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Lou é cala boca ao mi-mi-mi de Oprah X Deneuve

(brpress) - Filme sobre vida da escritora Lou Andreas-Salomé mostra como uma mulher se libertou das imposições sexuais no século 19. Por Juliana Resende.

(brpress) – Não há melhor semana que esta, pós-Globo de Ouro da campanha ’sUp,   para a estreia de um filme como Lou (Lou Andreas-Salomé, 2016). A vida desta mulher independente, inteligente e à frente de seu tempo tem tudo para dirimir todo o mi-mi-mi que se instalou após os discursos das atrizes e celebridades americanas na premiação sob efeito das acusações de abuso sexual de mulheres sistemático em Hollywood e da resposta antipuritana das francesas.

Com a envergadura intelectual e as atitudes de Lou Andreas-Salomé (1861-1937), a dicotomia Oprah-Deneuve soa como papo do século 19 – quando Lou nasceu e se tornou uma igual na patota de homens como Nietzsche e  Freud. O primeiro se apaixonou por ela e o segundo tornou-se seu amigo e analista, abrindo-lhe as portas para o complexo (e machista) mundo da psicanálise e de seus próprios demônios. 

Sim, Salomé conseguiu conviver com estes e outros cavalheiros brilhantes, como o filósofo Paul Rée e, também à frente de seu tempo, sem se comprometer sexualmente com eles. Preferia a irmandade intelectual à relação de submissão a que o namoro e casamento fatalmente conduziam. Chocou meio mundo, a começar pelas próprias mulheres, e desafiou as mentes mais brilhantes a acompanhar sua libertação das regras e amarras que tolhiam as mulheres. O filme de Cordula Kablitz-Post mostra isso muito bem.  

A atriz Katharina Lorenz encarna bem a escritora em sua juventude madura, quando viveu com Nietzsche e Rée – na mesma casa, em Berlim, enquanto se ocupava de perseguir a perfeição intelectual e   nunca de apaixonar (no sentido de entrega e dependência), arrasando corações de filósofos e intelectuais com seu jeito audacioso e dona de si. A Lou do filme nada tem de pernóstica – ao contrário, é bem divertida. 

Sua resistência ao amor só baixa a guarda com o poeta Rainer Maria Rilke que, por ser mais jovem, inseguro e menos vaidoso que os  outros notáveis, permitia que Lou  vivesse sua vida aventureira, mesclando  intimidade e o desejo de viver sua liberdade – mesmo após o casamento de fachada com o acadêmico Friedrich Carl Andreas. 

Assim foi até seus últimos anos (vivida pela ótima Nicole Heesters), sem perder o charme e o poder de enfeitiçar os homens pelo que tinha na cabeça e não no meio das pernas, colocando-os sempre em seu devido lugar e ditando as regras: o filólogo Ernst Pfeiffer, que auxiliou Lou nos registros de suas memórias, também ficou caidinho por ela. 

A superioridade intelectual de Lou era sua arma mais poderosa e fatal contra potenciais – e reais – abusadores. Talvez seja exigir muito das mulheres (e homens) do século 19, 20 ou 21, numa sociedade que se impõe pelo sexo a qualquer custo. Mas o exemplo dessa mulher – que o mundo condenou à sombra dos nomes masculinos com quem ela conviveu, desafiou, inspirou e questionou – não deve ser esquecido e a força da inteligência jamais menosprezada. 

(Juliana Resende/brpress)

Estreia em BH, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

Assista ao trailer de Lou: 

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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