
Feira de encontros musicais
(Recife, brpress) - Shows e troca de ideias sobre soluções e questões pertinentes ao mercado fonográfico marcaram a Feira Música Brasil, que movimentou mais de R$ 4,8 milhões em negócios. Por Jarmeson de Lima.
(Recife, brpress) – A Feira Música Brasil (FMB), que aconteceu no começo do mês na capital pernambucana, foi marcada não só pela eventual oferta e demanda de negócios da área musical, mas também pelos encontros e parcerias musicais que têm surgido dentro e fora dos palcos.
Nestes dias, foi possível circular pelas ruas do Recife Antigo, bairro sede do evento, e encontrar vários músicos e produtores conversando entre si e negociando turnês, lançamentos de discos e shows em conjunto. Segundo a organização do evento, em três dias, mais de mil encontros foram realizados na Rodada de Negócios.
Pluraridade
Quando a primeira edição da Feira Música Brasil foi realizada, em 2007, havia um panorama de negócios na área da música bem diferente do que temos hoje. A maioria dos expositores nos estandes era de lojas de discos e gravadoras. Em 2009, a pluralidade da música se estende não só a estes dois ramos do mercado, mas também a instituições, órgãos de financiamento, empresas de games, telefonia móvel e portais de conteúdo.
Praticamente demonstra que a música hoje em dia está presente em todos os lugares e que qualquer empresário com um pouco mais de visão pode se inserir neste meio.
CDs e mais CDs
A cena mais comum a esta e outras feiras de negócios musicais era ver gente carregando sacolas abarrotadas de CDs. E mesmo quando se comenta tanto que o mercado de CD está acabando, a impressão que se tem nestas feiras é a de que nunca se gravou tanto disco.
Estes CDs, como mídia de armazenamento móvel pesam, ocupam espaço, e – é fato –estão se tornando obsoletos e causando um excesso de bagagem inesperado aos expositores e jornalistas visitantes. Então, enquanto os pen-drives e mp3-players não tiverem seu custo barateado ao ponto de se equivalerem aos CDs, talvez esta mídia ainda sobreviva pelo menos como cartão de visitas para os artistas.
Lacunas
A grande ausência ainda sentida na Feira Música Brasil e nas demais feiras do setor é a de representantes dos gêneros musicais que mais faturam no país: sertanejo, axé e brega-forró eletrônico. É impossível ignorar os empresários e artistas destes estilos que criam espetáculos em palcos gigantescos, lançam DVDs com uma estrutura hollywoodiana e parecem não ser tão afetados com a pirataria dos discos em camelôs, tornando-se ainda mais populares.
Acabou sendo um consenso entre os participantes de que a FMB precisava ainda ser mais representativa diante destes aspectos citados. Os headliners dos shows eram artistas popularmente conhecidos do rock, mas sentia-se a falta, mesmo que a contragosto dos críticos, de artistas como Calypso, Jorge Aragão, Claudia Leitte e Chitãozinho e Xororó, inicialmente escalados para o evento e substituídos depois sem muita explicação.
Do outro lado da cidade, no mesmo sábado em que tocaram Fresno e Strike, com um Marco Zero com menos de 15 mil pessoas (menos público do que a noite do Sepultura), o povão comparecia em peso a um megaevento privado que contou com shows de Alexandre Pires, Molejo e Chiclete com Banana, entre outros.
Downloads
Nesse contexto, a FMB ainda parece ser voltada para mapear um modelo de negócios para artistas iniciantes ou bem estruturados no país que querem dar o próximo passo rumo ao exterior. Mas sem se lamentar pela ausência dos nomes consagrados, os Painéis e Grupos de Trabalho prosseguiram refletindo sobre downloads, direitos autorais e mercado.
Temas que vão se tornando desgastantes a cada vez que entram em pauta, mas que se tornam necessários para discussão uma vez que não se chegam a soluções em comum. Entre as novidades que surgiram, uma delas foi o Fórum de DJs, capitaneadas pelos integrantes da DNA – Discotecagem Nacional Associada.
Além dos músicos, outro setor que tem feito uma cobrança mais forte junto ao Ministério da Cultura sobre a eterna questão dos Direitos Autorais é o das rádios públicas e comunitárias, que pleiteiam o fim das taxas impostas pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) e a negociação direta com os músicos.
MPB – Música Para Baixar
Em parceria com o projeto MPB – Música Para Baixar, as rádios querem poder tocar as músicas de artistas que cederão seus fonogramas gratuitamente ao projeto como forma de divulgação. Sendo assim, divulgarão melhor a música brasileira atual e evitarão pendências judiciais e financeiras. Representantes das rádios que estiveram no Recife alinharam o discurso e prometeram fazer barulho em Brasília para agilizar uma definição de tudo isso.
Verdade seja dita, a Feira Música Brasil, realmente movimentou a economia local além do aporte de R$ 4,8 milhões investidos pelo MinC e Petrobras. Os hotéis e pousadas que hospedaram os artistas, convidados e turistas estiveram bem cheios. Os restaurantes do Recife Antigo tiveram um movimento cinco vezes maior do que o de costume, abrindo até a madrugada, uma vez que o público permanecia pela área até o final dos shows.
O comércio informal deve ter garantido sua renda extra com a venda de cerveja e lanches neste carnaval fora de época. As gráficas rápidas e empresas de duplicação de CD/DVD também deve ter tido turnos extras para atender às demandas de artistas que quiseram entregar em mãos aos produtores visitantes o seu trabalho.
Depois de uma avaliação com números tão positivos, os organizadores já confirmaram a realização da Feira Música Brasil em 2010. A cidade-sede ainda será definida em votação, mas as inscrições começam em janeiro pelo site www.feiramusicabrasil.com.br.
(Jarmeson de Lima /Especial para brpress)