Megamarcha britânica
(Londres, brpress) - Maior manifestação ocorrida contra governo liberal-conservador, há menos de 11 meses no poder, fortalece sindicatos e Trabalhismo. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Na tarde do último sábado (26/03), cerca de meio milhão de pessoas provenientes de todo o Reino Unido foram chegando ao principal parque do centro de Londres, o Hyde Park. Jornais liberais, como o The Guardian, e conservadores, como o Telegraph, estimam que a mobilização congregou 400 mil pessoas, ainda que os organizadores afirmem que o número ultrapassou meio milhão de manifestantes.
Estivemos em todos os cantos da manifestação e podemos dizer que a caminhada não parou das 11 da manhã até às 5 da tarde, e que se podia ver uma massiva coluna humana que chegava às imediações do palácio real de Buckinghan até a praça Picadilly.
Problemas domésticos
Trata-se da maior manifestação ocorrida neste governo liberal-conservador, que ainda não conta 11 meses no poder. A única demonstração que superou este evento, em número, neste novo milênio, foi a que se deu em 2003, contra a guerra do Iraque, na qual estima-se que aproximadamente 2 milhões de pessoas tenham percorrido o mesmo trajeto.
No entanto, esta marcha foi diferente. Ainda que alguns cartazes condenassem os bombardeios na Líbia, o eixo dos panfletos centrava-se em opor-se a toda forma de corte dos serviços públicos em educação, saúde e benefícios sociais.
Havia numerosas fotos e caricaturas questionando duas figuras que, curiosamente, não eram Tony Blair e Gordon Brown, líderes do governo trabalhista anterior, que comandaram a invasão do Iraque, mas o primeiro ministro conservador David Cameron e seu vice, o liberal Nick Clegg.
Diferentemente da grande marcha contra a guerra de 2003, havia poucos asiáticos e muçulmanos, que, naquela época, correram em massa às ruas. Menos ainda liberais, os quais eram acusados de haver traído suas promessas eleitorais de não aumentar o preço das matrículas universitárias. A imensa maioria dos manifestantes eram britânicos brancos, filiados a sindicatos.
Trabalhismo
Muitos cartazes chamavam a uma greve geral de 24 horas, algo que não ocorre neste país há décadas. Uma minoria realizou ocupações e ataques a algumas lojas. A marcha vai fortalecer os sindicatos e o Trabalhismo, que pretendem travar os planos de ajustes e rachar a coalizão governante, levando o liberalismo a perder popularidade e pressionando setores deste a questionar sua aliança com os conservadores.
O governo conservador começa mal. Carece de maioria absoluta no parlamento e é o primeiro governo da história recente do Reino Unido a ter menos popularidade que a oposição em seus primeiros meses no poder. As eleições de maio podem golpeá-lo ainda mais.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina, pela London School of Economics. Tradução de Angélica Campos. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Twitter @brpress.