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Eventos esportivos sob crítica

(Rio de Janeiro, brpress*) - Segundo dossiê, falta de transparência, desapropriações e desrespeito ao trabalho são alguns dos problemas por trás das reformas para Copa e Olimpíadas.  

(Rio de Janeiro, brpress*) –  Com a proximidade da Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos em 2016, o Brasil e, mais particularmente, o Rio de Janeiro tem sido palco de várias transformações. Mas quem de fato lucrará com o projeto olímpico? A prefeitura declara que as reformas buscam acabar com a cidade partida e que deixarão um legado para a população, entretanto, um dossiê elaborado pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro afirma que, ao contrário, o projeto olímpico deixará um legado oculto de desigualdade e elitização da cidade.

    Essa foi uma das constatações apresentadas durante o debate Esporte, Paixão e Negócio, realizado no Clube de Engenharia. O evento marcou o lançamento do dossiê Megaeventos e Violações dos Direitos Humanos no Rio de Janeiro.
 
    O evento foi mediado por Marcelo Edmundo, da Central dos Movimentos Populares, e contou com a participação de Orlando Santos Júnior, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ, de Altair Antunes Guimarães, presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, e de Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada.
 
Impacto negativo

    A criação do dossiê do Rio de Janeiro, segundo Orlando, seguiu uma iniciativa realizada em 2011 pela Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa e das Olimpíadas, com a criação do dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil.

    O projeto de 2012 é “um trabalho de monitoramento do impacto que a cidade vem sofrendo, mas também é um trabalho de pesquisa baseada no acompanhamento lado a lado das comunidades que estão sofrendo esses impactos”, afirmou o professor durante o lançamento.
 
    Buscando resumir alguns assuntos abordados no dossiê, Orlando listou cinco áreas que estão sofrendo intervenções em função das obras para os jogos: moradia, mobilidade, trabalho, esporte e segurança pública.
 
‘Reorganização dos pobres’

    Segundo o dossiê, “estamos diante de uma política de reorganização dos pobres na cidade”, afirmou Orlando. Nesse contexto, comunidades localizadas em áreas que estão sendo valorizadas, por exemplo, Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá, estão sendo removidas”, diz.

    A publicação mostra ainda que enquanto remoções são programadas apenas para locais onde há especulação, programas do governo, como o Minha Casa Minha Vida, vêm ratificar essa ideia, uma vez que facilitam o acesso à moradia apenas na periferia da cidade. Tudo isso, segundo Orlando, vem reforçar a política de “reorganização dos pobres no espaço urbano”.
 
    O dossiê denuncia ainda que o projeto olímpico está promovendo a transferência de terras do estado para setores privados. Além disso, “há uma falta de transparência da prefeitura que não permite que a sociedade saiba o número exato de pessoas que serão removidas”, afirmou Orlando.

    O levantamento feito pelo comitê revelou várias comunidades que foram ou serão afetadas, por exemplo, Rua Quáxima (Madureira), Comunidade Arroio Pavuna (Jacarepaguá), Comunidade Restinga (Restinga), Vila Autódromo (Jacarepaguá), Ocupações da Rua do Livramento, Comunidade do Pavão-Pavãozinho, entre outras, totalizando, de forma subestimada, 7.185 famílias.

Remoção

    Altair é um dos moradores da Vila Autódromo e, portanto, está sob ameaça de remoção. Ele enfrenta essa situação pela terceira vez. Durante o evento, o presidente da Associação de Moradores contou que, aos 14 anos, quando morava na Ilha dos Caiçaras, no Leblon, foi removido para a Cidade de Deus.

    “Quando veio a Linha Amarela fui removido novamente e, por opção, fui para a Vila Autódromo”, contou. Ele lembrou que os moradores da Vila Autódromo lutam há 19 anos contra a remoção. “A vontade de remover a minha comunidade já existe antes dos megaeventos. Ela é motivada, portanto, pela especulação imobiliária e não pelos megaeventos”, afirmou Altair.
 
Transportes

    Se a prefeitura anuncia a revolução dos transportes, dados do dossiê revelam que os investimentos “não atendem aos gargalos que existem, ou seja, não estão concentrados nas áreas realmente prioritárias”, disse o professor.
 
    Já com relação ao trabalho, a pesquisa mostrou que em função da pressão para conclusão de obras com planejamentos irreais há uma precarização desse setor, o que tem sido notado pelas greves nas obras de estádios. “Outra questão é o direito ao trabalho. A prefeitura aprovou uma legislação que proíbe o camelô de atuar em um raio de 2km dos estádios”, lembrou Orlando.
 
    O professor destacou ainda as ações que estão sendo realizadas para “limpar” a cidade da população em situação de rua, que está sendo removida para abrigos.

Cara de shopping

    Sobre o esporte em si, o dossiê afirma que está em processo uma “elitização relacionada à modernização do Maracanã”. Orlando lembrou que esse estádio possui uma história, mas está sendo completamente descaracterizado e “renascerá como um shopping”. Esse processo de elitização, segundo ele, pode ser observado pela queda constante da média de público nos estádios cariocas.
 
    A segurança pública é outro ponto abordado no dossiê. “Quase todas as 18 primeiras UPPs criadas foram instaladas em áreas estratégicas”, disse o professor.
 
    “A ausência de transparência e diálogo tornou-se um padrão da preparação da cidade para megaeventos. Isso afeta também a questão orçamentária. A divulgação dos aumentos ocorre tempos depois ou muitas vezes nem são revelados”, considerou Orlando.
 
    Para o professor, o dossiê mostra que “não existe espaço para a popularização nos arranjos do projeto olímpico”.
 
Cerveja

    O mediador do evento, Marcelo Edmundo, lembrou que a Lei Geral da Copa é um outro ponto que precisa ser discutido pela sociedade. “A mídia deu um grande espaço à questão da proibição da venda de cerveja nos estádios, mas esse não é o problema. Essa é uma lei que controla o espaço urbano, limita os torcedores, tira o povo da rua”, afirmou.
 
    Raquel Rolnik lembrou que os problemas que o Rio de Janeiro enfrenta foram vivenciados por outras cidades que foram sede de jogos olímpicos, como Sidney, na Austrália, e Londres, no Reino Unido. Entretanto, nessas regiões os projetos não tiveram tanto impacto como na África do Sul e como no Brasil.

Integração

    No Rio de Janeiro, segundo Raquel, há uma ambiguidade do pertencimento à cidade, por isso o processo de desapropriação é pior. Ela lembrou que os posseiros construíram suas próprias comunidades, pois nunca haviam sido integrados à cidade.

    “Eles lutaram durante décadas por infraestrutura e reconhecimento de seus direitos. E esse direito foi concedido em Constituição”, lembrou. “Como é possível que no Brasil, onde construímos esse direito, possamos ignorá-lo?”, indagou Raquel.
 
    A relatora lembrou ainda que direito à moradia não se restringe ao direito de ter uma casa. “A moradia é a porta de entrada para todos os outros direitos. É inaceitável que uma pessoa removida vá para uma moradia pior, em termos de casa, mas também em relação a sua inserção urbana”, destacou, lembrando que a localização é, portanto, fundamental.
 
    Raquel contou que na Vila Autódromo há um projeto alternativo à remoção que foi elaborado pela comunidade e por duas universidades públicas  (Universidade Federal Fluminense-UFF e IPPUR-UFRJ). “Precisamos mostrar para o mundo que é possível um caminho alternativo”, destacou, enfatizando a necessidade da mobilização popular.

(*) Com Agência Notisa.

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