Mãe de Johnatha culpa racismo estrutural por veredicto
Para Ana Paula Oliveira, a devida condenação do PM garantiria que 'outras mães, mulheres pretas como eu, não tenham de sofrer essa dor'.
(Rio de Janeiro, brpress) – “Se eu fosse uma mãe branca, se o meu filho fosse um jovem branco, de uma classe alta, será que eu também estaria esperando 10 anos?”. A pergunta é de Ana Paula Oliveira, mãe de Johnatha de Oliveira Lima, morto aos 19 na favela de Manguinhos por um PM há uma década.
“Será que o policial que assassinou meu filho estaria solto, estaria respondendo processo em liberdade?”, insistiu Ana Paula, nesta terça-feira (05/03), quando começou o julgamento do PM, cujo homicídio foi considerado culposo (sem intenção de matar), provocando indignação e protestos de mais de 150 organizações em defesa de direitos humanos.
Exemplo
A mãe de Johnatha e familiares esperavam que o policial que o matou fosse condenado por homicídio doloso (quando há intenção de matar). “Meu filho foi assassinado!”, afirmou Ana Paula, aos prantos, após a decisão do júri, contestada pela pela acusação, que vai recorrer da sentença.
Para Ana Paula, a devida condenação do PM poderia garantir que “outras mães, outras mulheres pretas, como eu, não tenham que passar por essa dor”, disse à Agência Brasil.
“Desejo o mínimo: que a justiça seja feita e que, a partir daí, se possa garantir a vida de outros jovens como meu filho”.
Ana Paula Oliveira
Ana Paula é uma das centenas de mães de todo o Brasil que tiveram filhos assassinados pela polícia e uma das entrevistadas no documentário Agora Eu Quero Gritar (Right Now I Want to Scream, Brasil/Reino Unido, 2020), onde conta a sua história do luto à luta.
Ao longo de 10 anos, com a criação do grupo Mães de Manguinhos, que reúne familiares de vítimas de violência de estado, Ana Paula empreendeu uma investigação paralela para provar a inocência do filho, acusado de ser traficante, deu palestras pelo mundo e recentemente na ONU.
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