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Drogas: alto consumo por fuga ou prazer?

(brpress) – Pesquisa com 18 mil universitários aponta que quase metade fez uso de drogas pelo menos uma vez. Gabriel Bonis ouviu profissionais a respeito.
(brpress) – Uma pesquisa inédita realizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, divulgada em julho deste ano, traça, pela primeira vez, o mapa do uso de substâncias ilícitas, tabaco e álcool entre universitários brasileiros, apontando elevados níveis de consumo.

O I Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários foi conduzido nas 27 capitais brasileiras, envolvendo mais de 18 mil estudantes de instituições privadas e públicas. Eles responderam a um questionário com três medidas sobre o consumo de drogas: se experimentou em algum momento da vida, se utilizou ao menos uma vez nos últimos 12 meses e se fez uso pelo menos uma vez nos últimos 30 dias.

Metade experimenta 

Os dados mostram que 49% dos entrevistados já experimentaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez e 40% utilizaram dois ou mais tipos destas substâncias nos últimos 12 meses. Porém, apesar dos altos números, a possibilidade de dependência não é o único fator a ser analisado.

Para o psicólogo e sociólogo Antônio Carlos Egypto, que trabalha há 20 anos com educação, as justificativas utilizadas para o consumo também precisam ser discutidas: prazer e possibilidade de esquecer os problemas.

“Essa necessidade de escape está indicando que a maneira de lidar com as coisas não é apropriada. Procuramos válvulas de escape para o que nos incomoda, mas uma busca tão grande indica que algo não está indo bem no sistema educacional, no mercado de trabalho. Percebemos a pressão que os jovens sofrem no trabalho, as exigências. Mas é preciso encontrar saídas que não os prejudiquem”, acredita Egyto.

Segundo dados de 2008 da Undoc, agência da ONU para combate às drogas e ao crime, cerca de 5% da população mundial na faixa etária de 15 a 64 anos se qualifica como usuária de drogas ilícitas – sendo que, em 2007, o número ficou entre 172 e 250 milhões de consumidores. Porém, a parcela dos considerados dependentes está abaixo de 0,6%, estimada na casa de 18 a 38 milhões de indivíduos. Em relação ao álcool, os números são mais elevados: dos 75% da população entre 12 e 65 anos que já fez uso da substância, 12,3% desenvolveram dependência.

Consumo X vício

Consumo não significa necessariamente vício, como o próprio levantamento Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas confirma, ao estabelecer em 22% a estimativa dos universitários em risco de se tornarem adeptos de álcool e 8% de maconha. No entanto, isto não significa passe livre para as drogas. A utilização de substâncias ilícitas, álcool e tabaco ainda na juventude apresenta riscos à saúde, principalmente se em excesso e por tempo prolongado.

“Quanto mais cedo se inicia o consumo de álcool ou outras drogas, maiores são os riscos de problemas futuros, tanto relacionados ao uso nocivo e dependência, como ligados ao aumento do risco de aparecimento precoce de outros transtornos mentais e doenças de diversos sistemas biológicos”, explica o psiquiatra do CAPSad – Centro de Apoio Centro de Atenção Psicossocial/Álcool e Drogas, Luís Pereira Justo.

Álcool

O estudo apontou maior incidência de consumo de álcool, tabaco e outras drogas entre os universitários que na população em geral. Dos jovens pesquisados, 36% beberam mais de cinco unidades alcoólicas, em um período de duas horas, nos últimos 12 meses e 25% nos últimos 30 dias. Padrão acima das recomendações que, se mantido por tempo prolongado, pode levar à cirrose ou danos pancreáticos, além de vários tipos de câncer.

“Todo o consumo de álcool implica certo risco. Mas, atualmente, as evidências indicam que o consumo de até duas doses por dia para homens e uma dose para mulheres é um padrão relativamente seguro. Ainda, este tipo de consumo pode ser benéfico para prevenir alguns problemas cardiovasculares, mas para as mulheres, é possível que o consumo mesmo de uma só dose [cerca de 13,5mg] por dia aumente o risco de câncer de mama”, afirma Justo.

‘Glamour’

Os elevados níveis de uso destas substâncias, apontados no levantamento, podem ser explicados por diversos fatores. “É muito compreensível que o álcool seja consumido, até porque não tem aparência de algo que faz mal. Ao contrário, é glamorisado, associado a sexo e mulheres bonitas nos comerciais. Outro ponto que explica a atração pelas drogas é a busca de soluções fáceis e respostas rápidas para as coisas. Nós desenvolvemos na sociedade a crença de que há uma solução química para tudo, não temos de nos frustrar, ir à batalha ou a luta. Vamos atrás de um remédio que resolva qualquer coisa”, diz Antônio Carlos Egypto.     

O sociólogo também afirma que os universitários estão em uma fase da vida na qual se aventurar e ser mais transgressor é comum, além de terem condições financeiras para bancar tais experiências. “Estamos falado de um extrato economicamente favorecido com um pouco mais de recursos, até para adquirir drogas”.

Moralismo

O governo e diversas instituições realizam campanhas de conscientização sobre as conseqüências do uso de drogas, mas de acordo com Egypto, a abordagem constantemente utilizada é ineficaz. “Não sei até que ponto o conhecimento sobre drogas e sólido. Quando você conversa com jovens sobre drogas, seus efeitos, riscos e o que produzem no organismo, percebe-se que eles sabem muito pouco. Conhecem o discurso moralista de que as drogas matam, mas não o levam a sério. Porque quanto mais assustadora for a mensagem, menos ela funciona”, explica.
 
Apesar das medidas educativas não alcançarem os efeitos desejados, o psiquiatra do CAPSad, Luís Pereira Justo acredita que ainda são uma opção viável para a conscientização. “A prevenção dos problemas futuros é sempre tarefa muito difícil, de resultados incertos, mas que sempre deve ser tentada. Apesar de alguns dados apontarem para baixa efetividade de medidas educativas, este tipo de ação deve sempre ser tentado, com adequação das medidas aos contextos em que serão aplicadas”.

Diálogo honesto

Segundo o psicólogo, é importante haver um programa sistemático de discussão das drogas de maneira “honesta, que dê informação correta, adequada e respeitando a verdade para não fazer terrorismo ou falsas ameaças. Um programa que possa discutir o prazer que a droga traz e as conseqüências associadas a esse prazer, ou seja, precisamos produzir reflexão, debate”, sugere Justo. E conclui: “Além disso, há as questões da oferta de drogas, legislação e policial, que são conseqüências relacionadas à sociedade. O que podemos fazer é educar, refletir e não uma exortação”.

(Gabriel Bonis/Especial para brpress)

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