Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Lois DavisLois Davis

Por que é preciso parar bombardeios na Síria

(Londres, brpress) - E no Iraque, no Afeganistão, Mali, Somália, Líbia, Iêmen e outros, como quer a Stop the War Coalition. Isaac Bigio explica.

(Londres, brpress) – Neste sábado (28/11), milhares de pessoas se aglomeraram em frente ao gabinete do primeiro ministro  britânico, David Cameron, para  impedir mais bombardeios na Síria como resposta aos ataques em Paris e ameaças do Estado Islâmico. Protestos contra a ação de acirramento dos ataques aéreos   a alvos supostamente do EI em território sírio ocorreram em todo o Reino Unido, de forma pacífica, liderados pela Stop the War Coalition.

    O que se coloca em cheque é a eficácia dos bombardeios no combate ao  terrorismo, já que os mesmos já ocorrem desde as guerras do Afeganistão e Iraque, há 15 anos, e isso não cessou atividades terroristas. Ao contrário, parece fomentá-las ainda mais, justificando novos recrutamentos e o surgimento de novos grupos. O músico Brian Eno, um dos apoiadores da Stop the  War Coalition, afirmou que “bombardear a Síria é tornar o sonho do Estado Islâmico  realidade”.

Efeito colateral

    Milhares de civis vêm sendo mortos por conta das ações militares dos  EUA, França, Reino Unido e Rússia no Oriente Médio, a crise dos refugiados destas guerras é a maior desde a Segunda Guerra e o massacre em Paris revela falhas nos serviços de inteligência ocidentais e a sofisticação internacional tafrikista, que tem sede entre o Iraque e a Síria. O tafrikismo é uma corrente intransigente que deseja estabelecer uma teocracia sunita reprimindo pessoas de outros credos, desde cristãos até muçulmanos de outras linhagens.

    O argumento dos seguidores do “Califa Ibrahim” é que as potências ocidentais têm vindo a produzir centenas de milhares de mortes no mundo muçulmano em suas sucessivas guerras no Afeganistão, Iraque, Mali, Somália, Líbia, Síria, entre outros, e que tais ações seriam casos para tribunais penais internacionais, como a punição para os bombardeios franceses, britânicos e americanos.  

    Se o atentado de 11 de setembro de 2001, em Nova York, rotulou a Al Qaeda como núcleo do fundamentalismo sunita, o sangue derramado em Paris está sendo usado por dissidentes da Al Qaeda, como o Estado Islâmico, para mostrar que agora eles é que são o principal destaque do terrorismo fundamentalista.
 
    Todos os 193 países membros das Nações Unidas se solidarizaram com a França, enquanto bandeiras francesas tremulam em todos os lugares  do planeta.O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que esses atentados confirmam que a Rússia estava certa ao realizar milhares de bombardeios sobre a Síria, em apoio ao governo daquela nação. Ele afirma ainda que essas ações militares deverão se intensificar.
 
Mãos ‘erradas’

    O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, numa reunião em Viena com os seus colegas da Rússia e de outros países, confirmou mudança de sua política para com a Síria. Faz quatro anos, Obama financiou em bilhões de dólares os insurgentes contra o governo de Bashar al-Assad, em Damasco. Mas grande parte destes “rebeldes”, bem como dos recursos e armas da OTAN acabaram nas mãos da Al Qaeda e dos grupos de origem, incluindo a seção oficial síria da rede Al Nusra e a fração radicalizada destes que, em 2014, proclamou a fundação de um Estado Islâmico que liga o leste da Síria com o oeste iraquiano.
 
    Kerry propõe agora um acordo entre seus amigos rebeldes e o governo sírio para combater o Estado Islâmico e inaugurar uma república viável naquele país. Depois de Washington transformar Assad no novo Saddam Hussein ou Muammar Kaddafi (ambos depostos por seus aliados), o governo americano agora está disposto a se associar ao governo sírio que, apesar das barbaridades que vêm cometendo contra seus opositores, é apoiado pelas tropas aéreas russas, associadas ao Irã e o Hezbollah no Líbano.
 
    O massacre de Paris é uma nova resposta à política da OTAN sobre o mundo muçulmano. Inicialmente, ações da CIA e serviços de inteligência dos aliados sauditas e paquistaneses culminaram na criação da Al-Qaeda, como uma ferramenta para atacar o governo esquerdista do Afeganistão, apoiado pela intervenção soviética de 1979 e a revolução iraniana também ocorrida naquele ano.

