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A Vida na Fronteira reúne histórias de oito crianças refugiadas contadas e dirigidas por elas mesmas. Foto: DivulgaçãoA Vida na Fronteira reúne histórias de oito crianças refugiadas contadas e dirigidas por elas mesmas. Foto: Divulgação

A Vida na Fronteira redimensiona conflito na Síria e Iraque

(São Paulo, brpress) - Na semana do cerco a Mossul, filme exibido na Mostra escancara tragédia que afeta 3,7 milhões de crianças - uma em cada três no país. Por Juliana Resende.

(São Paulo, brpress) – Você ficou chocado com a imagem do menino sírioOmran Daqneesh, de 4 anos, coberto de poeira e sangue, resgatado após um bombardeio em Aleppo, na Síria, que matou seu irmão de 11 anos e feriu seriamente sua mãe. Também deve ter ficado arrasado quando viu a foto de outro menino sírio, Aylan, de 3 anos, morto afogado na praia após a travessia do Mar Egeu, entre a Grécia e a Turquia. Mas será que ouviu falar de dois outros meninos, de 10 anos, Qays e Hamza, que testemunharam, no fim de agosto, um bombardeio que destruiu sua escola e matou o amigo deles, Hasan, de 11 anos. São dessa idade os narradores – até então anônimos – do documentário A Vida Na Fronteira (2015), exibido na 40a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O filme escancara a gravidade do conflito na Síria e Iraque, unindo histórias de crianças que tiveram suas vidas marcadas pela barbárie do Estado Islâmico, o grupo terrorista originário da Al Qaeda que ocupou boa parte do Iraque e da Síria e que o exército iraquiano ajudado pelos EUA pretende encurralar na cidade de Mossul, no norte do Iraque, esta semana. A que preço e a que prazo, ninguém sabe, já que o EI ou ISIS faz civis de escudo humano em seu maior enclave do “califado”, quando não os matam, aleijam ou sequestram.

Enfrentamento

As oito crianças que escreveram e dirigiram episódios de A Vida na Fronteira vivem sob as lonas dos campos de refugiados em Kobani e Shengal, na fronteira da Síria com o Iraque, e foram escolhidas pelo cineasta curdo Bahman Ghobadi (o mesmo de Uma Bandeira Sem País, também exibido pela 40a. Mostra, sobre curdos e como o maior povo sem estado do mundo tem se virado para enfrentar os ataques do ISIS). Cada episódio é uma crua amostra da situação destas crianças, de suas famílias e das milhares de pessoas que vivem precariamente nos campos, sob os auspícios do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR). Todos já perderam quase tudo – inclusive a esperança. 

A história mais chocante é a de um menino que escapou de ficar totalmente queimado quando o ISIS ateou fogo à sua casa. Como o rosto deformado, ele vive com sua família – todos parecendo múmias, enfaixados da cabeça aos pés, devido às queimaduras. Um completo horror. No entanto, ele segue cuidando dos demais, grato por “estar se recuperando”.  É impossível não chorar assistindo aos relatos desses pré-adolescentes condenados a tanto sofrimento. A Vida na Fronteira, como todo bom documentário de guerra, redimensiona a tragédia desse conflito que já matou mais de 400 mil e dura mais de cinco anos. Mas é o primeiro feito pelos diretamente afetados e não por um “estrangeiro”, seja jornalista ou diretor de cinema. 

Mulheres 

No filme, chama atenção a quantidade de mães e meninas que relatam o sequestro de suas filhas e irmãs pelo grupo – “se tiverem sorte, elas já devem estar mortas”, diz uma mãe – e esse é o tema de Bread and Yogurt, de Sami Hossein, de 14 anos. Elas se desesperam a medida em que vão falando para as câmeras. Suplicam pela ajuda de “Obama”, pois “estão matando a todos: sunis, árabes, yázidis, curdos e turcos”. Outra história comovente é a de Mahmod, de 13 anos, e sua irmã, na busca pela casa dos pais em Kobani – que fica bem próxima aos campos, de onde é possível ver e ouvir eventuais bombardeios. A vila foi totalmente devastada pela guerra e os dois caminham pelos escombros. É quando a menina avista sua boneca no meio do entulho e acaba encontrando o pai soterrado. Tristeza é nada para descrever a fatalidade.

Mas nem tudo são lágrimas e lamentos na vida desses guerreiros. Sua coragem e franqueza são imensuráveis. Há espaço até para ironia em um dos filmes, Our Film Is Better, dirigido por Ronahi Ezaddin, de 14 anos. Ele mostra uma sessão de cinema no campo, do filme Sniper Americano (American Sniper, 2014),  drama biográfico sobre o maior franco atirador dos EUA, que serviu no Iraque, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Bradley Cooper. O filme passando dentro do filme vira uma mera paródia perto da realidade da guerra. 

E o realismo que A Vida na Fronteira impõe não deixa pedra sobre pedra. É um filme que deve ser visto por todas as plateias – especialmente de líderes políticos. A exibição com destaque no Festival de Cinema de Berlim este ano fez um dos diretores mirins escrever para a premiê Angela Merkel. Pediu que ela mandasse “câmeras em vez de armas” (as crianças trabalharam com 25 câmeras doadas pelo diretor Bahman Ghobadi). Segundo a agência da ONU para a infância, Unicef, cerca de 100 mil crianças vivem em áreas sob controle rebelde em Aleppo. Ou essa será uma geração perdida ou será seu o fardo de lutar para recuperar a vontade de acreditar num outro futuro. “De fato, os nossos jovens diretores expressaram a vontade de participar de um novo filme”, diz Ghobadi, para o site da International Documentary Association (IDA) – “sobre a reconstrução de suas vidas e a volta para suas casas”. 

(Juliana Resende/brpress)

Assista ao trailer de A Vida na Fronteira:

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Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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