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Lírio Ferreira fala sobre seu novo longa-metragemLírio Ferreira fala sobre seu novo longa-metragem

Sertão de Lírio Ferreira vira mar

(brpress) - Cinesta fala por que em Sangue Azul, seu novo filme que estreia nesta quinta (04/06), coloca personagens ilhados. Por Pedro de Luna.

(brpress) – O cineasta Lírio Ferreira (de Baile Perfumado) é pernambucano com orgulho. Em seus filmes, estão lá os cenários, a história e a cultura do seu estado. Porém, em Sangue Azul, seu novo filme que estreia nesta quinta-feira (04/06),  ele deixa o sertão e segue em direção ao mar. Mas ainda assim, disposto a romper com a caretice vigente – sua marca registrada.

    Nesta entrevista à brpress, o diretor fala sobre o seu novo longa-metragem, que aborda um assunto espinhoso: incesto entre irmãos.

Sangue Azul seria mais um filme de incesto não fosse passado numa ilha. Mas nem é dito que se trata de Fernando de Noronha. Como foi filmar lá?

Lírio Ferreira – A geografia nos meus filmes é tão presente que vira quase um personagem. E em Sangue Azul escolhi uma ilha vulcânica, remota, a 550 km da costa, no meio do caminho entre o Brasil e a África. Quis contar a história deste amor que se passa neste cenário, com um circo da minha infância, bem anos 70. Noronha torna o retorno do herói mais épico, a volta do filho pródigo a um lugar que é a boca de um vulcão, com quatro mil metros de pedra submersa.

Numa cena, o Kaleb, personagem do Paulo Cesar Pereio, que é o dono do circo, faz um paralelo interessante com o filme do James Dean, quando um grupo de motociclistas invade uma pequena cidade da Califórnia. Isso sempre esteve no roteiro?

LF – Sim, desde o primeiro ou segundo tratamento. Quando eu assisti a Selvagem da Motocicleta, achei que era a mesma selvageria a chegada do circo àquela ilha. E quando o Kaleb leva o menino de volta e some, ele vira assombração. Como tem a lenda do pecado, que fecha o filme, tem a lenda da lamoa, que ronda de noite e a gente adaptou para o filme. Porque o Kaleb fazia tudo: apresentador, ilusionista, globo da morte. E aí ele pega a moto e desaparece.

Como foi colocar o Milhem Cortaz no papel de homossexual?

LF – Eu acho que estamos vivendo uma fase extremamente careta, o que não devia acontecer depois das décadas de 60 e 70, da revolução sexual e da abertura política. E regredimos para o politicamente correto. Mas não é uma provocação que o homem mais forte do mundo seja homossexual, por que ele é homossexual macho, tem um caso com o dono do circo. Escolhi o  Milhem para fazer este personagem porque é um ator extremamente generoso e corajoso.

Será que foi o mesmo que o diretor cearense Karim Ainouz pensou quando
colocou Wagner Moura, o capitão Nascimento de Tropa de Elite, como personagem homossexual em Praia do Futuro?

LF – Acho que sim. Foi um escândalo. Aí eu pego o soldado Fábio (Milhem Cortaz), do mesmo filme, e ponho ele como o personagem homossexual de Sangue Azul, e também pode ser um escândalo. Mas se o Irandir, que em é defensor dos direitos humanos em Tropa, faz um homossexual em Praia, isso soa normal. Ele pode, mas o soldado Fábio e o capitão Nascimento não podem?

E a cena do Daniel de Oliveira fazendo sexo no cartaz de Sangue Azul, pode?

LF – Queriam tirar a cena de sexo do cartaz e eu falei que era uma bobagem. Na década de 70, os cartazes que eu mais me interessavam eram os que tinham cena de sexo, dava vontade de assistir ao filme. E o sexo está muito presente em Sangue Azul. Pra que esconder? O filme não foi pensado para criar polêmica, é um filme de amor.

A mistura de mitologia grega com candomblé foi de propósito?

LF – O que dá uma vida útil maior para o cinema autoral, para os cineastas da minha geração, é não fazer filmes como se vê o cinema hoje em dia, fazendo blockbuster para um milhão de espectadores que um ano depois nem lembram que aquele filme assistiu. A gente prefere fazer filme que vai ser falado dez anos depois e, de certa maneira, soar contemporâneo.  Então tem mesmo essas pequenas vírgulas, o sangue azul do mar, a lenda do pecado e a Rosa, uma macumbeira que de certa maneira entregou o filho pra Iemanjá. Não é a toa que na última cena o Daniel se entrega ao mar. Então está tudo ali, uma mistura linda e sadia, cercada de água pra tudo que é lado.

Tem alguma pergunta que ficou na sua cabeça depois de fazer este filme?

LF – Tem, sempre tem. Inclusive Sangue Azul conversa com Árido Movie (2005), na volta do filho pródigo. Aí em Baile Perfumado (1997) também tem a natureza influenciando a psicologia dos personagens. Não estou dizendo que é uma trilogia. Talvez eu esteja fazendo o mesmo filme. Quem sabe?

(Pedro de Luna/Especial para brpress)

Leia mais sobre Sangue Azul aqui.

Leia entrevista com Daniel de Oliveira.

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