    Após a intervenção militar da OTAN no Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria forneceram incentivos para o crescimento dos apoiadores de Bin Laden, incluindo países onde Al Qaeda nunca teve bases fortes. O Estado Islâmico cresceu graças ao apoio logístico da Turquia, da Arábia Saudita, do Qatar e de várias petromonarquias árabes, que o armou e também o financiou para minar o governo de Assad na Síria, acirrando a guerra civil.
 
    A Arábia Saudita, uma das teocracias monárquicas mais despóticas do planeta, promoveu uma versão totalitária e sectária do islã, proibindo igrejas, partidos, sindicatos e reprimindo os direitos das mulheres e das minorias muçulmanas não sunitas. Os sauditas e seus parceiros do Qatar impuseram a um membro de sua multimilionária família oligárquica (Bin Laden) a tarefa de lutar no Afeganistão, recebendo depois incentivos de grupos jihadistas na Líbia, no Iraque e na Síria.
 
    Os sauditas também têm impulsionado estes grupos contra o Irã e os movimentos xiitas que governam no Iraque e no Líbano, que compõem a maioria do Bahrein (ilha que invadiram para suprimir os protestos populares anti-monarquistas) e veio para tomar o poder no Iêmen, república que recebe bombardeios massivos. No entanto, para Washington e o Ocidente as autocracias árabes que fornecem petróleo barato são os seus maiores aliados no Oriente Médio.

    Segundo a polícia francesa, um dos terroristas em Paris seria um refugiado sírio que seguiu para a Europa em 2015, através da Grécia. Esta informação, mesmo não confirmada, pode ser utilizada como uma arma contra as centenas de milhares de refugiados desesperados pelas guerras e atingidos pela pobreza produzida pelas potências ocidentais e pelos governos corruptos de seus próprios países para conter a maior onda de imigração europeia nos últimos dois terços de século.

Eleições na França

    A França suspendeu a liberdade de circulação entre os seus outros vizinhos europeus. Enquanto isso, muros estão sendo construídos nas fronteiras da Hungria e Croácia. Os imigrantes são os que pagam a fatura de tais atrocidades, pois já sofrem restrições reforçadas, enquanto os EUA avançam com a proposta de se construir um paredão separando o país da América Latina, na fronteira do México. Se o xenófobo Donald Trump avança como o favorito das internas republicanas, exigindo a expulsão de 12 milhões de pessoas irregulares (a maioria latino-americana), na França, a Frente Nacional neofascista espera conseguir mais votos do que o partido do governo nas eleições regionais, marcadas para 06 e 13 dezembro.

    A Frente Nacional francesa se aproveitou da tragédia em Paris para solicitar o fechamento de mesquitas e deportar muçulmanos, a quem chama de “radicais”. A França é o país da União  Europeia com o maior número de muçulmanos e têm sido objeto de numerosos ataques racistas e islamofóbicos, inclusive, por parte da polícia nacional. 

    No Reino Unido a possibilidade de haver um novo ataque terrorista como o de 7 de julho, faz 10 anos, não é algo tão fácil de ocorrer como na França, devido ao controle mais rigoroso da circulação de pessoas nas ilhas, a proibição para o transporte de armas de fogo e um serviço de inteligência mais eficaz. No entanto, essa possibilidade não está descartada.
 
    Os ataques em Paris serão usados por Cameron para exigir uma maior intervenção militar no Oriente Médio e assim, manter o projeto bilionário do submarino nuclear britânico Trident. Paradoxalmente, a carnificina de Paris ocorreu imediatamente após o próprio chefe do governo britânico aplaudir a morte de um compatriota em um bombardeio estrangeiro. Este ato foi perpetrado pelos EUA contra o inglês conhecido como “John Jihadista”, um muçulmano nascido e criado na Grã-Bretanha, que foi para a Síria se tornar carrasco de reféns ocidentais no EI.
 
    O novo líder trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, refuta que o acirramento dos bombardeios na Síria pelos EUA e aliados vá tornar o Reino Unido, EUA e/pu França mais seguros e indica que a melhor maneira de evitar novos ataques terroristas seria retirando a presença militar britânica do mundo muçulmano e investir num Estado palestino. Corbyn resolveu consultar todos os parlamentares trabalhistas sobre que posição tomar na votação sobre o aumento dos ataques aéreos britânicos na Síria que Cameron pretende convocar.

    Enquanto a maioria dos líderes ligados ao Partido Trabalhista argumenta que a melhor maneira de evitar a radicalização da minoria muçulmana britânica e novos ataques no arquipélago seria cessar as intervenções no Oriente Médio, bem como a crescente discriminação contra os imigrantes, a tendência oficial do governo é responder aos ataques a Paris com mais bombardeios.

(Isaac Bigio*/Especial para brpress, com informações do jornal The Guardian e Stop the War Coalition)

(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics.

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate