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Ex-ministro das relações exteriores do Partido Trabalhista britânico (Labour), David Miliband. Yougov.co.uk

O rugido anti-Brexit de David Miliband

(Londres, brpress) - É urgente, segundo ele, “desviar o país [Reino Unido] do caminho do precipício”, rumo ao qual tem sido conduzido pelos conservadores – o partido da premiê Theresa May.

(Londres, brpress) – Ex-ministro das relações exteriores do Partido Trabalhista britânico (Labour) durante o governo de Gordon Brown (2007-2010), David Miliband fez uma defesa ácida anti-Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – neste final de semana, publicada pelo Guardian. É urgente, segundo ele, “desviar o país do caminho do precipício” rumo ao qual tem sido conduzido pelos conservadores (Tories) – o partido da premiê Theresa May.

Mesmo trabalhando fora do país como presidente e CEO da ONG International Rescue Committee (IRC), em NY, desde 2013 – quando renunciou de seu mandato como parlamentar em Westminster – Miliband, 53 (aos 29 tornou-se chefe da política do ex-premiê britânico Tony Blair – que também tem reaparecido na mídia britânica para falar sobre a situação atual do país), classificou o Brexit como “um ato sem paralelo de automutilação econômica”. 

Para ele, “delegar a May e Davis [David Davis, o secretário do Brexit] um acordo aceitável com a UE é uma completa ilusão e não apenas uma abdicação”, cabendo aos parlamentares tomarem as rédeas e tornarem o processo o menos doloroso e prejudicial possível, seja pelo voto no Parlamento ou mesmo por meio de um novo referendo sobre os termos finais do Brexit. 

‘Soft’ Brexit

Miliband declarou apoio ao chanceler conservador Philip Hammond [“nunca imaginei que iria dizer isso um dia”], que tem brigado por um “soft” Brexit (uma saída negociada da UE, especialmente no que tange a acesso ao mercado comum europeu, taxas e tarifas). No entanto, Hammond, depois de assinar  artigo conjunto com o ministro de comércio internacional Liam Fox publicado no Sunday Telegraph, vem sendo acusado de “perder a luta pelo soft Brexit” e sucumbir aos hard Brexiters. Segundo o líder do partido de centro Liberal Democrata, Vince Cable, Hammond se uniu aos “extremistas”, como o atual ministro das relações exteriores e ex-prefeito de Londres Boris Johnson. 

A falta de lideranças representativas nos rincões atuais da política britânica abre espaço para antigos nomes reaparecerem, como Tony Blair e mesmo David Miliband, que diz não se ver novamente na política – seu irmão, Ed Miliband,  renunciou à liderança do Labour após o fracasso do partido nas eleições de 2015, sendo substituído pelo atual líder, Jeremy Corbyn. Há quem aposte em Jacob Rees-Mogg, novo nome dos conservadores, como “antídoto” a Corbyn, em substituição a Theresa May. Segundo na linha sucessória Tory e tradicionalista, Rees-Mogg é ridicularizado no Parlamento como “o cara certo para o século 18”.

Movimento pluripartidário

O apelo e os argumentos de Miliband vêm ao encontro de um movimento pluripartidário anti-Brexit, que vem sendo arquitetado no parlamento britânico mediante as incertezas e as dificuldades que a saída do Reino Unido da UE vem apresentando.

James Chapman, ex-aliado de David Davis e George Osbourne (ex-chanceler do governo de coalisão do conservador David Cameron e do liberal democrata Nick Clegg), montou uma campanha online para  fundar um novo partido de centro para lutar contra o Brexit (Democratas), e há rumores de que pesos-pesados da política britânica – incluindo integrantes  do partido governista, como a  conservadora Anna Soubry – estariam prontos para se unirem a ele. 

“O Brexit foi apresentando como um remédio fácil de ser tomado para uma cura rápida e agora se mostra como uma penosa década frigindo ovos na enfermaria da legislação nacional e europeia”, comparou Miliband, num tom quase jocoso.

“Ministros não conseguem entrar em acordo entre si no roteiro para a saída e nem mesmo sobre qual veículo vai nos levar para fora da UE”.

Para o ex-político, o Brexit e a eleição de Donald Trump nos EUA “estabeleceram novos padrões de disfunção política”.  

Comparando com o desmantelamento do Obama Care (plano de saúde pública de Barack Obama que Donald Trump quer desfazer sem apresentar uma outra proposta completa no lugar), Miliband ressalta que, também no caso do Brexit, não é possível sequer defender uma alternativa sem saber qual ela seria. “São governos gananciosos, cujas políticas se baseiam não no que se é a favor, mas no que se é contra”. 

A principal questão no momento relacionada ao Brexit é a falta de consenso entre partidos e mesmo dentro dos mesmos partidos sobre as vantagens e garantias que Bruxelas ofereceria ao Reino Unido caso o país opte por permanecer no Mercado Comum Europeu mesmo não sendo mais membro da União Europeia, como é o caso da Suíça, Noruega e Liechtenstein, portanto, restringindo o livre movimento de pessoas. Miliband lembra que a UE “não é somente um grupo de países vizinhos. É uma coalisão de estados democráticos de direito, especialmente os direitos humanos”. 

(Juliana Resende/brpress, com informações do The Guardian, IRC e Wikipedia) 

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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