandas da região, sem que o projeto de país do novo milênio seja prejudicado, e, claro, muita história para contar – como a incrível viagem dos Villas-Bôas e dos habitantes do que veio a ser chamado de Brasil. Que assim seja ainda por muitos séculos.

Xingu estreou em 06 de abril.

(Juliana Resende/brpress)

Blog oficial do filme: http://xinguofilme.blogspot.com.br

Assista ao trailer de Xingu:

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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