Gostosa sensação de favoritismo
(Johanesburgo, brpress) - Pela primeira vez nesta Copa do Mundo, os brasileiros, especialistas e torcedores incluídos, experimentaram a sensação de que o time de Dunga pode chegar lá. Mas os argentinos é que estão em clima de já ganhou na África.
(Johanesburgo, brpress) – Pela primeira vez nesta Copa do Mundo, os brasileiros, especialistas e torcedores incluídos, experimentaram a sensação de que o time de Dunga pode chegar lá. O jogo contra o Chile, além do largo resultado, mostrou a todos que a seleção é boa e tem condições de chegar à final.
Disparado, jornalistas de todo mundo indicam a Argentina como a grande favorita. Em segundo lugar vem à Alemanha, principalmente depois da goleada sobre a Inglaterra.
Com a rara exceção de bons momentos contra a Costa do Marfim, os brasileiros não poderiam mesmo reivindicar nenhuma preferência dos torcedores de outros países que acompanham a Copa.
Vencemos, mas não convencemos contra a Coréia do Norte, jogamos mal contra Portugal e precisávamos mesmo de uma exibição convincente.
Até o técnico do Chile reconheceu os méritos brasileiros. Lamentou apenas o elástico placar. Mas esqueceu-se que o árbitro inglês não deu um pênalti clamoroso sobre Lúcio alguns minutos antes do gol de Juan.
Se o Brasil tivesse caprichado um pouco mais, se Robinho, Daniel Alves e Kaká, especialmente, não tivessem firulado em alguns lances, a goleada poderia ter sido histórica.
É verdade que a Holanda é um adversário perigoso. Mas com o aumento da auto-estima dos jogadores e consciência de que podem mais, é impossível deixar de apontar o Brasil como favorito em Porto Elizabeth.
BASTIDORES
Clima de já ganhou
Torcedores argentinos estavam eufóricos no domingo (27/06) à noite, depois da vitória sobre o México. Encontrei com vários deles no Golg Reef Casino, complexo de jogos, restaurantes e diversão, próximo ao Museu do Apartheid. Eles acham que já ganharam a Copa.
Desclassificados
Porto Elizabeth é uma cidade-média da África do Sul. Todos os hotéis da cidade e região estavam bloqueados pelas agências de turismo da Europa. Com a desclassificação de Itália e França, principalmente, e de Estados Unidos, as diárias foram liberadas. Prejuízo total.
Chateado
É indisfarçável o aborrecimento de Gilberto. Ele queria ser titular e não se conteve em mostrar para todos a sua insatisfação. Realmente, Michel Bastos não estava jogando bem, como queria a torcida. Mas depois da partida contra o Chile, é melhor Gilberto ficar calado. Bastos foi bambambã.
Vazia
É visível que a Copa do Mundo está esvaziada. No IBC e no Centro de Imprensa, grande número de jornalistas já voltou para casa. Nos hotéis, como dissemos acima, também houve um grande número de cancelamentos.
É sempre assim. Seleções que atraem grandes torcedores, quando são desclassificadas, desestimulam a torcida que veio ao país da Copa.
Roubada
Os árbitros da Fifa atenderam à imprensa, mas, segundo o brasileiro Carlos Eugênio Simon, não poderiam falar sobre lances polêmicos. O que eles queriam, então? Discutir a importância do ronco do leão na floresta africana? Quem foi à Pretória perdeu a viagem.
Cervejada
Holandeses comemoraram com muita cerveja a classificação para as quartas de final. Não estamos falando dos torcedores e sim dos jogadores. É verdade! Na própria concentração, com autorização da comissão técnica, a festa teve “ liberô geral”. Questão de cultura.
TOQUE FINAL
Emoção incontida
Contei aos meus ouvintes do Debate Bola, logo depois do jogo contra o Chile, que sentia algo especial no Ellis Park. O tradicional estádio sul-africano foi palco de dois grandes acontecimentos na história desse país. E eu fiquei relembrando como isso se passou.
Nelson Mandela fez, em 1990, seu primeiro grande discurso após ser libertado da prisão de Robben Island. Quase cem mil pessoas acompanharam o evento.
Aliás, sobre isso, outro dia conversei com um negro sul-africano, advogado, hoje com 55 anos. Ele estava no Ellis Park e descreveu-me o ambiente. É impossível não chorar com essa história.
Mandela, segundo o advogado Mboto, estava tranqüilo, sereno e feliz. Não mostrava nenhum gesto de mágoa ou ressentimento.
Foi o maior acontecimento político do país.
Outro fato marcante acontecido no Ellis Park foi a final do Mundial de Rugby, em 1995. A Nova Zelândia era francamente favorita, tinha o melhor time, mas perdeu para a África do Sul, grande zebra.
Mandela já era presidente e usou o jogo para unir ainda mais brancos e negros na torcida e em torno do país. Esse jogo, inclusive, foi tema do filme Invictus, com Morgan Freeman e Matt Damon.
Brasil e Chile fizeram a última partida da Copa 2010 no Ellis Park. Nenhum jogo mundialista que lá foi realizado conseguiu marcar tanto os sul-africanos quanto esse dois acontecimentos citados acima.
(*) Márcio Bernardes é âncora da Rede Transamérica de Rádio, professor universitário e colunista da brpress. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor.