Conteúdo Premium

Achou as joias da coroa a que somente assinantes pagantes têm acesso. São histórias exclusivas e inspiradoras, um presente a quem nos apoia e incentiva.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Miguel Falabella e Marisa Orth desfilam de Caco Antibes e MagdaMiguel Falabella e Marisa Orth desfilam de Caco Antibes e Magda

‘Cala a boca, Magda’ cabe em 2019?

(São Paulo, brpress) - Atriz Marisa Orth diz que personagem de Sai de Baixo é alerta à mulher que é agredida pelo marido e parece gostar, “ainda muito comum no Brasil”. Por Juliana Resende.

(São Paulo, brpress) – Em entrevista coletiva para jornalistas no lançamento de Sai de Baixo – O Filme, em cartaz nos cinemas, a atriz Marisa Orth, que interpreta Magda, criticou o que ela considera o estereótipo da mulher burra, gostosa e conivente com as falcatruas do marido – sem se incomodar com as grosserias e agressões dele. 

Para Marisa, “é óbvio que a Magda é uma crítica à mulher imbecilóide, que não faz nada, que usa uma saia curta, e que está com um cara que rouba – mas ela não rouba!”, diz, imitando a voz e os trejeitos da personagem, “Porém, usufrui da desonestidade do marido e gosta. O Brasil está cheio de mulheres assim. Ela é violentada, agredida e continua adorando”, ironiza. 

Alerta

“Magda é um alerta para aquela mulher que apanha do marido e, de repente, cai em si – ‘Meu Deus, eu sou isso!’”, ressalta Marisa. O ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella defende Caco Antibes, o maridão. “Apanhar ela não apanha…” Marisa admite que não há agressão física entre o casal, mas que “ele grita com ela quase todo o tempo” e Magda segue gemendo e se contorcendo.

A crítica da atriz é mordaz e feita, claro, com muito humor e cada vez mais escracho, “porque o Brasil piorou – a gente está mais pobre, mais desonesto, mais ignorante…”. E, ao que parece, mais consciente dos números acachapantes de violência contra mulheres e feminicídio.

Dentro de casa

A pesquisa Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil 2° edição, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 76,4% das agressões partem de conhecidos destas mulheres  – 23,8% são cônjuges, namorados e companheiros. 

“Há 10 mil Cacos em cada esquina, com suas respectivas Magdas, no Brasil. Eu mesmo conheço vários”, afirma Falabella. Quase 60% dos cerca de dois mil entrevistados afirmaram ter visto uma mulher sendo agredida física e/ou verbalmente em 2018; 43% viram homens abordando mulheres desconhecidas nas ruas de forma agressiva, ofensiva e desrespeitosa, e 37% viram homens xingando, humilhando e/ou ameaçando companheiras ou ex-companheiras.

Num momento em que casos de violência contra a mulher vêm à tona quase que diariamente por meio da mídia, o bordão ‘Cala a boca, Magda”, que marcou o espetáculo de teatro que se transformou em série de TV de 1996 a 2002, seria agora inadequado? “Acho que o humor é uma ferramenta crítica absoluta. Você achar que o Caco e a Magda são personagens criados para fazer propaganda de gente como Caco e Magda é um raciocínio curto”, argumenta Marisa. “Estúpido”, prefere Miguel Falabella.  

Coisa de pobre 

“Então, o que eu vejo hoje são as pessoas mirando e matando o bobo da corte e não o rei”, diz Marisa. O humor de Sai de Baixo é fatalista, no sentido de que faz o brasileiro rir da própria desgraça – e se identificar com ela. “Pior, o Caco Antibes não tem conserto e detesta o politicamente correto – o que para ele é coisa de pobre”[risos].  

Sai de Baixo – O Filme também mostra outra realidade da sociedade brasileira: o machismo se perpetua de pai para filho, com a colaboração da mãe. “Nosso filho Caquinho [Rafael Canedo] é uma edição piorada do Caco, ainda mais escroque”, define Marisa. “Ele é tão ordinário e vagabundo quanto o pai”, compara Falabella. 

Os dados ‘invisíveis’ da pesquisa sobre Vitimização da Mulher do Fórum de Segurança Pública deixam claro que não é a posse de uma arma de fogo, conforme sugeriu o vereador Carlos Bolsonaro (PSL), que deixaria mais protegidas mulheres como a empresária espancada por um homem que conheceu online e que ela recebeu em casa, já que os dados ‘visíveis’ apontam que a maioria das mulheres vive com os agressores. 

Caladas

“Como a mulher vai estar armada? Colocando a arma embaixo do travesseiro?”, questiona  Samira Bueno, coordenadora da pesquisa. Ela diz ainda que 50% das vítimas se cala  – como Madga – diante da violência. “Denúncia me proteje? Essa dúvida é que faz do silêncio um cúmplice”, completa Samira, em entrevista à BandnewsFM. 

Para Samira, o maior desafio das políticas públicas para diminuir a violência contra a mulher está nos ambientes privados – e depois na segurança pública.”É garantir que essas mulheres tenham consciência de integridade física é um direito adquirido – não uma conquista – e que acessem os órgãos de proteção”.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate