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Ricardo Tamura: primeiro tenor brasileiro a cantar no Metropolitan. Foto: DivulgaçãoRicardo Tamura: primeiro tenor brasileiro a cantar no Metropolitan. Foto: Divulgação

Ricardo Tamura: poderosa voz do destino

(Nova York. brpress) - Conheca a fantástica história do primeiro tenor brasileiro a se apresentar no Metropolitan, que largou uma carreira científica promissora para cantar ópera. Por Juliana Resende.

(Nova York. brpress) – Ricardo Tamura, primeiro tenor brasileiro a cantar no Metropolitan Opera House (os outros brazucas foram Bidu Sayão, nos idos anos 30, e mais recentemente Paulo Szot, que é barítono ), nunca soube que seria cantor de ópera.  Seu sucesso com a voz – que ecou no Met, no praticamente principal papel do pintor Mário Cavaradossi, amante de Floria Tosca, na ópera homônima de Puccini –, aconteceu devido a duros golpes do destino.

    Até galgar o status de revelação no ególatra e restrito mundo do canto lírico internacional, Tamura teve de convencer não só renomados professores e jurados de concursos e audições-chave, mas a si mesmo de que tinha talento para o palco e que ganharia a vida (e o mundo) na base do gogó. “Foi um processo inexplicável como todos os projetos da minha promissora carreira científica naufragaram em 18 meses”, recorda.

    Típico CDF, aluno do colégio Bandeirantes que queria ser cientista, Ricardo estudou Geofísica, Fisíca e Geologia na USP, antes de ganhar a única bolsa destinada ao Brasil para trabalhar no Massachusetts Institute of Technology (MIT) num projeto não menos competitivo e literalmente lunático de colonização da lua. “Minha carreira cientítica estava indo superbem, mas qual não foi minha decepção quando soube que o dinheiro da bolsa, enviado à Brasília, havia sido desviado e desaparecido”, conta o tenor.

Do chuveiro ao Municipal

    Desiludido, sem meios para fazer valer a oportunidade no MIT e cansado até de cantar no chuveiro, Ricardo decidiu fazer aulas de canto na recém-inaugurada escola do maestro Diogo Pacheco. “Era 1986. No dia em que saiu o Plano Cruzado, tive minha primeira aula”, lembra Ricardo. “Meu professor dizia que eu deveria virar cantor de ópera, mas eu achava aquilo impossível”, conta.

    Enquanto aprendia técnicas vocais, Ricardo passou a ouvir sinfonias e discos de música clássica. “Mas não gostava de ópera até ouvir Pavarotti”, ressalta. “Comprei vários discos dele e virei um grande fã. Cantava árias junto com os discos e continuava esgoelando no chuveiro, para horror de meus pais”, recorda. Por insistência do mestre Carlos Vial, Ricardo Tamura fez uma audiência no Teatro Municipal de São Paulo. “Para minha surpresa, fui contratado!”.

    Nessa época, Ricardo fazia mestrado em Geologia e dava aulas no Bandeirantes. “Os horários dos ensaios de óperas no Municipal eram incompatíveis e
resolvi pagar para ver mais uma vez, entrando de cabeça no mundo da música erudita”.  Ele passou a fazer audições no exterior e numa delas, em Oklahoma (EUA), caiu nas graças do diretor da casa de ópera, que o indicou para a renomada Julliard School, em NY, para estudar canto com Licia Albanese.

New York, New York

    Desta vez, Ricardo seria recusado numa audição da Julliard. Ainda não era o fim, mas o começo de uma relação quase maternal. O cantor brasileiro não entendeu nada quando, de volta ao Brasil, recebeu uma carta-convite de uma bolsa dos sonhos de pós-graduação na Julliard para estudar com Marlena Malas. “Mas acabei caindo foi nas graças de (adivinhe) Licia Albanese”,  diz Ricardo. “Além de cantora extraordinária, ela cuidou muito de mim. Me dava aulas particulares e até cozinhava para mim”.
     
    Aos 25, Ricardo Tamura havia larrgado tudo no Brasil para estudar canto em NY. “Na verdade, a Julliard School foi uma tremenda decepção”, revela ele, que não pensou duas vezes ao arrumar as malas e partir para Los Angeles, para competir no  concurso da famosa Loren Zachary Society. “Fui determinado a ser minha última audição, sem me preparar e sem dar muito valor à oportunidade”, conta. “Fiquei resfriado e estava sem voz no dia da competição. Achei que não daria para cantar, mas a ária saiu fenomenal – senti pela primeira vez que o público me carregava, uma energia fora do comum”.

    Resultado: Ricardo Tamura ganhou o concurso e foi estudar com Carlo Bergonzi, um dos maiores tenores do mundo, na Itália. Era 1995. Seis meses depois, o tenor brasileiro cantava e encantava na Ópera de Zurique. “Não foi fácil, pois no dia da audição também estava sem voz e foi muito dramático”, recorda. Em 1996, foi contratado pela Ópera de Kassel, na Alemanha. “Toda vez que parecia que ia dar errado, algo de grandioso acontecia”, diz o tenor, que ali se casou e viu sua carreira se expandindo.
   
    Em 2011,  a fundação de Licia Albanese prestou uma homenagem a Ricardo Tamura, que o levou de volta a NY, a uma audição no Metropolitan. “Não acreditei quando soube que havia entrado para o elenco  da casa em minha primeira audição, pois geralmente os cantores fazem umas seis audições até conseguirem. Eles me ofereceram para ser cover – cantor que fica de standby para cobrir cantores do elenco principal que não podem comparecer. E eis que me convidaram para essa primera apresentação, em Tosca”.

    Ricardo Tamura também está envolvido na produção de La Cavalleria Rusticana para a Ópera de Hanover, que estreia em janeiro. O tenor de 47 anos, de ascendência japonesa e síria, não tem planos de cantar no Brasil  – onde se apresentou uma única vez no 12o. Festival de Ópera de Theatro da Paz, em Belém, entre agosto e setembro deste ano, com O Navio Fantasma, de Wagner. “Gostaria de vir mais, mas faltam-me convites”, comenta Ricardo, que ainda não abriu mão da cidadania brasileira e diz acreditar piamente em destino.

(Juliana Resende/brpress)

Ricardo Tamura canta com a Sínfônica de Taubaté (SP):

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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