Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

King Clegg decide

(Londres, brpress) - Como uma irônica vingança, partido Liberal Democrata, o que mais denunciou sistema eleitoral arcaico britânico, se converteu num “fazedor de reis” – e vice-primeiro ministro. Por Isaac Bigio.

Isaac Bigio*/Especial para brpress

(Londres, brpress) – As eleições britânicas vem revelando uma grande ironia: quem acabou decidindo que veio a ser o o novo primeiro-ministro não foi o eleitorado nem a rainha, mas Nick Clegg, o líder do Partido Liberal Democrata, feito vice primeiro-ministro. Como não houve acordo com os Trabalhistas, partido do então primeiro ministro, Gordon Brown, este acabou renunciando nesta terça-feira (11/05), cedendo o cargo ao conservador David Cameron, líder do Partido Conservador e novo primeiro ministro britânico.

    O partido de Cameron conseguiu o maior número de cadeiras no Parlamento depois das eleições gerais da semana passada e, nos últimos dias, vinha negociando uma coalizão com o terceiro colocado nas eleições, o Partido Liberal Democrata. A renúncia de Brown ocorre no momento em que o partido Liberal Democrata e o partido Conservador estão prestes a fechar um acordo para a formação do novo governo. Isso inviabilizou a permanência de Brown na liderança do governo. Na segunda-feira (10/05), Brown havia anunciado que renunciaria à liderança do Partido Trabalhista, mas permaneceria no cargo de primeiro-ministro até setembro, se o partido conseguisse fechar um acordo com os liberais-democratas.

    Lib-dems

    Este partido tem suas origens na Aliança Liberal-Democrata, que, nas eleições de 1983, obteve mais de 25% dos votos – mas apenas conseguiu eleger 3% dos parlamentares. Desde sua criação, os lib-dems sempre defenderam como uma de suas principais causas a reforma de um sistema eleitoral arcaico, no qual a Câmara Alta nunca foi eleita e a Câmara dos Comuns tem um sistema de representação uninominal ,que não reflete a porcentagem de votos a nível nacional.

    Este mecanismo eleitoral voltou a condenar o liberalismo. Apesar de, nestas eleições, terem aumentado a porcentagem de votos de 22% para 23% em relação às eleições anteriores (2005), os lib-dems viram seu número de parlamentares cair de 62 para 5, ou seja, menos de 9% dos 650 parlamentares que compõem a Câmara dos Comuns.

    Como uma estranha vingança, o partido nacional que mais denunciou este sistema arcaico se converteu num “fazedor de reis”. Nem os conservadores nem os trabalhistas conseguiram maioria absoluta. Os dois precisaram do aval de Clegg para governar. Quem tomou posse hoje das  chaves do número 10 de Downing Street (a residência do primeiro-ministro) teve de ter a benção do chefe liberal.

    Concessões

    Clegg, astutamente, disse que sua primeira opção é conversar com o partido que teve mais votos e cadeiras no parlamento (os conservadores ou “tories”). Com isso, tenta pressionar Cameron para que faça mais concessões, enquanto deixa os trabalhistas nervosos. Desta forma, tenta obter vantagens dos dois lados.

    Com os “tories” há certos acordos sobre uma reforma dos impostos e para anular a introdução de carteiras de identidade – que é um dos mantras do trabalhismo. No entanto, se colocam em pólos opostos em alguns pontos chave. Os “azuis” são os que mais reprimem a imigração, enquanto que os “amarelos” defendem uma anistia parcial aos imigrantes ilegais.

    Cameron é um euro-cético e Clegg (cujos ancestrais vieram de toda a Europa e cuja esposa e filhos são espanhóis) é pró-europeu. Os “tories” não querem mudar o atual sistema parlamentar, enquanto que os lib-dems querem que se introduza a representação proporcional e que a Câmara dos Lordes seja 100% eleita.

    O último primeiro ministro conservador, John Major, prega a conciliação com o partido que tem a pomba (da paz) como seu símbolo: fala, inclusive, em oferecer cargos nos ministérios aos liberais. No entanto, Cameron se conformaria com a possiblidade de não ser vetado por Clegg para estabelecer um governo de minoria. Os trabalhistas argumentam que eles e os liberais teriam uma mesma origem: o liberalismo, Nos anos 1980, uma dissidência de direita do trabalhismo (os social-democratas) terminariam unificando-se com o liberalismo para criar o atual Partido Liberal-Democrata.

    Atrativa mas não tanto

    A “pomba da paz ” que Brown apresenta ao partido da pomba era, no entanto, programaticamente mais atrativa: convidava-os a formar uma aliança progressiva, que busque sair da crise com um programa de estímulo ao consumo, sem o ajuste estrutural que poderia gerar violência social, neste momento de crise econômica.

    Mas, ao mesmo tempo, se comprometeria a reformar o sistema eleitoral britânico propondo, em um ano, um referendo para que a Câmara Alta seja eleita e em que o sistema uninominal permita que os eleitores possam marcar duas opções no voto, vencendo aquele que consiga mais de 50% em seu distrito (mesmo que seja na segunda opção).

    Constitucionalmente, a rainha tem a atribuição de escolher quem deverá ser seu primeiro-ministro, mas sempre delegou a escolha aos partidos: o que tem a maioria absoluta do parlamento é convidado para  encabeçar o governo de Sua Majestade, mas se não há um claro vencedor, ela espera que se esgotem as negociações e que o primeiro ministro perdedor se demita.

    Certamente, Elizabeth poderia até interromper o processo se as negociações se prolongassem indefinidamente ou se a crise econômica se agravasse mais. No entanto, quem teve a decisão foi o “rei” – ou agora “vice-rei” da Grã-Bretanha: o chefe do partido que tem a mesma cor dourada da coroa.

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate